Muitas pessoas não sabem, mas em Campo Grande há uma UTR (Unidade de Triagem de Resíduos) ao lado do Aterro Sanitário Dom Antônio Barbosa II, que propicia a separação de resíduos sólidos e o acondicionamento para a venda do material, futuramente reciclado.
✅ Clique aqui para seguir o Jornal Midiamax no Instagram
Todo o resíduo que chega à unidade foi recolhido das casas ou da Rede de Locais de Recebimento pela Solurb. Já o trabalho de triagem, tão importante para o meio ambiente e para a saúde pública, é realizado por cooperativas de catadores de materiais recicláveis.
Lá, o trabalho começa cedo e só acaba quando todos os materiais estão separados e prensados para venda. O Midiamax visitou as instalações para entender como os cooperados atuam, mas, principalmente, para mostrar como a população pode — e deve — contribuir para o trabalho de uma categoria fundamental ao desenvolvimento da Capital.

Unidade de Triagem de Resíduos
A UTR foi entregue pela Prefeitura de Campo Grande em 2015, mas, antes mesmo de haver este espaço, as cooperativas já atuavam na separação e destinação correta de resíduos na cidade. Atualmente, três grupos trabalham na unidade, todos representados pela Atmaras (Associação dos Trabalhadores de Materiais Reciclados dos Aterros Sanitários de Mato Grosso do Sul). São eles:
- Coopemaras (Cooperativa de Catadores de Materiais Reciclados dos Aterros Sanitários de Mato Grosso do Sul);
- Cata-MS (Cooperativa de Catadores de Materiais Reciclados da Usina de Triagem de Resíduos Sólidos);
- Coopernovo Horizonte (Cooperativa de Catadores de Materiais Reciclados).
A área em que a UTR está instalada é da Prefeitura, mas toda a administração e manutenção do espaço externo é de responsabilidade da Solurb. Já dentro da unidade, tudo é movido e decidido pelas cooperativas, sem intervenções da concessionária. Assim, os cooperados estabelecem regras e políticas internas que atendem a categoria e os profissionais. Atualmente, 130 pessoas trabalham no local. Durante o ano, este quantitativo oscila bastante, para mais e para menos.

Coleta seletiva
E, caso você esteja se perguntando, não, os lixos domésticos orgânicos não são destinados à unidade. A UTR se reserva a receber resíduos da coleta seletiva, sistema que visa separar e classificar o lixo para que se possa aproveitar tudo o que é reciclável, como vidro, papel, metais e plásticos. Nesta etapa, a população atua diretamente.
A coleta seletiva e a reciclagem de resíduos permitem a redução do volume de lixo para disposição final em aterros, assim, quanto menor for o volume de lixo nesses espaços, mais tempo levará para que ele seja expandido. Em Campo Grande, a coleta seletiva pode ser realizada das seguintes formas:
- ecopontos: em Campo Grande são cinco: no Bairro Panamá, no Noroeste, Nova Lima, União e nas Moreninhas (consulte os endereços aqui);
- porta a porta (domiciliar): neste caso, os moradores colocam os recicláveis nas calçadas, acondicionados em sacolas plásticas ou em contêineres, e os identificam como inorgânicos. A Solurb realiza o recolhimento;
- LEV (locais de entrega voluntária): neste caso, contêineres ou pequenos depósitos são colocados em pontos fixos da cidade, onde o cidadão pode, espontaneamente, depositar os recicláveis. Esses pontos estão em mercados, farmácias, unidades de saúde e associações dos moradores. Consulte os endereços aqui.

Descarte incorreto

As equipes da Solurb são responsáveis por recolher todos os resíduos da coleta seletiva e levá-los à UTR. No entanto, se a população não contribui com o descarte correto, os materiais que poderiam ser reciclados são destinados aos aterros, enquanto materiais orgânicos se misturam aos da coleta, inviabilizando a reciclagem. Segundo Daniel Arguello Obelar, presidente da rede de cooperativas do Estado, este é o maior gargalo atualmente.
“A grande dificuldade que a gente encontra em relação à separação do material reciclável para chegar aqui ainda é a falta de educação ambiental, principalmente dos mais velhos. É difícil pra gente aprender novamente, mudar os hábitos. Apesar de ter catadores juntos na educação ambiental, porta a porta, ainda não é o suficiente para que a população entenda. São informações que precisam chegar às pessoas e, assim, vir materiais bem separados para a gente”, explica.
Rejeitos são 40% do que recebem na UTR
Segundo Daniel, a não separação de resíduos domiciliares impacta diretamente no trabalho das cooperativas. Atualmente, cerca de 40% do que eles recebem são rejeitos. “A gente está entregando em torno de 600 toneladas [de resíduos] por mês. Ou seja, são 400 toneladas que a gente acaba mandando para o aterro. Isso é prejudicial tanto para nós como para o aterro, que em pouco tempo terá que aumentar”, pontua.
“Ainda chega pra gente galho, poda de árvore, fralda, injeções, remédio, pilha, bateria… Aqui a gente não recebe isso. Acontece muito de vir aqueles sacos de ração pra gente, porque a pessoa tem pet em casa, e acaba colocando as fezes dentro. Isso contamina o restante do material que a gente tem”, conta.
Estes hábitos precarizam a produção e segurança dos cooperados. “A gente trabalha com EPIs, tem toda a segurança de trabalho, tem brigada de incêndio, mas, mesmo assim, esses descartes irregulares acabam sendo perigosos para nós, que manipulamos diretamente o material”.

