Pecuária evolui, usa menos terras e abre espaço para florestas de eucalipto
Estado deixou de ter o maior rebanho do país, mas elevou produção em área menor; indústria de papel de celulose incentivou ‘boom’ da silvicultura
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Os últimos 20 anos permitiram uma transformação na paisagem de Mato Grosso do Sul facilmente notada. Pouco a pouco, os grandes campos ocupados por uma pecuária extensiva de corte começaram a ser “fechados” por uma cortina vegetal. O boi parecia se esconder atrás dos eucaliptos: enquanto as pastagens de manejo sumiram, a silvicultura prosperava em alta velocidade.
Não há exagero nessa ilustração. É bem verdade que as pastagens ainda ocupam um espaço considerável do Estado –dos pouco mais de 357 mil km² de Mato Grosso do Sul, 149.909 km² são considerados áreas de pastagem de manejo (ou 41,9% do território)–, contudo, essa correção encolheu 6.443 km² entre 2000 e 2018.
Nesse mesmo período, a silvicultura (a exploração das “florestas plantadas”) saiu de 3.169 km² para 10.714 km², um avanço de 238%. A área ocupada pela cultura supera todo o território do município de Três Lagoas (10.217 km²), principal polo de uma indústria que se alimenta dos eucaliptos –a de papel e celulose.
Até o início deste século, a pecuária em Mato Grosso do Sul se notabilizava como pioneira e, literalmente, a maior do Brasil. O Estado se vangloriava de ter o maior rebanho bovino, desenvolvido no modelo extensivo e à frente de projetos de melhoramento genético.
Quase 20 anos depois, os números são outros –temos o quarto maior rebanho do país–, mas a bovinocultura passou por uma transformação na qual aprendeu a render mais em menos áreas.
“A atividade pecuária vem passando por um processo de tecnificação, tornando-se cada vez mais intensiva para produzir mais carne e leite sobre menores áreas”, destacou, em nota ao Jornal Midiamax, a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul). Como exemplo, a entidade afirma que, embora o rebanho tenha encolhido 14%, a produção cresceu 4,5%, reflexo de que o sistema de produção está cada vez mais eficiente”.
“Esse é o caminho da sustentabilidade que Mato Grosso do Sul tem trilhado, sendo referência em produção à pasto e em sistemas de ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), prosseguiu a entidade.
Em 2016, conforme dados divulgados pela própria Famasul, a produção de carne bovina de Mato Grosso do Sul alcançou 784 mil toneladas. No ano seguinte, chegou a 813 mil toneladas –e a 835 mil em 2018, último ano do estudo do IBGE. Já em 2019, a federação anunciou a produção de 914 mil toneladas de carne bovina no Estado.
Crescimento das florestas acelerou em MS a partir de 2010, indica IBGE
A expansão das florestas plantadas ocorreu de forma constante a partir de 2010, quando houve um “boom” que se tornou constante na ocupação de espaços, ao mesmo tempo em que pululavam projetos para a construção de mais fábricas de papel e celulose ou de MDF (como recentemente inaugurada em Água Clara).
Conforme o IBGE, de 3.169 km² em 2000, a área passou a 4.025 em 2010, um ano depois da inauguração da planta da Fibria, hoje comandada pela Suzano. Em 2012, já eram 6.127 km², incremento superior a 50% –ano de inauguração da fábrica da Eldorado Papel e Celulose. Em 2014, o Estado tinha 8.714 km² de florestas plantadas, atingindo 9.424 km² em 2016 e 10.714 em 2018.
As árvores para abastecer a nova indústria, logo, começaram a ficar mais distantes do polo fabril –chegando ao entorno de Campo Grande, a 338 km de Três Lagoas.
Conforme a atualização mais recente do Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do Brasil, com dados entre 2000 e 2018, houve uma redução considerável da vegetação campestre (de 102.300 km² para 89.853 km², perda de 12,1% ou 12.447 km²), no mesmo ritmo em que crescia a silvicultura.
“De fato, o nosso Estado apresenta um grande crescimento na área de silvicultura nos últimos anos”, afirmou Angélica Guerra, doutora em Ecologia e Conservação e bióloga do Instituto do Homem Pantaneiro. Contudo, ela afirma ainda ser complexo abordar os efeitos e consequências do aumento sobre a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos.
“Áreas de silvicultura contribuem para o armazenamento e sequestro de carbono, no entanto, essas áreas podem afetam a disponibilidade de água e a biodiversidade local. Infelizmente não temos estudos sobre essas consequências no nosso Estado”, pontuou. Angélica também destacou que a grande maioria das conversões de áreas –como da pecuária para o plantio de florestas– “é legal”, com a conversão de espaços desmatados para outros usos “sem perda de vegetação nativa”.
Sobre este tema, a Famasul pondera que “a expansão das áreas de eucalipto se dá, em sua maioria, pela compra de áreas pelas indústrias de celulose e pelo arrendamento de áreas de produtores por essas mesmas indústrias. Mato Grosso do Sul hoje tem a 2ª maior área de eucalipto do Brasil, tendo quintuplicado sua área em 10 anos”.
É fato, porém, que a silvicultura não foi a única a se aproveitar de terras antes dedicadas à pecuária. A agricultura propriamente dita, sobretudo na produção de cereais, leguminosas e oleaginosas, bem como a indústria da cana-de-açúcar, também se expandiram nos últimos 18 anos. No caso das terras agricultáveis, o crescimento chegou a quase 60%.
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