Nova nota de R$ 200 revive ‘fantasma da inflação’, mas devemos ter esse temor?
Dos Contos de Réis ao Plano Real, nove moedas já circularam pelo Brasil, isso desde o período colonial até a atualidade. Desde então, grandes crises inflacionárias e até equiparação ao dólar americano, fizeram parte da nossa história econômica. Com isso, fica a pergunta: o que, afinal, a nova nota de R$ 200 vai desencadear na […]
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Dos Contos de Réis ao Plano Real, nove moedas já circularam pelo Brasil, isso desde o período colonial até a atualidade. Desde então, grandes crises inflacionárias e até equiparação ao dólar americano, fizeram parte da nossa história econômica. Com isso, fica a pergunta: o que, afinal, a nova nota de R$ 200 vai desencadear na economia?
A princípio, o temor dos campo-grandenses é que a nova nota de R$200 possa dificultar o troco. Mas, há aquele receio de que uma nova nota com valor tão alto possa influenciar num eventual descontrole da inflação. Será que isso se sustenta ou se trata de mais uma da série “fake news contadas a tanto tempo que se tornaram quase verdade”? É o que fomos atrás de saber.
Para Mateus Abrita, professor da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e doutor em economia, é preciso compreender o que é inflação, para contextualizar o risco. De um modo simplificado, inflação é o nome dado ao aumento contínuo e generalizado dos preços de bens e serviços. “Sabe quando você vai as compras e parece que tudo está cada vez mais caro? Pois é, isto é fruto da inflação”, descreve.
Conforme o pesquisador, os riscos de inflação em determinada economia são muitos: eles podem prejudicar desde os estratos mais pobres, com perda do poder de compra, ao planejamento das empresas. Esses riscos, porém, não são decorrentes da implantação da nota, mas de outros fatores.. “No Brasil de curto prazo este risco é baixíssimo, alias estamos tendo deflação, o oposto de inflação, em alguns setores, por conta da pandemia. A previsão do mercado para inflação oficial IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) no Brasil neste ano está em 1,77% um dos valores mais baixos registrados”, explicou.
Em um modelo bem simplificado, o economista cria uma situação hipotética para analisar as circunstâncias: “Suponhamos que existam R$ 1 milhão de reais em circulação. Uma coisa é o Banco Central elevar a quantidade de moeda de R$ 1 milhão para R$ 2 milhões de reais – que pode levar a uma inflação. Mas, se o mesmo R$ 1 milhão de reais estiver circulando em notas R$ 10,00 R$ 50,00 R$100,00 ou agora R$ 200,00 reais, não irá necessariamente causa inflação”, detalha o professor.
“Uma coisa é aumentar o quanto de dinheiro está em circulação, explicado no primeiro exemplo. Outra coisa é como a quantidade que está girando, é distribuída em notas”, finalizou.
Crise no Plano Real?
Somente a inserção de uma nota no valor de R$ 200 pode ocasionar uma crise no Plano Real? Abrita explica que nossa moeda sofreu, sim, uma grande diminuição de valor, referente a moedas como Euro e Dólar. Entre os motivos, esta o efeito flight to safety, prática muito comum em tempos de instabilidade financeira.
Basicamente, isso significa que investidores trocam investimentos de risco pelos mais seguros, como a venda de aplicações arriscadas no Brasil, e a posterior compra de títulos semelhantes em cenários mais estáveis, como ouro e títulos nos EUA. “Isto não tem necessariamente a ver com a questão do valor das notas, sobretudo está nova cédula de R$200 reais. Nem que isto vai gerar uma crise do real” disse ele.
Sobre a polêmica da criação uma nova cédula, o economista explica o porquê de tantos rumores sobre ela. Antes da criação do plano real, aconteceram muitas trocas de moeda e também de valores, mas foi o real que realmente conseguiu vencer o problema da alta inflação no Brasil.
E tem mais: inserções e retiradas de novas notas está longe de ser novidade: em 2001 foi lançada a nota de R$ 2,00. Em 2002, a nota de R$ 20,00 foi criada e no ano de 2005, houve o encerramento da fabricação da nota de R$ 1,00 real. Lembra?
Encontro de Gerações
E para quem já viveu diversas crises e trocas da moeda nacional? Nascido em 1937, seu Sebastião Oliveira se encaixa nisso. “Me lembro de quando Getúlio Vargas se suicidou… Ou foi assassinado?”, questiona. “Sou do tempo da nota de 200 cruzeiros, uma notona grande”, conta.
Seu Sebastião relembra os períodos que passou entre as trocas de moeda e o que representava na época. “Começaram a trocar de presidente e veio trocando a nota, quando o valor da nota aumentava ,o dinheiro desvalorizava. Muito dinheiro e pouco poder de compra, você ia ao mercado com Cr$ 30 cruzeiros e saia carregado de coisa. Hoje, o que você compra com R$ 30 reais?”, indagou.
Mesmo com temor pelos resquícios de uma economia conturbada, ele prefere ver a nota circulando para dar um veredito. “Quando apareceu a nota de R$ 100, era novidade. Agora, não é mais. Temos que esperar pra ver”, pontuou.
E para alguém que nasceu nos anos 2000? Para essa geração, a nova nota pode ser vista por duas perspectivas e a preocupação é claramente outra. “Acho que não vai ser bom, porque vai ser difícil de trocar. Pelo que eu vejo, já é difícil encontra moeda em caixa, vai faltar mais” disse a estudante Erika Alves, de 18 anos.
Por outro lado, ela acredita que a criação dos R$200 pode fazer com que os campo-grandenses guardem mais dinheiro. “Pelo que escutei, as pessoas querem economizar. Têm pessoas dizendo que quando pegarem a nota, vão deixar guardado”, explicou.
O que diz o governo
Mas, afinal, qual é a justificativa do governo para adoção de uma nova cédula? O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já havia afirmado que a introdução da nova cédula era fundamental para evitar um eventual desabastecimento do papel-moeda frente ao aumento da demanda por dinheiro em espécie desde o início da pandemia do novo coronavírus.
“O momento singular que estamos vivendo trouxe os mais diversos desafios, e um deles foi um aumento expressivo na demanda da sociedade brasileira por dinheiro em espécie. O aumento foi verificado no Brasil desde o início da pandemia, mas não foi exclusividade do nosso país. Outras nações viveram fenômeno semelhante. Em momentos de incerteza, é natural que as pessoas busquem a garantia de uma reserva em dinheiro”, afirmou, durante o discurso de lançamento do novo modelo.
Campos também pontuou que o Banco Central tem conseguido fornecer as cédulas e moedas. “Ainda assim, como estamos vivendo um momento sem precedentes na história, não há como prever se essa demanda por dinheiro em espécie continuará aumentando, e por quanto tempo. Esse momento, com essas necessidades, se mostrou oportuno para o lançamento de uma cédula de maior valor, cujo pré-projeto já existia desde o lançamento da segunda família de cédulas, em 2010”, concluiu.
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