Mais uma temporada difícil para a cadeia produtiva de laranja em São Paulo e no Triângulo Mineiro, onde as grandes exportadoras de suco (Cutrale, Citrosuco/Citrovita e Louis Dreyfus Commodities) se abastecem da fruta. É o que espera o novo diretor-executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto, da safra 2013/14 na região, cuja colheita começará a ganhar ritmo nas próximas semanas.

Com gordos estoques de suco de laranja a serem comercializados em tempos de demanda internacional pela commodity ainda retraída, não há sinais do lado das indústrias de que seus fornecedores receberão mais do que em 2012/13 pela fruta entregue para processamento — e isso a depender de medidas de apoio do governo federal, que desde 2011 ajudaram a enxugar a oferta de suco — promovendo a formação de estoques — e a complementar os preços recebidos pelos citricultores, que ficaram em torno de R$ 10 por caixa de 40,8 quilos em 2012/13, valor já insuficiente para cobrir os custos da maior parte dos pequenos produtores. Os leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) de laranja, por exemplo, foram suspensos pela Conab por suspeitas de fraude.

Será uma “temporada difícil” mesmo com a queda da produção de laranja após duas supersafras seguidas. A CitrusBR estima a colheita em 2013/14 em São Paulo e no Triângulo Mineiro em 268 milhões de caixas, ante as 385 milhões estimadas em 2012/13. São mais de 70 milhões de caixas a menos que o total previsto pela Conab, mas no segmento é a projeção que tem sido levada em conta. Ainda assim, como os estoques de suco brasileiro armazenados no país e no exterior alcançaram 1,1 milhão de toneladas em 31 de dezembro — equivalente a um ano de vendas — e deverão recuar para cerca de 700 mil no fim deste mês, volume ainda robusto, a pressão sobre os citricultores deve continuar.

Curiosamente, essa pressão permanece mesmo com as cotações internacionais do suco de laranja em alta, basicamente em consequência de adversidades climáticas e da proliferação da doença conhecida como greening na Flórida, Estado americano que abriga o segundo maior parque citrícola do planeta, depois do paulista. O preço médio das exportações brasileiras subiu este ano cerca de 20% sobre a média de 2012, quando as 1,097 milhão de toneladas equivalentes ao produto concentrado e congelado (FCOJ, na sigla em inglês) renderam US$ 2,276 bilhões. Em 2011, o volume foi de 1,155 milhão de toneladas, ou US$ 2,376 bilhões, conforme a CitrusBR.

Ibiapaba Netto reconhece que o atual nível de preços do suco é elevado, mas culpa a demanda retraída em mercados tradicionais como a Europa e os EUA pelo fato dele não se refletir nos preços pagos pelas indústrias pela fruta, mesmo que a linha de crédito para estocagem da bebida lançada pelo governo prever o pagamento de um valor adicional pela caixa da fruta em caso de bom desempenho das vendas ao exterior. De qualquer forma, prevê, toda a produção de laranja de 2013/14 deverá ser comercializada, quando em 2012/13 pelo menos 30 milhões de caixas ficaram sem comprador e foram ao chão.