Cotado a R$ 3,176 para venda

A Bolsa brasileira caiu e o dólar se valorizou contra o real nesta quinta-feira, em dia de aversão a risco nos mercados financeiros globais com a escalada da tensão na península da Coreia. A Coreia do Sul e o Japão advertiram a Coreia do Norte sobre sua ameaça de lançar mísseis contra a ilha de Guam, território americano no oceano Pacífico. O índice acionário Ibovespa recuou 1%, aos 66.992 pontos, acompanhando seus pares globais, enquanto o dólar comercial valorizou-se em 0,76% contra o real, cotado a R$ 3,176 para venda.Bolsa cai 1% e dólar sobe a R$ 3,17 com tensão sobre Coreia do Norte

Em Wall Street, o índice Dow Jones recuou 0,93%, enquanto o S&P 500 teve baixa de 1,45%. A Nasdaq caiu 2,13%. Foi a maior queda das ações americanas desde maio, enquanto o índice CBOE de volatilidade atingiu o maior nível desde abril. Na Europa, as ações recuaram pelo segundo dia, caindo para o menor nível desde março. A Bolsa de Londres caiu 1,44%, enquanto Paris desvalorizou-se em 0,59%, e Frankfurt, em 1,15%. Na Ásia, embora o índice Nikkei da Bolsa de Tóquio tenha encerrado estável, a Bolsa de Hong Kong caiu 1,13%, e a de Xangai, 0,41%.

Em escala global, o dólar chegou até a perder força contra uma cesta de dez moedas, recuando 0,1% depois da divulgação de dados sobre os preços ao produtor nos EUA, que subiram menos que o esperado. Embora tenha perdido valor frente a moedas como o iene, o dólar avançou sobre produtores de commodities, como o dólar neozelandês, o real e a rúpia indiana. No mercado de produtos básicos, o petróleo fechou em queda, com o barril do tipo Brent caindo 1,63%, a US$ 51,84.

Na agenda doméstica, dominou o pregão a preocupação com a situação fiscal do país. À tarde, os ministérios da Fazenda e do Planejamento divulgaram uma nota conjunta afirmando que as discussões sobre meta fiscal serão retomadas na próxima segunda-feira. Segundo o texto, assinado por ambos os ministros, assim que houver uma decisão, o resultado será divulgado “imediatamente”. Segundo integrantes da área econômica, é possível que seja anunciada uma revisão do rombo fiscal deste ano, fixado num déficit primário de R$ 139 bilhões. Até quarta-feira à noite, esse número poderia subir até R$ 30 bilhões, mas o mais provável é que ele fique em R$ 159 bilhões.

A tensão fiscal fez com que as taxas mais longas dos juros futuros avançassem, com os investidores esperando que o governo terá que apertar as taxas no futuro para atrair recursos suficientes para rolar suja dívida crescente. O contrato com vencimento em janeiro de 2021 subiu de 9,33% para 9,42%. Diante desse cenário, a diferença (spread) entre o contrato futuro de janeiro de 2023 com o de janeiro de 2019 chegou ao maior nível em 7 anos: 10,04% contra 8,09%.

— Hoje, domina o mercado local o movimento que está acontecendo no exterior. Trata-se de um movimento de aversão a risco, de busca por um pouco mais de proteção depois de meses seguidos de tomada de risco. Seja por causa da política externa do Trump, seja até pelo nível elevado de preço mesmo — disse Luis Gustavo Pereira, da Guide Investimentos. — No Brasil, a preocupação fiscal é mais uma força negativa para o mercado hoje.

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Entre as empresas, o dia está repleto de divulgações de resultados. As ações do Banco do Brasil tiveram um pregão instável mas fecharam em alta de 0,49%, depois de a companhia ter anunciado nesta quinta-feira que teve lucro líquido de R$ 2,619 bilhões no segundo trimestre, resultado em linha com a estimativa dos analistas e 6,2% maior que o apurado no mesmo período de 2016. O resultado ficou abaixo, porém, do dos bancos privados. No mesmo período, o lucro líquido do Bradesco foi de R$ 3,9 bilhões e o do Itaú ficou em R$ 6 bilhões.

O crescimento da receita com tarifas ajudou a compensar menores receitas com crédito, uma vez que a fraca atividade econômica fez o estoque ampliado de empréstimos do banco recuar 7,6% em 12 meses, fechando junho em R$ 696,1 bilhões. O BB, inclusive, mudou a previsão para a carteira no país em 2017, agora estimando queda de 1% a 4%, ante previsão anterior de alta de 1% a 4%.

“Resultado operacional bom, mas dentro do esperado. A melhora operacional pode ser explicada, principalmente, pelo controle de despesas. Outro ponto positivo foram as receitas com tarifas”, escreveu Claudio Moura, analista da Elite Corretora, em nota distribuída a clientes em que destacou também pontos negativos: “Carteira de crédito está caindo bastante. Receitas em coligadas e controladas está mal. Diferente dos principais concorrentes, a inadimplência do banco do Brasil continua piorando.”

Houve aumento do índice de inadimplência acima de 90 dias, chegando a 4,11%, antes 3,89% do trimestre anterior e dos 3,26% da mesma etapa de 2016, na contramão dos rivais Santander Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco.

ULTRAPAR DECEPCIONA INVESTIDORES

Na Ultrapar, dona dos postos Ipiranga, o papel recuou 2,63% depois da divulgação de resultados considerados decepcionantes pelos investidores. O lucro da companhia no segundo trimestre foi de R$ 247 milhões, abaixo da expectativa mais pessimista dos analistas de bancos e corretoras, que era de R$ 258 milhões. A ação chegou a cair 6,3%, caindo ao menor nível em cinco meses.

“Quase todos os segmentos de negócio da Ultrapar apresentaram desempenho fraco neste trimestre, com exceção da Ultragaz, que continuou colhendo bons frutos da estratégia de diferenciação e inovação para fidelização e captura de novos clientes”, escreveu a analista-chefe da corretora Coinvalores, Sandra Peres. “Na Ipiranga, houve impacto negativo nos estoques, em razão da redução nos custos com combustíveis, pela nova política de preços da Petrobras, além da contínua redução no volume de vendas de diesel. A Oxiteno sofreu com a valorização do real frente ao dólar e por problemas técnicos, não recorrentes, na repartida de uma planta.”

Fora do Ibovespa, a operadora de telefonia Oi, em recuperação judicial, recuou 5,67% (R$ 3,16), depois de ter informado na noite de quarta-feira que a queda na receita e a desvalorização cambial fizeram a companhia registrar nos primeiros seis meses do ano um prejuízo de R$ 3,504 bilhões. O resultado representa aumento de 32,9% em relação às perdas de R$ 2,637 bilhões do mesmo período do ano passado. O número foi influenciado pelo desempenho no segundo trimestre, quando a tele ficou no vermelho em R$ 3,303 bilhões, uma alta de 302% em relação aos meses de abril a junho do ano passado. A Oi apresenta perdas há dois anos seguidos.

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“Seguimos acompanhando de perto a situação da Oi, mas acreditamos que a tendência de alta volatilidade em seus papéis permanecerá em virtude das inúmeras incertezas que cercam a companhia”, disse Sandra Peres em comentário enviado a clientes.

A Petrobras, que divulga seu balanço após o fechamento do mercado nesta quinta-feira, também caiu, recuando 2,51% (R$ 13,62) e 2,44% (R$ 13,19), em dia de recuo do petróleo. A Vale caiu 1,32% (R$ 31,50, ON) e 0,72% (R$ 29,15, PN).