O dólar começou a semana em alta, refletindo um cenário de cautela tanto externo como interno. No exterior, a moeda americana subiu ante divisas fortes e emergentes após relatos de novos casos de na e na Alemanha, o que aumentou o temor de uma segunda onda de contaminação da doença, colocando em risco as reaberturas das economias. No mercado doméstico, preocupações com o cenário político e com a piora da atividade pesaram, contribuindo para o real ter novamente o pior desempenho no mercado internacional ante o dólar, considerando uma cesta de 34 moedas. No ano, o dólar já sobe 45%.

No final da tarde, o Banco Central fez o único leilão extraordinário do dia, vendendo US$ 500 milhões de contratos de swap cambial (venda de dólar no mercado futuro), ajudando a reduzir um pouco o ritmo de valorização. No fechamento, o dólar à vista terminou com valorização de 1,37%, cotado em R$ 5,8206. No mercado futuro, o dólar junho era negociado em R$ 5,8365, em alta de 1,50%, às 17h40.

Nas mesas de câmbio, não faltaram relatos de preocupações em várias frentes. Na política, a expectativa é pelo veto do presidente Jair Bolsonaro aos reajustes de categorias do funcionalismo público, como quer o ministro da Economia, Paulo Guedes. Há ainda depoimentos no inquérito que investiga interferência de Bolsonaro na Polícia Federal e as primeiras informações da oitiva do delegado Maurício Valeixo, ex-chefe da PF, são de que ele afirmou que Bolsonaro lhe disse que queria um diretor-geral com quem tivesse mais “afinidade”. Há ainda relatos de paralisações de caminhoneiros em alguns locais, como na cidade de .

“Estamos cada vez mais pessimistas sobre as perspectivas com o Brasil”, afirma o economista sênior para da consultoria inglesa Pantheon Macroeconimics, Andres Abadia. Para ele, a forma como Bolsonaro está lidando com a pandemia, minimizando seus riscos, e o aumento dos conflitos políticos gerados pelo presidente, só vão tornar o cenário de recuperação ainda mais difícil após o pico do coronavírus passar. “As condições econômicas no Brasil estão se deteriorando rapidamente ”

Com o avanço da economia e o cenário político conturbado, a expectativa é de economia em forte contração. O JPMorgan revisou sua projeção e passou a prever contração de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil este ano. O Itaú Unibanco também revisou sua estimativa e projeta o PIB encolhendo 4,5% este ano. O risco de contas públicas ainda piores, a contração mais intensa da atividade e os juros mais baixos fizeram o banco revisar o cenário para a taxa de câmbio, prevendo uma moeda americana ainda mais forte. Para 2020, a projeção do dólar foi elevada de R$ 4,60 para R$ 5,75. Em 2021, a estimativa subiu para R$ 4,50, ante R$ 4,15.