O dólar apresentou queda firme nesta quarta-feira, 10, e chegou a operar pontualmente abaixo do nível técnico de R$ 5,40. Segundo operadores, o real acompanhou a valorização de divisas emergentes, em especial ligadas a commodities, após leitura mais fraca da inflação ao produtor nos Estados Unidos.
Também teria contribuído para a baixa do dólar a redução de temores de novas sanções americanas ao Brasil no curto prazo, após a divergência aberta pelo ministro Luiz Fux no julgamento do ex-presidente da República Jair Bolsonaro na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).
A deflação de 0,11% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em agosto, menor que a mediana de Projeções Broadcast (-0,16%), não teve impacto relevante na formação da taxa de câmbio, embora tenha esfriado as apostas em corte da taxa básica de juros (Selic) em dezembro.
Com mínima de R$ 5,3991, registrada no início da tarde, o dólar à vista fechou em queda de 0,54%, a R$ 5,4069. A desvalorização em setembro é de 0,28%, após recuo de 3,19% em agosto. No ano, as perdas somam 12,51%, o que faz do real a divisa latino-americana de melhor desempenho em 2025.
Em voto marcado por indiretas ao ministro Alexandre de Moraes, Fux afirmou que o julgamento de Bolsonaro não é da alçada do Supremo, porque os fatos ocorreram quando o político já havia deixado a presidência. Além disso, acolheu o argumento de cerceamento de defesa. O ministro defendeu a “nulidade absoluta” do processo.
O gestor Eduardo Aun, da AZ Quest, diz que, embora considere certa a condenação de Bolsonaro, o mercado acompanha a possibilidade de recursos que posterguem a decisão definitiva. Ao defender que o STF não é o palco para julgar o ex-presidente, Fux pode ter aberto espaço para manobras da defesa.
“O tempo para a condenação é uma variável importante. Se a decisão for postergada, com a equipe de Bolsonaro entrando com recurso, uma eventual resposta dos EUA com novas sanções também vai demorar mais”, afirma Aun, ressaltando que as apostas na corrida eleitoral de 2026 também permeiam os negócios.
“O nome de Tarcísio aparece com força. O mercado está de olho em uma mudança na política fiscal em caso de uma vitória da oposição. Fatos que fortaleçam a direita tendem a impulsionar os ativos domésticos”, diz o gestor, em referência ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
À tarde, o Banco Central (BC) informou que o fluxo cambial está positivo em US$ 277 milhões no mês até o dia 5, com entrada líquida de US$ 743 milhões via comércio exterior e saída líquida de US$ 466 milhões pelo canal financeiro. No ano, até 5 de setembro, o fluxo total é negativo em US$ 16,627 bilhões, devido à retirada líquida de US$ 53,480 bilhões do lado financeiro.
“O fluxo está ruim desde o começo do ano, mas o carrego é muito elevado e o dólar se enfraquece globalmente. Pode cair ainda mais com uma redução dos juros nos EUA”, afirma Aun, que vê possibilidade de dois ou três cortes pelo Federal Reserve até dezembro.
No exterior, o índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de seis divisas fortes, rondava a estabilidade no fim da tarde, na casa dos 97,800 pontos, após mínima de 97,595 pontos pela manhã
O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) caiu 0,1% em agosto, ante expectativa de alta de 0,4%. Na comparação anual, houve avanço de 2,6%, abaixo da projeção de 3,3%. O núcleo do PPI – que exclui itens mais voláteis – também surpreendeu ao registrar queda de 0,1% na margem, quando se estimava aumento de 0,3%.
Investidores aguardam a divulgação na quinta-feira, 11, da inflação ao consumidor nos EUA em agosto para calibrar as apostas em torno da magnitude de afrouxamento monetário no país daqui até o fim do ano. Já é dado como certo que o Federal Reserve vai cortar a taxa básica no próximo dia 17, em pelo menos 25 pontos-base.