Pular para o conteúdo
Consumidor

Preço do leite chega a R$ 8,90 nas prateleiras e força mudança de hábito de campo-grandenses

Leite está caro para o consumidor e barato demais para quem produz, com a maior parte do lucro ficando nas indústrias de laticínios
Elias Luz -
Leite
Leite está virando artigo de luxo. Foto: Stephanie Dias

O leite está mais caro e muitos consumidores estão mudando os hábitos de consumo, abolindo o produto diante de altas sucessivas nos preços. Não é para menos, principalmente porque de janeiro a junho o litro do leite longa vida — aquele com caixinha de um litro — valorizou-se em 14,5%, segundo cálculos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), contidos no IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), divulgado semana passada. Em , os preços oscilam entre R$ 5,90 e R$ 8,90.

O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), pertencente à Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP (Universidade de São Paulo), também confirma esta elevação de preços neste mesmo patamar, mas reforça que o preço do leite captado em abril deste ano e pago aos produtores em maio subiu 4,4%, chegando a R$ 2,5444 por litro na chamada “Média ”. Além disso, em relação a maio do ano passado, o aumento é de 11,8%, em termos reais, já com valores deflacionados pelo IPCA de maio deste ano.

E pelas perspectivas do Cepea, os valores pagos em junho aos produtores — que foram 5% mais elevados — vão trazer novos impactos desagradáveis aos consumidores finais dentro dos supermercados espalhados pelo País. A alta do leite é um problema nacional, o que inclui toda a extensão do Estado de Mato Grosso do Sul. Para complicar um pouco mais, em outra pesquisa do Cepea — desta vez em parceria com a OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) — foi verificado que os preços dos derivados lácteos negociados entre indústrias e canais de distribuição seguiram em alta em maio. Isso quer dizer que queijos, manteigas, iogurtes e demais derivados deverão agredir mais o bolso do .

Na segunda quinzena de maio, com menor captação dos laticínios no campo e a valorização no mercado de leite spot (negociado entre indústrias) voltaram a direcionar o processo de formação dos preços. Com estoques mais enxutos de derivados, as cotações do lácteos voltaram a subir. O quadro geral se torna pior porque — neste quesito — há um saldo negativo na balança comercial, que triplicou de abril para maio, atingindo a cifra de US$ 26,3 milhões, segundo dados da Secex (Secretaria Especial de Comércio Exterior), que fica em Brasília e pertence ao Ministério da e Comércio Exterior.

Em volume, também houve aumento no déficit, só que na ordem de 167,2%, com saldo negativo de 53 milhões de litros em equivalentes de leite. Esta quantidade é próxima ao patamar observado em março, pelo Cepea. Já esse resultado é explicado pelo aumento de 51,5% das importações — com o dólar subindo de forma disparada — também e pela queda de 47,2% nas exportações em maio, acrescendo a desvalorização do real diante da moeda norte-americana e do euro.

Mato Groso do Sul registra queda de mais de 40% na produção de leite em uma década

O presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Alessandro Coelho, explica que nos últimos dez anos a produção leiteira de Mato Grosso do Sul não apenas caiu: despencou em mais de 40%, culminando com o fechamento de vários laticínios. “Isso contribui para este aumento de preços que vem sendo verificado pela população. Além disso, estamos entrando no período da entressafra do leite e a realidade do produtor de leite também não é boa, porque ele está recebendo de R$ 2,50 a R$ 2,70 por litro. Como os custos de produção também aumentaram, os produtores sofrem primeiro”, detalhou Alessandro Coelho.

Para o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, faltam incentivos fiscais para este setor e, na esfera nacional, não há linhas de crédito específicas para a pecuária de leite, o que dificulta as chances de queda de preços dos produtos da indústria de laticínios em geral. De acordo com Alessandro Coelho, a pecuária leiteira é uma atividade de baixa rentabilidade.

“O produtor precisa de um recurso que possa pagar em um prazo mais amplo, de cinco a oito anos. A regulamentação para a produção de leite tem um grau de rigidez elevado, o que é positivo para a saúde, mas gera um custo elevado de produção, com a obtenção de equipamentos como ordenha mecânica e um resfriador para disponibilizar o produto com qualidade. O produtor leiteiro não está tendo lucro, e sim um desestímulo”, detalhou Alessandro Coelho.

