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Cotidiano

Tempo seco é gatilho em MS, mas alergias podem surgir a qualquer momento

Para alguns pacientes, a dolorosa corrida contra o tempo, no tratamento de alergia pelo SUS, dura anos
Karina Campos -
alergia
Ter uma alergia não é nada divertido. Pelo contrário, é preocupante entender que as reações podem levar à morte. (Ilustrativa, Freepik)

Em 2001, o diretor Blair Hayes lançava a comédia “Jimmy Bolha”, traduzida para o português. O filme retratava, de maneira hoje considerada antiquada, a vida de um jovem que nasceu com problemas no sistema imunológico e que precisava permanecer dentro de uma bolha de plástico, pois era alérgico ao mundo que o cercava.

Fora da ficção, ter uma alergia não é nada divertido. Pelo contrário, é preocupante entender que as reações podem levar à morte. De uma “coceirinha” ao choque anafilático, uma alergia pode surgir em qualquer fase da vida de uma pessoa.

O Jornal Midiamax detalha como ter acesso aos serviços ofertados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) — desde testes, até tratamentos gratuitos.

O que é uma alergia?

O Ministério da Saúde define a alergia ou reação de hipersensibilidade como uma resposta imunológica exagerada. Isso se desenvolve após exposição a uma substância estranha ao nosso organismo, ocorrendo em indivíduos geneticamente suscetíveis e previamente sensibilizados.

Entre os principais agentes que provocam alergia, estão ácaros, baratas, fungos, pelos de animais, esporos de fungos, polens de flores, alimentos e medicamentos. Muitos deles ganham mais propagação durante períodos de baixa umidade, o que faz da estiagem em Mato Grosso do Sul um “gatilho” para que alergias surjam.

Sendo assim, podem desencadear vários tipos de hipersensibilidade:

• Alimentar: desenvolvida após a ingestão de algum alimento, por exemplo, amêndoas;
• Ocular: a conjuntivite alérgica é a alergia mais comum, provocando irritação, vermelhidão, coceira e lacrimejamento dos olhos;
• Pele: lesões na pele e coceira;
• Nariz: a inflamação alérgica da mucosa do nariz, conhecida como rinite alérgica, pode ocorrer de forma repetida;
• Vias respiratórias: a asma é uma doença acompanhada de inflamação alérgica das vias respiratórias.

Sintomas

Diante da resposta imunológica da pessoa, o organismo pode desencadear várias reações, como falta de ar, chiado no peito, tosse, irritação na garganta ou eliminação de secreção.

A anafilaxia, ou choque anafilático, é uma reação alérgica grave, que acomete todo o organismo. Isso leva à dificuldade de respiração, perda de consciência e, por vezes, à morte, quando não tratada imediatamente.

Alergia a qualquer momento da vida

Leandro Silva de Britto, médico pediatra, alergista e imunologista, ressalta que uma alergia pode surgir em qualquer fase da vida. Ou seja, pode aparecer na infância, na adolescência ou mesmo na vida adulta.

“O sistema imunológico está em constante adaptação e, por diversos fatores, como exposição ambiental, predisposição genética ou mudanças na imunidade, uma pessoa que nunca teve sintomas pode desenvolver reações alérgicas a alimentos, medicamentos, picadas de insetos ou substâncias inalantes, como poeira e ácaros.”

Para se ter uma ideia da suscetibilidade, uma pessoa pode ter alergia à picada de mosquito e apresentar apenas sintomas tardios. Logo, ela pode sofrer lesões intensas na pele, febre e mal-estar, especialmente crianças pequenas ou imunocomprometidas, e não assimilar instantaneamente que é alérgica a um inseto.

“Uma condição ainda pouco conhecida pelo público em geral é a síndrome alfa-gal, uma forma de alergia alimentar que pode surgir após picadas de carrapato — mas há relatos isolados de reações semelhantes com mosquitos em regiões tropicais”, explica o imunologista.

Ainda, ele esclare que “algumas pessoas desenvolvem reações alérgicas severas [anafilaxia] após picadas de abelhas ou formigas. Diante da resposta imunológica da pessoa, o organismo pode desencadear várias reações, como falta de ar, chiado no peito, tosse, irritação na garganta ou eliminação de secreção. Essas são potencialmente fatais e exigem atenção urgente. Embora menos comuns, essas alergias são graves e precisam de acompanhamento especializado”.

Suscetíveis ao tempo

“Durante o tempo seco e frio, há um aumento nos casos de rinites alérgicas, crises de asma e dermatites, especialmente em crianças e idosos. Isso ocorre porque o ar seco irrita as vias respiratórias e a pele, e também porque as pessoas tendem a ficar mais tempo em ambientes fechados, com menor ventilação, favorecendo a exposição a alérgenos como poeira, mofo e ácaros.”

Nessa época do ano, é importante manter a hidratação, evitar o acúmulo de poeira (como em tapetes, cortinas e bichos de pelúcia), manter os ambientes arejados e, quando possível, utilizar umidificadores ou toalhas úmidas nos cômodos. Para quem já tem diagnóstico de asma ou rinite, é fundamental manter o tratamento preventivo, mesmo que esteja sem sintomas.

Atendimento pelo SUS

No SUS (Sistema Único de Saúde), o tratamento de alergias costuma ser mais limitado do que o oferecido por planos de saúde ou tratamentos particulares, principalmente quando se trata de opções mais específicas e medicamentos de alto custo. No entanto, o SUS garante o acesso a consultas com especialistas, exames e medicamentos para condições crônicas como dermatite atópica, além de medicamentos para asma e rinite.

