Menor volume de transações não preocupa corretores em novo ciclo do segmento julgado como normal por economista

O fim de uma bonança, alavancada pelo crescimento econômico e pelo poder de crédito do brasileiro, que dará nos próximos anos outra realidade ao Mercado Imobiliário, menos intensa em transações, mas bem longe de ser uma ‘bolha’. Especialistas do setor em Mato Grosso do Sul apontam que o alto déficit habitacional, assim como a ampla necessidade regular de oferta, são os fatores que permitirão não haver uma queda maiúscula no segmento no curto e médio prazo. 

“Adquirir um imóvel, mesmo em meio a esse cenário econômico menos favorável, continuará sendo  um excelente negócio principalmente pelo que representa o aluguel. Ao comprar a sua casa, a família passar a direcionar o dinheiro no que é dela e constitui assim um patrimônio, que irá valorizar com um tempo. Talvez não seja da maneira como foi na última década, porém é relativo pois depende do imóvel, da área que ele se situa e das benfeitorias. Não é o tipo de investimento que se tem uma liquidez rápida, no entanto está longe de ser um dinheiro perdido”, acredita o presidente do Conselho Regional dos Corretores de da 14ª Região (Creci-MS), Delso José de Souza.

Delso entende no seu conceito que ‘bolha’ em um segmento só exista quando os investidores passam a aplicar recursos vultuosos no Mercado, baseados em especulação e busca por um retorno rápido, na maioria das vezes com margem desproporcional ao comum. De acordo com o presidente do Creci-MS, a valorização dos imóveis, sejam eles casas, apartamentos  ou terrenos, se deu em na última década mais pela melhoria da infraestrutura da cidade, que teve nesse período a abertura de novas vias, além de se desenvolver em diversas regiões, o que gerou a valorização de muitos bairros. 

Mas e o aluguel? É sempre perder dinheiro? 

Delso José de Souza pensa que é extremamente equivocado associar o custo do aluguel a um gargalo. Para o presidente do Creci-MS, o caso de quem pretende morar em uma mansão demonstra bem esse paradigma financeiro. O corretor garante ser bem mais vantajoso virar um locatário desse tipo de imóvel do que um proprietário, em virtude do nível alto de aplicação imobilizada do dinheiro, algo que desinteressante a muitos empresários. 

“Se você compra uma casa grande, com piscina, vários cômodos, sauna vai pagar preços em torno de R$ 1 milhão ou mais, dinheiro que aplicado em outros setores pode render mais. É uma quantia que lhe garante a participação em negócios lucrativos como a abertura de um comércio ou operações de fundos, que podem te dar como retorno mensalmente boas quantias, o suficiente para pagar um aluguel de R$ 2 mil. Com esse dinheiro você poderia pagar o aluguel da mansão”, diz o dirigente do Creci-MS.

Confiança 

O professor de Economia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Everlam Elias Montibeler, por sua vez não discorda das atribuições de ‘bolha’ ao Mercado Imobiliário brasileiro, especialmente no Estado. Conforme o docente a irracionalidade de muitos agentes confirma essa associação, já que a grande maioria dos consumidores que investiram nesse segmento nos últimos anos agiu por tendência e um nível de confiança baseado na recuperação a tempo do compromisso assumido.

“É comum desse investidor, que passa a entrar no Mercado durante a fase mais próspera, pensar que pode aplicar o dinheiro, ganhar com a alta do Mercado, e sair enquanto é tempo, antes de uma desaceleração do Mercado. E a desaceleração ocorre não apenas por uma crise, como as que ocorreram em 1929 e 2008, mas por momentos de reequilíbrio da Economia, de uma retração do setor . A Economia é cíclica, vive de momentos de ritmos mais acelerado de transações e momentos mais conservadores, algo já comprovado e estudado. O lucro médio não tem como ser o mesmo sempre, quanto mais seguir continuamente com margens maiores, como ocorreu recentemente no Mercado Imobiliário”, esclarece Everlam que ainda classifica três pontos como influenciadores à formação de uma bolha em um segmento econômico: concentração do Mercado excessiva, nível grande de especulação e lucro médio muito fora da realidade. 

Cautela 

No parecer do presidente da Câmara de Valores Imobiliários de Mato Grosso do Sul, Ronaldo Ghedine Ribeiro, o consumidor precisa ter neste momento mais cautela para investir em imóveis, não apenas por conta do momento econômico que o País atravessa, mas pelas novas oportunidades que a conjuntura possa oferecer. Segundo ele, com a queda do valor dos imóveis aumenta-se as chances de surgirem boas ofertas, que só serão detectadas após uma minuciosa pesquisa de Mercado. 

“Acredito que o momento econômico sempre mexe com o Mercado Imobiliário, principlmente em um cenário com previsões pessimistas e alarmantes, as vezes hiperdimensionadas. A tendência é de um menor volume de venda sim, todavia com tendência de estabilização , e posterior recuperação conforme o impacto da medidas econômicas, surtindo efeito em 2016 mesmo. Não acredito de maneira nenhuma em bolha, pois temos um mercado imobiliário bem diferente dos americanos. O que pode acontecer é aumento de inadimplência”, explica Ronaldo.