Após uma semana do anúncio da suspensão das exportações de carne bovina de Mato Grosso do Sul aos Estados Unidos, especialistas no setor relatam que o preço do boi está em queda. Entretanto, a carne mais barata ainda não reflete no bolso do consumidor final.
Alberto Sérgio Capucci, vice-presidente do Sincadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul), diz que, por enquanto, o impacto na rotina dos frigoríficos do Estado é relativo. A produção segue o fluxo normal.
“Os impactos foram nos preços. Nota-se queda em torno de 5% nos preços de compra de boi e na venda de carne. Os frigoríficos já estão vendendo mais barato”, descreve.
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O preço da arroba do boi em Mato Grosso do Sul está, atualmente, em torno de R$ 296,50 à vista e R$ 300 a prazo. Em Campo Grande, a cotação também é de R$ 296,50 à vista e R$ 300 a prazo, conforme o site Notícias Agrícolas, com base nos dados da Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Na segunda-feira (21), a cotação do boi gordo era de R$ 293,90 à vista, uma variação de -0,96% comparado a sexta-feira (18). No dia 15, data do anúncio da medida, o valor à vista era de R$ 300,60.
Consumidor final ainda não sente
Lucas Miranda Oliveira, proprietário da NFL Food, unidade de Campo Grande, explica que o setor segue o ciclo da compra do pecuarista, em seguida o frigorífico, açougue até chegar ao consumidor final.
“O mercado está travado. O preço da carne está caindo, consequentemente, o arroba do boi está baixando. Nada está sendo repassado ao consumidor final. No açougue não baixa e não vai baixar. O valor da arroba depende do valor da carne no mercado interno e o preço que os grandes frigoríficos ditam ao mercado”.
Contudo, ele acredita que a carne barateada ao consumidor final é uma realidade distante. “O custo de produção de toda a cadeia aumenta. Tudo influencia na produção, desde o preço do combustível até a embalagem da carne”.
Monitoramento
Na opinião de criadores de gado do Estado, esta seria uma tentativa de manipular o valor do boi. “É uma manobra de frigoríficos para forçar criadores a vender o seu animal com preço abaixo da média”, afirma Paulo Matos, presidente da Nelore-MS (Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore).
No início da semana, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou taxas de 50% sobre todos os produtos brasileiros. Em nota, a associação de criadores de gado alega que as tarifas geraram especulações no mercado, mas seu impacto real é limitado. Em 2024, o setor exportou R$ 1,3 bilhão (ou US$ 235 milhões) de carne bovina ao país norte-americano. Isto corresponde a 49,6 mil toneladas, o que é 17,6% da exportação total do produto do ano passado.
Os frigoríficos justificaram a suspensão dizendo que os embarques enviados nesta semana chegariam ao país após 1º de agosto, quando começa o tarifaço imposto por Donald Trump. Segundo Capucci, o pedido partiu dos próprios importadores norte-americanos, que solicitaram a suspensão dos embarques devido às incertezas no comércio exterior.
Por outro lado, a Nelore-MS utiliza dados nacionais para embasar estudos técnicos, os quais, segundo a associação, apontam que, mesmo com a redução de até 70% nos embarques para o mercado norte-americano, o excedente seria de algo em torno de 1,6% da produção brasileira, insuficiente para provocar uma queda expressiva nos preços. “Falar em colapso de mercado interno é, no mínimo, má-fé”, afirma Paulo Matos, presidente da Nelore-MS.
Desvalorização da arroba
O titular da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, chama atenção para o risco de desvalorização do preço do boi.
“A gente não consegue colocar esse produto rapidamente em outro mercado internacional. A consequência seria colocar esse produto no mercado interno sul-mato-grossense, mercado interno brasileiro, o que obviamente pode haver um aumento de oferta e também uma redução de preço e, na sequência, até uma redução de preço da arroba do boi aos produtores. Por isso que é tão preocupante esse tarifaço”, explicou Verruck.
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