Como uma reação em cadeia, a alta e baixa do combustível em Mato Grosso do Sul causou diversas mudanças na rotina e no bolso do consumidor. Em 2022, houve uma verdadeira montanha-russa de preços, que fez o preço da gasolina, por exemplo, variar de R$ 4,67 a R$ 8 em cidades do Estado.

Mesmo com a variação no preço dos combustíveis, os valores são livres no Brasil, por lei, desde 2002. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil), não há preços máximos, mínimos, tabelamento, nem necessidade de autorização da ANP, ou de qualquer órgão público, para que os preços sejam reajustados ao consumidor.

Os reajustes são feitos pelo mercado, pelos agentes que nele atuam, como as refinarias, em sua maioria, da Petrobras, distribuidoras e postos de combustíveis. Conforme o levantamento da empresa, houve oito alterações no preço da gasolina e diesel neste ano.

DataGasolina/Preço refinariaDataDiesel/Preço refinaria
12 de janeiroR$ 3,2512 de janeiroR$ 3,61
11 de março R$ 3,8611 de março R$ 4,51
18 de junho R$ 4,0610 de maioR$ 4,91
20 de julho R$ 3,8618 de junhoR$ 5,61
29 de julho R$ 3,715 de agostoR$ 5,41
16 de agostoR$ 3,5312 de agostoR$ 5,19
2 de setembro R$ 3,2820 de setembroR$ 4,89
7 de dezembro R$ 4,497 de dezembroR$ 3,08
Dados de monitoramento da ANP.

Gasolina a R$ 8

O litro da gasolina chegou a ser comercializado a R$ 8 em cidades do interior de Mato Grosso do Sul, em junho, período que houve o ápice no preço. As maiores variações foram encontradas em Alcinópolis, com gasolina aditivada por R$ 8; gasolina comum por R$ 7,89, em Corumbá; gasolina comum de R$ 7,74, em Bonito; e Chapadão do Sul registrou R$ 7,80 no litro da gasolina comum.

No mês seguinte, julho, a União sancionou a Lei Complementar 192/2022, para redução do ICMS, o Governo de Mato Grosso do Sul seguiu a normativa, entretanto, o consumidor só conseguiu sentir a mudança em outubro, quando o Mato Grosso do Sul foi o quarto estado com a gasolina mais barata do país. O litro foi comercializado por R$ 4,66.

Presidente do Sinpetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo e Lubrificantes MS), Edson Lazarotto, explica que o mercado segue um montante de fatores até a redução chegar nas bombas. A última alteração da Petrobras aconteceu no dia 20 de setembro.

“Agora depois de diversas alterações onde o barril de petróleo chegou próximo aos U$ 100, começou a cair de preço, bem como dólar se estabilizando, o que proporcionou a referida redução”.

O peso no bolso

Quem trabalha e depende dos preços do combustível alterou a rotina para acompanhar as altas e baixas, como por exemplo, os motoristas de aplicativo. Na categoria há dois anos, Ivan Perez aumentou a jornada de trabalho para 12 horas para conseguir atingir a meta diária e retirar uma porcentagem do que ganhava para pagar o combustível, manutenção e outras despesas.

“Acredito que todo motorista de aplicativo tem meta. O valor que fazíamos em 10h trabalhadas aumentou para 12 ou 14h. Eu tenho a meta diária de R$ 300, tinha que tirar R$ 100 a R$ 120 para gasolina, hoje em dia abasteço R$ 80”.

Abastecer menos e reduzir o número de corridas foi uma alternativa para não pesar no bolso da motorista Katiusce Oliveira, que está nas plataformas há três anos e que divide a atividade com o trabalho.

