Com histórias de coragem, liderança e transformação, mais de 300 mulheres que atuam no campo, entre empreendedoras rurais, trabalhadoras do agro e estudantes, se reuniram no evento “O Agro por Elas: Comunicação, Sucessão e Gestão no Campo”, realizado pelo Sebrae/MS em parceria com o Sindicato Rural de Dourados, durante a 59ª Expoagro, na quarta-feira (15). O encontro celebrou o protagonismo feminino no agronegócio sul-mato-grossense, destacando vozes que têm feito a diferença no setor.
Entre as lideranças de destaque no evento, esteve a produtora rural, empresária e comunicadora Camila Telles, referência nacional por sua atuação e defesa do agro. Sócia-fundadora da Hortaria e CEO da FarmCom, agência de comunicação especializada no agronegócio, Camila utilizou seus conhecimentos em Relações Públicas e sua especialização em Marketing Estratégico para abordar o tema “Mulheres do campo, liderança que transforma o agro”. Na ocasião, ela destacou a importância de que pessoas ligadas ao setor valorizem e divulguem suas próprias histórias.
“Nunca se produziu tanto alimento e se contou tão pouco essa história. O agro é protagonista, mas por vezes perde a narrativa por falta de contexto. Dizer que ‘o boi é vilão climático’, sem citar sistemas de integração, manejo de pastagem e biogás, por exemplo, é distorção. Mas as mulheres têm potencial para virar esse jogo, porque são voz ativa nas redes, nas universidades e no agronegócio. Estão ocupando espaços de gestão com competência e qualificação. Precisamos mostrar o agro do Brasil como ele é: essencial, inovador e sustentável”, disse.
A ascensão feminina no agronegócio é uma realidade no sul do estado. Para dar visibilidade à trajetória de mulheres, o evento promoveu o painel “Gestão com Propósito: A voz delas na sucessão do agro”. A roda de conversa trouxe relatos inspiradores de três mulheres que conquistaram destaque à frente de suas propriedades: Edy Tarrafel, primeira mulher a comandar o Sindicato Rural de Ivinhema e uma das 100 mulheres mais influentes do agro segundo a Forbes; Gabrielle Terra Souza Netto, responsável pela gestão de pessoas e projetos do Grupo Água Tirada; e Lika Ferri, produtora de Dourados que assumiu a administração da fazenda da família após o falecimento do pai. A mediação ficou a cargo de Carla Dutra de Aquino, doutora em Agronomia e embaixadora do Clube AgroMulher.
A necessidade de dar continuidade aos negócios da família foi o que inicialmente motivou tanto Edy quanto Lika a assumirem cargos de liderança, uma na Fazenda Naraedy, em Ivinhema, e a outra nas Fazendas Ibirubá e Recreio, em Dourados. Embora suas jornadas tenham começado em momentos de luto, ambas decidiram permanecer no campo como forma de honrar o legado familiar e por amor ao que fazem.
“A inovação na gestão veio como resposta a um dos maiores desafios que enfrentei quando assumi, há 7 anos, que foi o de trocar os maquinários ultrapassados. A sucessão não foi preparada com antecedência, então uma mensagem que quero deixar é que, além de não ter medo de inovar, é importante ter resiliência, consciência de que a mulher pode estar em qualquer lugar, não ter vergonha, fazer perguntas e buscar conhecimento. Mesmo que neste mundo do agro os homens ainda predominem, hoje percebo que as mulheres têm mais voz e são mais respeitadas”, afirmou Lika.
O avanço da presença feminina em cargos de liderança também se reflete nas entidades de classe. Edy Tarrafel se tornou, em 2014, a primeira mulher a presidir o Sindicato Rural de Ivinhema, após 12 anos de atuação em diferentes funções na diretoria. Pecuarista, ela conta que conheceu o sindicato como produtora rural e, ao se identificar com a entidade, trilhou um caminho natural até a presidência — cargo para o qual foi eleita por unanimidade. Durante sua gestão, reeleita em 2017, destacou-se a promoção de capacitações e projetos voltados à qualificação. Em 2015, Edy também passou a integrar a diretoria da da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul).
