Um dos mais potentes ativos clareadores de manchas de pele do mercado, a hidroquinona, vai ter de sair de cena – pelo menos quando se trata da fórmula dos cosméticos de venda livre (não manipulados). Isso porque, nos últimos anos, médicos e pesquisadores do mundo inteiro observaram diversos efeitos colaterais paralelos ao benefício de clareamento, o que levou alguns países a proibirem o seu uso em cosméticos, como é o caso do Japão, Estados Unidos e da Comunidade Europeia. Por aqui, a suspensão da hidroquinona na composição dos cosméticos de varejo já é consenso no Mercosul, segundo a área técnica da Anvisa, e vai ser incorporada pelos países do bloco. De qualquer forma, hoje o órgão fiscalizador já não aceita os pedidos de registro com esta substância. Nas versões manipuladas, o ativo continua liberado, desde que com receita médica.

No entanto, muitos ativos têm efeitos adversos, daí a necessidade de um controle e acompanhamento médico. A dermatologista Flávia Addor, de São Paulo, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica: “No caso da hidroquinona, existe o risco de reações alérgicas, hipersensibilidade, ardor, vermelhidão e, em casos mais graves, o surgimento de manchas irreversíveis, por conta de um clareamento exagerado ou de uma hiperpigmentação escura, que se trata de uma reação tóxica da pele, cujo mecanismo ainda não foi elucidado”, diz a médica. “Eu mesma tive um melasma e não tolerei a hidroquinona. Com irritação e eritema, suspendi a substância e entrei com uma associação de ácido kójico e um peeling de ácido glicólico e tive um excelente resultado”, declara a médica. A pedagoga Cristiane Ribeiro, de São Paulo, 40 anos, passou por uma situação parecida. “Precisei tratar um melasma com hidroquinona, mas senti vermelhidão e ardência, além do surgimento de manchas mais claras, próximas à região que estava sendo tratada, que não existiam. Foi quando minha dermatologista decidiu substituir a hidroquinona por ativos clareadores naturais e antiglicantes, com complemento de nutricosméticos orais e o resultado foi tão bom quanto”, diz.

Toda cautela é pouco

De acordo com a dermatologista Aline Vieira, professora do departamento de Cosmiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o que vai determinar o benefício de um clareamento saudável, e reduzir as chances de risco com a hidroquinona, é o uso adequado, com controle e orientação de um médico. “Por essas razões não acho adequado esta substância estar presente em produtos de prateleira, aqueles que o paciente pode comprar na farmácia ou lojas de cosméticos. Com acompanhamento de um dermatologista capacitado, que determine a quantidade, a concentração, o período de uso e a área que será tratada, em geral a hidroquinona é considerada segura. O uso realmente não pode ser prolongado, mas com uma concentração segura, para cada paciente, pode ser bastante útil. O médico deve acompanhar e analisar toda e qualquer alteração para assim evitar um mal maior, quando necessário”, diz Aline. O uso prolongado, de fato, requer muita cautela. “Depois de usar a hidroquinona por um determinado período, é necessário um descanso para não causar as manchas brancas que podem ser irreversíveis”, diz a farmacêutica Mika Yamaguchi, consultora técnica da Biotec Dermocosméticos, empresa que desenvolve e fornece ativos para a indústria cosmética.

Tratamentos alternativos

Fora a hidroquinona, alguns tratamentos podem ser muito úteis para amenizar manchas. “É preciso que o médico analise cada caso, tudo vai depender da cor da pele da paciente e da intensidade do melasma, mas ácido retinoico, glicólico e ácido tricloroacético são usados com sucesso, assim como o laser”, declara Flávia Addor, que opina sobre o futuro dos cosméticos sem a hidroquinona. “A tendência dos produtos tópicos é a associação de ativos na mesma formulação, para potencializar a eficácia, e chegar o mais próximo possível da eficiência da hidroquinona, mas certamente o efeito será inferior e mais lento”, diz.

Novos ativos clareadores

Na corrida para entrar nos moldes determinados pela Anvisa, algumas marcas já lançam mão de alguns ativos com promessa de clarear a cútis e uniformizar o tom da pele. “Essas novas substâncias agem inibindo etapas na formação do pigmento dentro da célula que o gera (melanócito) ou inibindo a transferência do pigmento formado para as células da pele (queratinócito)”, afirma a dermatologista Aline Vieira, da UFRJ. Ela diz que esses novos ativos geralmente têm eficácia comparável ao uso de hidroquinona 2% e muitas vezes só atingem esse nível de clareamento quando utilizados associados em uma mesma formulação.