“Na prática, o SUS tem limitações quanto à oferta de testes alérgicos, que variam conforme a estrutura de cada município. Aqui em [MS], por exemplo, no CEM [Centro de Especialidades Médicas], não realizamos o teste cutâneo alérgico, também conhecido como ‘prick test’, que é amplamente utilizado em consultórios particulares. No entanto, por meio de um convênio entre a Prefeitura Municipal de Campo Grande e o Iped/Apae, conseguimos solicitar exames de IgEs específicas, um tipo de exame de sangue que ajuda na investigação de alergias, conforme a indicação clínica.”

Ainda de acordo com o especialista, o SUS fornece medicamentos básicos para controle de sintomas alérgicos durante o tratamento de alguns casos, como anti-histamínicos, corticoides tópicos ou orais, broncodilatadores, entre outros. A imunoterapia — por exemplo, vacinas para alergia — e os imunobiológicos também não estão amplamente disponíveis no SUS em Campo Grande, o que limita parte do tratamento em casos mais graves.

Mais de 30 tipos de alergia

Há sete anos, Giovani Insfran Freire trava batalhas na Justiça para conseguir tratamento especializado para o filho Alexandre. O menino nasceu com hipersensibilidade a diversos fatores. Apesar de idas e vindas incansáveis a unidades de saúde, o paciente nunca recebeu um diagnóstico preciso, pois já apresentou crises com mais de 30 reagentes.

Na última decisão do processo, movimentado com apoio da Defensoria Pública de , a família recebeu parecer favorável que exige o acompanhamento do município no caso de Alexandre. O pai apresentou a documentação na Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) e conseguiu um agendamento para atendimento especializado, previsto para setembro deste ano.

Em maio, o pai havia ingressado com uma ação na Defensoria após alegar que o Humap- (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) abandonou o acompanhamento médico. Na época, o hospital alegava que o pai havia abandonado o atendimento, enquanto Giovani diz que os médicos que atenderam o caso afirmaram que não conseguiriam tratar o menino.

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Alexandre enfrenta consultas frequentes para descobrir um tratamento. (Arquivo pessoal)

‘Meu filho perdeu a infância por conta dessas alergias’

“Entre 2018 e 2019, ele teve a primeira crise alérgica. Não deram atenção, acharam que era picada de inseto. Depois de umas 15 idas ao pronto-socorro, decidiram encaminhar para a alergista, que abandonou o caso dele. A doutora disse que não dava conta de curar meu filho pelo SUS. Eu disse que tinha retornos agendados, mas ela foi embora da sala.”

“Ele tem mais de 30 reagentes, sem nenhum tratamento. Um dos piores é o ácaro e, infelizmente, não tem como acabar com isso. Tem tratamento, mas está longe de chegar nessa fase. São sete anos nessa saga. Meu filho perdeu a infância por conta dessas alergias. É impossível ter um bom desenvolvimento na escola. Já até acionaram o Conselho Tutelar por conta de faltas na escola.”

Giovani conta que é pai solo e também precisa cuidar da mãe idosa. Por precisar prestar dedicação exclusiva aos dois, não consegue manter um emprego fixo, vivendo apenas de “bicos” para manter o sustento da casa, na Vila São Jorge da Lagoa, região da Lagoa, em Campo Grande.

“A próxima consulta daqui a dois meses é uma luz no fim do túnel.”

Possibilidades do SUS

Conforme o Ministério da Saúde, é importante considerar a história clínica da pessoa para ter o diagnóstico da alergia. O paciente deve informar ao especialista sobre as condições ambientais que o rodeiam, seja na residência, seja no trabalho ou no contato com animais.

Os métodos mais utilizados para o diagnóstico das alergias são os testes cutâneos, o teste RAST ou de determinação de IgE (que detecta a presença do anticorpo IgE — componente que pode mapear o contexto da alergia) e os testes de provocação.

O tratamento pode ser iniciado na atenção primária, por meio de uma das UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Após a primeira avaliação, o paciente é encaminhado, se necessário, para um especialista, como alergologista, pneumologista ou dermatologista.

O tratamento dos processos alérgicos é fundamentado na identificação do fator ou dos fatores desencadeantes das crises. Para isso, são realizados diversos exames e testes.

Serviço em Campo Grande

A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que a Rede Municipal oferece, pelo SUS, o teste de alergia do tipo sanguíneo (Imunoglobulina E). Logo, esse exame é o mais comum na rede pública. O atendimento especializado em Alergologia e Imunologia é disponibilizado a partir de encaminhamento médico feito pelas unidades básicas, conforme os critérios estabelecidos em protocolo. O serviço é ofertado no Centro de Especialidades Médicas (CEM II), no Hospital Universitário (Humap/UFMS) e, também, contempla consultas pediátricas.

Outras especialidades médicas também podem atuar no atendimento de casos alérgicos, como a Pneumologia e a Dermatologia. Na Dermatologia, são acompanhadas doenças alérgicas da pele, enquanto na Pneumologia podem ser prescritas medicações específicas, como inalantes e sprays nasais, conforme a avaliação clínica.

Em relação ao tratamento, o SUS disponibiliza medicamentos como anti-histamínicos e corticosteroides, tanto de uso tópico quanto oral e, em alguns casos, de uso sistêmico. Algumas medicações específicas também estão disponíveis na Casa da Saúde, conforme Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do SUS. A imunoterapia para alergias (“vacinas para alergias”) não é um tratamento padrão e não está incluída na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) do SUS.

A Sesau reforça que o serviço vem sendo ampliado gradualmente, inclusive com reforço de mais profissionais, para que as demandas em regulação sejam atendidas.

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