Na Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar), o Secretário Executivo da Setorial do Leite, Orlando Serrou Camy, confirmou as palavras de Alessandro Coelho ao deixar claro que a produção caiu, na realidade, 45%. No entanto, ele emendou afirmando que o produtor — após um longo período de aprendizado e sofrimento — se qualificou e já a partir deste ano poderá comprovar um maior nível de produtividade do animal, com cada vaca disponibilizando 1.350 litros de leite por ano.

A produção de leite, que já ultrapassou 300 mil litros de leite, só ano passado superou a barreira de 200 mil litros, pelo fato dos anos anteriores terem registrado um número ainda menor. Hoje, toda a produção de leite do Estado vem de 163 mil cabeças de gado, mas parte dela é escoada para o sul do País.

Leite caro faz população mudar hábitos de consumo e esquecer o produto

O gerente de um supermercado em Campo Grande, Edilson Santos, não se esquivou quando foi perguntado sobre como está o consumo de leite. Ele foi direto ao assunto, afirmando que muitos mercados estão diminuindo a margem de lucro no produto e, quando fazem promoções duradouras, o leite volta a ser bem vendido. “Como consumidor, é óbvio que o produto ficou mais caro e aqui fazemos de tudo para cobrir os preços dos nossos concorrentes”, frisou Edilson Santos.

Entre a população, os hábitos de consumo estão mudando. A funcionária pública Ana Beatriz Falcão, 44, disse que o leite não é um produto inflacionado, e sim hiperinflacionado. Mãe de duas crianças, ela eliminou o leite da dieta dos filhos e disse que eles nem reclamaram. “Em outros tempos existiam crianças que davam trabalho para comer. Hoje em dia, com tudo mais difícil, a hora de comer virou um dos melhores momentos do dia”, disse Beatriz, com bom humor e concordância dos filhos.

O eletricista Edvaldo Rocha, 60, nem quer saber de leite e dá graças a Deus que seus filhos já cresceram. No entanto, ao pensar nos netos ele não se entristece e diz que o vovô presenteia com outras comidas saborosas. “Não dá para comprar e ponto final. Todo mundo tem que entender e quem quiser vender, que coloque o preço no valor que caiba no bolso do trabalhador”, afirmou Edvaldo. Quem concorda com ele é a autônoma Maria Rosenir Lopes, 38, que aboliu o leite de sua vida e hoje o produto nem entra na lista de supermercado.

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais

Durante chuva forte em Campo Grande, asfalto cede e abre ‘cratera’ na Avenida Mato Grosso

Bebê que teve 90% do corpo queimado após chapa de bife explodir morre na Santa Casa

Com alerta em todo o Estado, chuva forte atinge Campo Grande e deixa ruas alagadas

Tatuador que ficou cego após ser atingido por soda cáustica é preso por violência doméstica

Notícias mais lidas agora

Menino de 4 anos morre após tomar remédio controlado do pai em Campo Grande

Pedágios

Pedágio em rodovias da região leste de MS fica 4,83% mais caro a partir do dia 11 de fevereiro

Vítimas temem suposta pressão para abafar denúncias contra ‘fotógrafo de ricos’ em Campo Grande

Morto por engano: Trabalhador de usina foi executado a tiros no lugar do filho em MS

Últimas Notícias

Política

‘CPI do Consórcio Guaicurus’ chega a 10 assinaturas e já pode tramitar na Câmara

Presidente da Câmara, Papy (PSDB) não assinou pedido da CPI após defender mais dinheiro público para empresas de ônibus em Campo Grande

Cotidiano

Decisão de Trump de taxar aço pode afetar exportação de US$ 123 milhões de MS

Só em 2024, Mato Grosso do Sul exportou 123 milhões de dólares em ferro fundido para os EUA

Transparência

MPMS autoriza que ação contra ex-PGJ por atuação em concurso vá ao STJ

Ação pode anular etapa de concurso por participação inconstitucional de Magno

Política

Catan nega preconceito após Kemp pedir respeito à professora trans

Fantasia de ‘Barbie’ da professora não foi considerada exagerada por outros deputados