“Eu fui escolhida para a presidência do sindicato para dar continuidade a um trabalho que estávamos fazendo. Foi um curso natural. E depois de presidente: ‘bora trabalhar mais ainda’. Desenvolvemos muitos projetos e tivemos muitas conquistas, sem perder a habilidade de agregar. Acredito que o trabalho se fortalece com a participação conjunta de homens e mulheres”, afirmou, comemorando o crescimento da representatividade feminina na atual diretoria, que hoje conta com quatro mulheres.
Representante da nova geração do setor, Gabrielle Terra Souza Netto assumiu, de forma planejada, a função de gerente de pessoas, cultura e projetos no Grupo Água Tirada, sediado em Maracaju, após se formar em Administração. Ela destacou a contribuição das mulheres na gestão do agronegócio, especialmente pela sensibilidade no cuidado com as famílias dos colegas de equipe. Segundo Gabrielle, a presença feminina agrega organização, atenção aos detalhes e uma capacidade diferenciada de relacionamento interpessoal. “Encorajo todas as mulheres que tiverem a oportunidade a integrarem o agronegócio e contribuírem com suas competências para o fortalecimento do setor”, declarou.
A programação do evento incentivou o fortalecimento da presença feminina no campo e estimulou a troca de experiências em um elo fundamental da economia sul-mato-grossense. Para a analista-técnica do Sebrae/MS, Maria Isabel Schierholt, a mobilização teve resposta muito positiva. “A participação expressiva e engajada das mulheres no evento confirmou o quanto é necessário e urgente criar espaços de troca de experiências e valorização da presença feminina no campo. Essa mobilização mostra que as mulheres estão cada vez mais preparadas, ocupando posições estratégicas e transformando o agro no MS com sensibilidade, competência e visão de futuro”, avaliou.
A produtora rural Camila Corodetti, da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, de Nova Andradina, se reconheceu nas falas das palestrantes. “Enquanto produtora, mulher e sucessora, me senti representada em todas as falas delas. Minha história é a de ser filha única e também sucessora, que deixou uma carreira consolidada como doutora em Matemática e Economia, atuando na Capital de MS, para voltar à fazenda e cuidar do negócio da família. Aqui, senti que minha história foi acolhida. Apesar de ter sido criada dentro do agro, a sucessão trouxe muitos desafios, porque não fomos treinadas pelos nossos pais para isso. Mas o que nos dá forças é o amor que temos pela terra, a persistência e a resiliência”, contou.
Assim como Camila, a produtora rural Micheli Prevedello, da Fazenda Estrela do Oriente, de Itaporã, valorizou a oportunidade de conhecer as trajetórias de cada painelista. “Foi muito interessante elas contarem suas vivências e o que estão fazendo, porque isso refletiu muito do que nós passamos no dia a dia. O agro é um ramo no qual a mulher não estava inserida, e agora está vindo em massa. Por isso, precisamos nos unir, compartilhar nosso cotidiano, aprender juntas e lutar pelo nosso espaço”, defendeu.
Com uma percepção semelhante, a produtora rural Leila Nishimura, da Fazenda Pulador, também de Itaporã, destacou a visibilidade proporcionada pelo evento e saiu inspirada. “Realizar um evento com foco nas mulheres foi muito positivo, porque agora, na atualidade, a mulher começou a ser vista no mercado de trabalho do agro. O evento contribuiu para ampliar as perspectivas, permitindo que nos espelhemos nas palestrantes, que são muito competentes e já estão há mais tempo inseridas no setor. Esse é um ponto positivo, especialmente para quem, como eu, está iniciando na área”, afirmou.
Saiba mais sobre as iniciativas realizadas pelo Sebrae para o protagonismo feminino nos negócios, por meio do contato pela Central de Relacionamento, no telefone 0800 570 0800 ou no site: ms.sebrae.com.br .