“Como eu rodo só seis horas por dia, depois do expediente no mercado, não estendia mais até horas da madrugada e colocava um limite de distância para correr. Tenho colegas que tiveram que refazer a meta diária porque tudo pesava, tudo aumentou nessa época de R$ 7 na gasolina em Campo Grande”, disse.

posto de combustivel
Fila em posto de Campo Grande. (Foto: Arquivo/ Nathalia Alcântara, Midiamax)

Falta de estoque

Diferente de anos anteriores, como em 2018, este ano não houve falta de estoque de combustível em Mato Grosso do Sul, entretanto, houve casos pontuais em postos do interior, devido a uma situação de histeria após boatos de que teria desabastecimento causada pelas manifestações e bloqueio em rodovias do Estado.

O período pós-eleitoral foi marcado por intensa procura e filas de espera nos locais devido ao medo de ficar sem gasolina. Na época, o Sinpetro, havia informado que 50% das cidades estavam ‘sem algum tipo de combustível’. Em Campo Grande também teve registro de longas filas, mas sem relato de falta no estoque.

Alternativas sem combustível

Iran Vieira de Almeida, gerente de uma unidade de venda de bicicletas da Capital, disse que quando a gasolina chegou a R$ 7, a compra de bikes elétricas disparou. O cliente chegava à procura do item para rotina de trabalho, especificamente. Atualmente, o número de compra reduziu, já que os preços dos combustíveis estão nivelados.

“As venda da bicicleta de penal sempre fica em alta, mas essas são para lazer, as elétricas tiveram mais dificuldade por ter um preço mais alto, em média R$ 4 mil, só que era muito vantajoso porque a bike não gasta combustível, não paga importo como o IPVA, não tem emplacamento, é só carregar. Agora que a gasolina baixou, as vendas deram uma quietada”.

Gás de cozinha
Botijão de gás de cozinha. (Foto: Arquivo / Midiamax)

Gás

O gás de cozinha também não fugiu das elevações e quedas. Comparando o ápice e queda anual nos valores, a diferença de preço médio na distribuição é de 5,61% e de 11,47% em revenda no Estado. O consumidor encontrou o preço mais baixo por R$ 99 e o mais alto por R$ 125, em Campo Grande.

Conforme o Painel dinâmico do preço de revenda e distribuição de combustíveis da ANP, o preço médio da distribuição teve seu menor preço em janeiro, de R$ 77,05 e o mais alto em setembro, sendo repassado por R$ 83,99. Nas revendedoras, o valor médio alcançou queda em fevereiro, sendo comercializado a R$ 100,27, e teve o maior preço em maio, R$ 111,78.

MêsPreço médio de distribuiçãoPreço médio de revenda
JaneiroR$ 77,05R$ 101,07
FevereiroR$ 76,94R$ 100,27
MarçoR$ 82,81R$ 106,99
AbrilR$ 83,76R$ 111,38
MaioR$ 82,74R$ 111,78
JunhoR$ 82,79R$ 111,59
JulhoR$ 82,87R$ 110,88
AgostoR$ 82,88R$ 111,15
SetembroR$ 83,99R$ 112,06
OutubroR$ 81,38R$ 113,10
Novembro*R$ 102,18
Dezembro*R$ 107,54
 
* Não há comparativo de novembro e dezembro das distribuição por conta de processo licitatório e assinatura de contrato de prestação de serviço.

Os bloqueios nas rodovias após as eleições também refletiu nas fornecedoras de GLP do Estado. Até o início de dezembro, o Sindgás-MS (Sindicato das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo de MS) informou que os estabelecimentos estavam fazendo racionamento da venda em Campo Grande para evitar falta de produtos.

“O que ficou evidente neste ano foram os prejuízos para as distribuidoras, como o desabastecimento, o que causou demissões, pois o curso não muda da distribuição. Tivemos também o fechamento da fronteira com a Bolívia, a maioria do que vem para o MS vem da Bolívia, o engarrafamento das outras marcas. Com isso, associados amargaram na falência, comparado ao ano passado, tivemos 5% das empresas fechando”, disse o presidente do sindicato, Vilson de Lima.

Vilson ainda reforça que não há como ter perspectiva sobre os preços dos combustíveis sobre o próximo ano, pelas incertezas do cenário político e da economia. “Não tem como ter confiança”, finaliza.