Do caderninho para a vida real: veja como comprar no mercado está até 1.231% mais caro em Campo Grande
Jornal Midiamax refez a compra após 7 anos e comparou o quanto subiram alguns itens da cesta básica
Graziela Rezende –
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A confeiteira Fernanda Soares, de 31 anos, era tão organizada que, nos anos de 2014 e 2015, deixava tudo anotadinho no caderno. Colava as notas fiscais e do lado escrevia quantos doces confeccionava, só que na compra sempre incluía itens da cesta básica: óleo, macarrão, açúcar, entre outros. Sete anos depois, o Jornal Midiamax foi até o mesmo mercado em Campo Grande e refez a compra, encontrando produto até 1.231% mais caro.
O macarrão, em meados de 2015, custava R$ 0,69 o pacote de 500g. Nesta semana, a mesma marca foi encontrada por R$ 5,89, com aumento de 753%, além de outros formatos do mesmo item, ao custo de R$ 9,19, contabilizando aumento de 1.231%. O açúcar, outro item primordial na vida do brasileiro, teve 200% de aumento, saindo de R$ 2,99 para R$ 8,99.
Na compra, o leite também mais que dobrou: saiu de R$ 2,09 para R$ 4,99, sendo que o valor estava na oferta, um aumento de 138%. A margarina de 500 gramas, que custava R$ 4,59 agora está R$ 7,99, reajuste de 74% no preço. O caldo de carne, muito usado para temperar alimentos, também subiu 55%: de R$ 1,28 para R$ 1,99.
Quem for fazer um docinho, também vai perceber o reajuste dos valores. O leite condensado, por exemplo, saiu de R$ 2,59 para R$ 4,99, ou seja, acréscimo de 92,6% no valor. Já o coco ralado saltou de R$ 3,65 para R$ 6,45, reajuste de 76,7%. O ovomaltine subiu de R$ 5,35 para R$ 11,89, contabilizando aumento de 122%.
A reportagem também levou uma nota fiscal mais recente, do ano de 2020. O óleo, que custava R$ 7,19 naquele ano, foi encontrado pela reportagem, no mesmo estabelecimento comercial, por R$ 9,45, um reajuste de cerca de 30%. Este item, no entanto, ultrapassa o valor de R$ 10 em outros mercados da cidade.
Culpa de quem? Da inflação?
Segundo o economista Renato Gomes, não só Campo Grande como todo o país tem passado pelo que ele chama de “um problema inflacionário”. Dessa forma, o índice oficial de inflação, que abrange toda a economia, aponta uma inflação atual de 8% ao ano. A cesta básica, no entanto, que é um subitem, o item dos alimentos, dentro desse índice, aponta uma alta de 20% ao ano.
“Dentro do indicador oficial, o item dos alimentos tem uma velocidade de crescimento, de preços, muito mais acelerada do que o indicador oficial mais abrangente. As principais razões pelas quais isso tem acontecido são algumas: expansão da política monetária dos governos, o que significa que os bancos centrais estão imprimindo mais dinheiro para compensar as medidas restritivas dos últimos anos, além do acréscimo de dinheiro em circulação na economia”, explicou o economista.
Tais medidas, ainda de acordo com Gomes, prejudicam a inflação e não permitem que o mercado se ajuste às novas condições de oferta e demanda. “Com mais dinheiro na praça, a economia vai remarcando os preços para cima”, argumentou.
E a guerra, atrapalha mesmo nos preços?
De acordo com o economista, o conflito entre Rússia e Ucrânia, no leste europeu, impõe sim dificuldades e impactam nos preços do mercado. “O mundo inteiro impõe sanções à Rússia e a Ucrânia tem dificuldade em exportar mercadorias. Estes dois países são grandes exportadores de matérias-primas básicas agrícolas, que fazem parte da cadeia produtiva de muitos alimentos, então, pelo fato de haver uma diminuição na oferta desses itens, vinda desses dois países, toda a cadeia alimentar agrícola do mundo sofre essa restrição de oferta”, analisou.
E o que a alta do preço do petróleo tem a ver com isso?
No caso do preço do petróleo, com reajuste em todo o mundo, de 30% este ano, também afeta todo o setor de transportes. “Neste caso, os fretes ocorrem tanto entre os países como dentro dos países, então, o frete é muito afetado pela alta do preço do petróleo, que é a base do combustível do setor de transporte”, explicou, ressaltando que isso também aumenta o preço dos produtos transportados nestes fretes.
Existe algum fator positivo na inflação?
O nome inflação, que causa aumento dos preços de bens e serviços, já causa temor na maioria das pessoas só de ouvir falar. Só que os períodos de inflação nunca acontecem por um fator isolado. Ou seja, se a matéria-prima, por exemplo, fica mais cara, ou a própria mão de obra, há uma inflação nos custos e isso vai acarretar aumento de produtos. Mas, de alguma forma, existe algum fator positivo na inflação?
“Dois fatores positivos, que podem trazer uma esperança, são: a melhora da situação fiscal. O Brasil, nos últimos meses e no último ano, conseguiu um superávit primário, ou seja, um superávit das contas públicas antes de considerar o pagamento de juros da dívida pública, então, isso é muito positivo porque não estávamos conseguindo empreender um superávit há muito tempo”, falou o economista.
Dessa forma, havendo o superávit, Renato alega que mais investidores estrangeiros olham para o Brasil com “bons olhos”. “Eles olham com mais apetite para tomar risco no país e isso pode atrair investimentos, fazer o dólar baixar e o dólar baixando tem reflexo muito importante em toda a cadeia inflacionária, em todas as economias. Nossa economia é relativamente aberta, então, uma baixa do dólar faz com que os preços diminuam. A melhora da situação fiscal é um fato que está acontecendo, de trajetória positiva e de diminuição da relação da dívida PIB [Produto Interno Bruto]”, comentou.
No período da covid, conforme o economista, a relação dívida PIB cresceu de 74 para 88 pontos. Agora, diminuiu de 88 para 80. “Estamos em trajetória de queda, o que é muito positivo, então, isso é uma esperança para que a gente tenha um combate à inflação mais positivo. Tecnicamente, esses são dois fatores que podem ser apontados como positivos e que contribuem para o combate à inflação”, finalizou.
Veja o economista explicando sobre a inflação:
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