Pingo era um vira-lata famoso nas redes. Ganhou fama após sua tutora — que ficou responsável por ele após a primeira dona falecer durante a pandemia — compartilhar vídeos do animal, que rapidamente viralizaram. Pingo ganhou até apelido: o cachorro fóssil.
Nos vídeos, a tutora compartilhava de narrativas engraçadas a informações sobre os cuidados com o animal de 21 anos. Não é comum um animal viver tanto, ainda mais se for negligenciado. Não era o caso de Pingo. Contudo, a vida é finita, e o pet faleceu no último dia 5, levantando um grande debate sobre cuidados essenciais e qualidade de vida para animais domésticos.
Muitos fatores fizeram Pingo viver tanto, dentre eles, assistência veterinária, alimentação e carinho. Mas a longevidade do animal não deve se repetir com tanta frequência: afinal, muitos tutores, sejam eles de primeira ou longa viagem, não se atentam para cuidados essenciais que contribuem para que os bichinhos se desenvolvam saudáveis e tenham longevidade, como vacinação e exames primários, por exemplo.
Para orientar quem pretende aumentar a família adotando um membro — canino ou felino —, o Jornal Midiamax conversou com a médica veterinária Dra. Claudete Rodrigues, que também atua nas áreas de infectologia e hematologia.
Antes de tudo, avaliação profissional
Independentemente de onde estava o animalzinho quando você o adotou, o primeiro passo é levá-lo para uma consulta com o médico-veterinário antes de introduzi-lo ao ambiente familiar. Durante a consulta, será realizado o ‘Perfil Básico’, que inclui hemograma e avaliação de funções renais e hepáticas básicas, possibilitando direcionar os exames ideais para seu pet.
“Ele [o exame] é sempre o carro-chefe para qualquer animal, saudável ou doente. A partir disso, a gente dá o pontapé inicial nas investigações”, explica Claudete. É por meio do ‘Perfil Básico’, que o profissional identifica possíveis doenças infectocontagiosas, principalmente as virais, que têm potencial de ser transmitidas para outros pets da casa, se for o caso.
“É importante passar pela avaliação médica e fazer esses exames iniciais. E aí, mediante as alterações laboratoriais, a gente direciona para um diagnóstico e tratamento antes de inserir esse paciente no meio familiar”, frisa.

Vacinação
A imunização do pet é fundamental para ele crescer saudável. Conforme a infectologista, o filhote precisa ter seu protocolo vacinal completo até as 16 semanas de vida.
“A partir disso, a gente determina se ele vai receber 3 ou 4 doses da polivalente, por exemplo. E aí a gente tem as vacinas essenciais, como a polivalente e a antirrábica. Dependendo do contexto familiar, do histórico de vida, se é um paciente que vai viver em um ambiente fechado, se ele vai ter uma vida mais livre, a gente direciona o protocolo vacinal também individualizado”, explica.
Conforme Claudete, é natural que o tutor queira vacinar o animal assim que o adota, no entanto, a manipulação só pode ser feita mediante indicação profissional.
“A gente primeiro tem que se certificar que está tudo bem com esse animal, se ele está saudável, pra ele poder receber a vacina. Porque muitas vezes acontece de resgatar e já vacinar, mas às vezes já tinha alguma doença ali incubada, que a vacina vai potencializar a manifestação clínica. Então, não é recomendado a gente resgatar, tirar da rua ou adotar dessas feiras de adoção e já imunizar o paciente. Primeiro, passa por um check-up veterinário, leva ele pra casa, deixa ele se ambientar por uns 10 a 15 dias, pra ver se não vai aparecer nenhuma doença que está ali incubada. Aí, sim, a gente procede com a vacinação”, explica.

Alimentação
De modo geral, a alimentação do pet pode ser feita com a ração de preferência do tutor, considerando a idade indicada na embalagem. No entanto, caso os exames indiquem a necessidade de uma alimentação mais específica, a dieta será recomendada pelo médico-veterinário.
“Hoje temos as rações de tratamento, as terapêuticas, e isso vai da individualidade de cada pet, do manejo de vida desse paciente: é um cão mais ativo, menos ativo? Passeia muito, passeia pouco? A gente faz um cálculo calórico pra definir a quantidade de gramas de alimento que esse animal tem que receber por dia”, explica Claudete.
Castração
Conforme a médica-veterinária, no caso de felinos, existe uma particularidade. A fêmea entra no cio, basicamente, a cada 60 dias, ou seja, ela tem potencial de reproduzir mais do que uma cadela, que entra no cio a cada seis meses.
“No sexto mês de vida, a gata pode ter seu primeiro cio. Antigamente se falava que todos eles deviam ser castrados antes do primeiro cio, mas, hoje em dia, isso tem seus questionamentos. Então, raças de grande, gigante e forte porte, a gente espera um pouco mais a castração pra que esse paciente se desenvolva bem. Quanto mais cedo, menores os riscos, mas também vai depender da individualidade de cada raça, de cada paciente”, explica.

