Do ralo ao lucro: descarte correto de óleo preserva natureza e vira fonte de renda em Campo Grande
Um litro de óleo descartado de maneira inadequada pode contaminar 25 mil litros de água
Lethycia Anjos –
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Contaminação do solo, entupimento da rede de esgoto, esses são só alguns dos inúmeros danos gerados pelo descarte inadequado de óleo de cozinha. Seja por falta de informação ou negligência ambiental, os brasileiros despejam aproximadamente 1 bilhão de litros de óleo de forma inadequada a cada ano, conforme levantamento da Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais).
Prática comum entre a população, ao ser despejado no ralo da pia, o óleo usado gera uma série de danos ambientais, como a impermeabilização e a contaminação do solo, poluição dos lençóis freáticos, comprometimento de ecossistemas, além de afetar diretamente diversos espécimes e seus habitats.
Mara Calvis, educadora ambiental da Solurb, empresa responsável pela coleta seletiva em Campo Grande, explica que o descarte inadequado pode resultar, inclusive, na extinção da biodiversidade local.
“É comum as pessoas despejarem o óleo no ralo, isso pode resultar em entupimento nos canos e obstrução da caixa de gordura devido às suas substâncias insolúveis. Além disso, pode atrair vetores, como ratos, baratas e escorpiões e levar à morte de toda a biodiversidade quando despejado em córregos, rios e mares”, enfatiza.
‘De Olho no Óleo’
Um litro de óleo pode contaminar 25 mil litros de água. Isso porque suas substâncias não se dissolvem, e, quando despejadas nos cursos d’água, geram descontrole do oxigênio e a morte de peixes e outras espécies.
Para reverter esse cenário, a Solurb em parceria com a Águas Guariroba criou o projeto de ‘De Olho no Óleo’, que visa promover a conscientização da população e evitar danos ao meio ambiente através de coleta e reciclagem do óleo usado.
“Por meio do projeto, a concessionaria viu não só um meio de nos ajudar a preservar a rede de esgoto, mas a conscientizar a população e ensinar a fazer o descarte correto desse óleo”, explica a coordenadora de responsabilidade social da Águas Guariroba, Bia Rodrigues.
Conforme a Águas Guariroba, desde a criação do projeto, em 2010, mais de 300 mil litros que iriam parar na rede de esgoto foram recolhidos e destinados ao descarte correto.
Como fazer o descarte correto?
Mas, afinal, qual o procedimento correto na hora de descartar o óleo usado? Para estar apto a reciclagem, é importante seguir alguns passos:
- Deixe o óleo usado esfriar;
- Coloque-o em uma garrafa pet, no máximo até a metade.
- Tire o ar de dentro e feche bem a garrafa.
Em Campo Grande há diversos locais específicos para o descarte de óleo, como os mais de 200 LEVs (Locais de entrega voluntária) e os cinco Ecopontos distribuídos pela cidade (Panamá, Noroeste, Nova Lima, União e Moreninha).
Outra forma de descarte, ainda desconhecida pela maior parte da população, é a coleta seletiva porta a porta, responsável por 72% do óleo coletado no programa. A coleta porta a porta é semelhante à coleta domiciliar convencional, porém, os veículos coletores percorrem as residências em dias e horários específicos que não coincidam com a coleta convencional.
“Basta colocar o óleo em garrafas PETs e deixar em frente a residência. É importante seguir esse passo, pois em lata ou vidro pode quebrar e contaminar os demais recicláveis. Pode ser metade da garrafa, aperta para retirar o ar e fechar bem”, explica Bia Rodrigues.
‘Lixo’ se transforma em fonte de renda e emancipação
Muito além da preservação ambiental, o descarte correto de óleo tem se tornado um aliado importante na geração de renda e empoderamento de mulheres em situação de vulnerabilidade social em Campo Grande.
“Nosso principal objetivo é fornecer capacitação e uma nova fonte de renda para mulheres de baixa renda, por isso damos prioridade a bairros mais carentes que possuam rede de esgoto”, explica Bia Rodrigues.
Por meio do projeto ‘Bolha de Sabão’, o óleo usado, que costumava ser considerado lixo, adquire um novo significado que vai além das questões ambientais. Segundo Bia Rodrigues, houve casos de mulheres que conseguiram romper o ciclo de violência doméstica graças à venda de sabão produzido nas oficinas.
“Tivemos uma aluna que conseguiu deixar sua casa após participar das oficinas. Ela sofria violência doméstica, mas como era dependente do cônjuge, não conseguia sair. Após participar das oficinas, ela se tornou independente, conseguiu uma fonte de renda e deixou a casa”, relata.
Além da produção de sabão, após passar pelo processo de filtragem o óleo usado pode ser reaproveitado na fabricação de biodiesel, ração animal e até mesmo tinta.
O biodiesel é um biocombustível líquido considerado uma fonte de energia renovável, que substitui o uso de combustíveis fósseis. Produzido a partir de fontes vegetais ou animais, ele é um produto natural e biodegradável com baixo teor poluente.
Aprenda a fazer sabão com óleo usado:
O passo a passo para transformar o óleo em sabão é simples e pode ser feito em casa, mas antes de começar, separe alguns equipamentos de segurança e proteção como luvas, máscara e óculos.
Veja abaixo os materiais necessários de como fazer sabão caseiro com óleo:
- 5 litros de óleo de cozinha usado (Lembre-se de coar);
- 1 kg de soda cáustica; 5 litros de água fervida;
- Um balde com material grosso e resistente;
- Para moldar o sabão, reserve bandejas de plástico, assadeiras de metal ou diferentes recipientes forrados com papel manteiga;
Passo a Passo:
No balde você deverá colocar a soda cáustica e adicionar lentamente a água fervendo. Depois, mexa até a soda cáustica dissolver por completo. Em seguida, junte o óleo e continue com movimentos contínuos na mesma direção para que o sabão caseiro não coalhe.
Faça esse processo até a consistência ficar pastosa para despejar nos moldes. Deixe o produto secar por 24 horas para você conseguir cortar do tamanho desejado e desinformar. Dica: Como fazer sabão caseiro com óleo utiliza soda cáustica, você precisa evitar o excesso desse produto para não prejudicar a sua pele.
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