Recebimento e separação dos resíduos
Os caminhões da Solurb chegam à UTR todos os dias, bem cedo, e descarregam os resíduos sólidos na parte superior do prédio. Cada cooperativa tem seu espaço. A primeira etapa do trabalho consiste em abrir caixas, sacos e sacolas e separar os materiais recicláveis daqueles que não terão essa destinação. Tudo fica separado em montes.
Em seguida, os cooperados colocam os materiais recicláveis nas esteiras, montadas na parte térrea do prédio. Cada cooperativa tem a sua. Neste setor, as mulheres avaliam item por item: os materiais em condições de reciclagem vão para sacos acoplados na base da esteira. Já os inviáveis são separados e levados pela equipe da Solurb até o aterro sanitário.
Quando os sacos ficam cheios, os cooperados levam os materiais depositados para a prensa. Nesta etapa, colocam-se pequenas quantidades nas máquinas, que comprimem todo o resíduo. A granel, eles são amarrados e colocados em contêineres. Após esse processo, os recicláveis estão prontos para a negociação e venda.

Venda dos materiais
O lucro é relativo, já que o preço do material reciclável oscila muito e quem dita é a indústria. Há épocas em que as fábricas não demandam material, assim, mesmo que haja muito resíduo na UTR, as cooperativas não conseguem um valor tão expressivo. Por outro lado, quando o valor do material aumenta devido à alta demanda da indústria, o número de resíduos na unidade cai, porque catadores independentes também passam a recolher mais nas ruas. Como qualquer setor, há desafios.
“Eles vão se superando a cada ano. Essa organização que você vê, com corredores livres de recicláveis, organização em cada etapa, isso não acontece em todos os lugares. Esses dias recebemos uma visita de Dubai, chegaram em mim e falaram: ‘Olha, estão de parabéns pela organização, porque tem lugares no Brasil que você não consegue passar nos corredores, de tanta coisa jogada’. Um rapaz que estava de treinamento andou por aqui e ficou surpreso com a limpeza e organização. E isso implica no trabalho deles. Quanto maior a ordem, maior a organização, melhor será para eles trabalharem”, pontua Wellington Costa, coordenador da UTR pela Solurb.

Invisibilidade e apoio
Para Daniel, apesar de desempenharem um trabalho tão importante, ainda existe invisibilidade profissional, inclusive, do poder público. Alguns aspectos devem mudar para melhorar a qualidade de vida e o trabalho dos cooperados.
“No Brasil, temos situações de cooperativas que não recebem acima de um salário. Aqui nós temos um planejamento e conseguimos atingir acima de um salário, mas ainda falta o poder público olhar pra gente e pagar pelo serviço prestado, é uma pauta que estamos há 15 anos lutando. Nós prestamos um serviço para o município, mas não recebemos por isso. Se nós não estivéssemos aqui, uma empresa estaria, e ela estaria recebendo por isso”, pontua.
Além disso, as próprias cooperativas, com o valor que arrecadam na venda dos materiais, pagam pela manutenção dos equipamentos, da água, dos equipamentos de segurança e cursos. “Se tivéssemos o pagamento de um salário da Prefeitura, conseguiríamos investir mais, valorizar os cooperados; muitos pagam aluguel aqui. Inclusive, esta é uma pauta que temos tratado. Futuramente, queremos que eles tenham uma casa própria”.
O assunto já está em discussão. A reportagem procurou a Prefeitura para saber o andamento da solicitação dos cooperados. O espaço segue aberto para manifestações futuras.

Consciência ambiental
Para contribuir com o trabalho dos catadores de recicláveis — e com o meio ambiente — é simples: basta separar o lixo que produz. Para isso, em sua casa, considere descartar lixos orgânicos (molhados) em sacos marrons e lixos inorgânicos (secos) em sacos verdes.
No site da Solurb, você confere um mapa de rota e identifica o dia em que o caminhão da coleta seletiva passará em cada bairro e rua. Assim, é só deixar os materiais inorgânicos na calçada da sua residência, que a destinação correta acontecerá.
Vale pontuar que conferir o dia e a hora que o caminhão passará é importante para garantir que cães e gatos não rompam as embalagens, por exemplo. Coloque o material apenas no dia da coleta. Confira o mapa clicando aqui.

💬 Receba notícias antes de todo mundo
Seja o primeiro a saber de tudo o que acontece nas cidades de Mato Grosso do Sul. São notícias em tempo real com informações detalhadas dos casos policiais, tempo em MS, trânsito, vagas de emprego e concursos, direitos do consumidor. Além disso, você fica por dentro das últimas novidades sobre política, transparência e escândalos.
📢 Participe da nossa comunidade no WhatsApp e acompanhe a cobertura jornalística mais completa e mais rápida de Mato Grosso do Sul.
***