Microchipagem
Em Campo Grande, a obrigatoriedade da microchipagem em cães e gatos é regulamentada pela Lei Complementar Municipal n° 392, de 11 de agosto de 2020. Ela determina que todos os animais domésticos devem ser registrados no CCZ (Centro de Zoonoses) ou em clínicas autorizadas com a implantação do microchip como parte do processo de registro.
Conforme Claudete, muitas pessoas acham que o microchip é um rastreador e que terão informações da localização do pet por meio de aplicativo ou site, mas não é nada disso.
“Ele serve para ter os dados e endereço do tutor. Se esse paciente for encontrado por outra pessoa, ela leva ele em uma clínica que possua um leitor e faz a leitura dos dados. Assim ele consegue os dados do tutor. Você terá o endereço, o telefone e, em breve, o histórico de saúde do animal”, explica.
O microchip pode ser colocado em qualquer idade, sem contraindicação.
Cuidados primordiais para o bem-estar do pet
Nozomi Matsubara é tutora dos cães Atrox (border collie de 3 anos) e Akali (SRD de 9 meses) e entende a importância de manter os exames e vacinas dos seus pets em dia, principalmente de Akali, que vivia em situação de rua.
Nozomi conta que encontrou a pet caçula durante um passeio com Atrox, no Parque Ayrton Senna. A princípio, cuidaria da cadelinha até conseguir uma família para ela, mas não teve jeito, bastou uns dias na companhia da pequena para já considerar ela o novo membro da família. No entanto, alguns cuidados eram fundamentais para garantir a saúde e bem-estar dos cãezinhos.
“A princípio, como estava à noite e ela aparentemente estava bem, porém com muitos carrapatos e um pouco fraca, já de imediato dei um banho com antipulgas e alimentei bem ela. Esses primeiros cuidados eu já sabia como realizar. No dia seguinte, marquei com o veterinário que a examinou, coletou sangue e iniciou o tratamento para doença do carrapato. Aproveitamos e demos vermífugo. Ela foi respondendo bem e ficando mais forte e brincalhona”, conta.

Cuidados recorrentes
Nozomi afirma ser bastante preocupada quanto à saúde de seus pets, por isso, as idas à clínica veterinária são bastante frequentes. Percebeu algo incomum no comportamento ou corpinho dos animais, ela corre para garantir um exame.
“Qualquer coisinha eu vou lá, vou verificar, porque eu quero que eles estejam bem. Eu fico bastante atenta a todos os sinais que eles me passam. Se percebo que eles estão mais cabisbaixos, ou algo no xixi, por exemplo, fico de olho. Faço exames regularmente, justamente para evitar problemas maiores”.
Atrox foi diagnosticado com leishmaniose e faz tratamento desde então. Isso corroborou para o medo que Nozomi sente de acabar deixando algo na saúde de seus pets passar desapercebido.
“Tratar o cachorro que já tem alguma doença, é complicado. É difícil psicologicamente, é difícil financeiramente. Já gastei bastante com eles, e ainda gasto”, frisa.
Akali entrou em seu primeiro cio durante uma viagem da família a Florianópolis, pouco após ser adotada. Mas, por considerar boa a saúde da cachorrinha, Nozomi optou por não a castrar ainda.
“Eu senti que o comportamento dela mudou no sentido da posse, por exemplo. Quando outro cachorro chegava perto das minhas coisas, ela ficava meio arisca e eu corrigia na hora. Como eu tenho controle do ambiente e o Atrox já é castrado, por enquanto, o meu pensamento é não castrar. Na questão de doenças que podem ser evitadas com a castração, eu faço os exames regularmente, então, se eu não ver nenhuma alteração no comportamento, vou optar por não castrar. Agora, se eu perceber que está afetando a saúde dela, aí, sim, vou castrar”, pontua.

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