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Cotidiano

‘Sempre soube que seria pai’: por meio da adoção, Caciano conheceu seus quatro filhos

"Sempre sonhei em ter uma grande família! Ter a mesa cheia nas refeições era algo que buscava!"
Jennifer Ribeiro -
Caciano e os filhos (Ilustração, Giovana Gabrielle)

Adoção é um ato de coragem, uma escolha consciente de acolher uma vida, com toda a sua história, suas marcas e suas potencialidades. É sobre criar novos vínculos, estabelecer pertencimento e oferecer um lar onde antes só havia incertezas.

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Em Mato Grosso do Sul, 848 crianças e adolescentes vivem em instituições a espera de uma oportunidade de serem acolhidos por famílias que enxerguem neles não apenas uma história do passado, mas um futuro maravilhoso a ser vivido. E não, não é um caminho fácil: exige preparo emocional, disponibilidade afetiva e, principalmente, a capacidade de respeitar o tempo e a singularidade de cada criança ou adolescente.

Neste domingo (25), Dia da Adoção, contamos a história de Caciano Silva Lima e de seus quatro filhos, um exemplo de como a adoção pode ser, acima de tudo, uma escolha de amor: potente, transformadora e, muitas vezes, inesperada.

‘Sempre soube que seria pai’

Para Caciano, gestor cultural e arte-educador, a paternidade era uma certeza, um sonho cuidadosamente planejado. Nos anos que antecederam a primeira adoção, ele buscou terapia, fez cursos, visitou e trabalhou em prol de instituições de acolhimento.

“Sempre sonhei em ser pai, sempre sonhei em ter uma grande família! Ter a mesa cheia nas refeições era algo que buscava! Via aqueles filmes clássicos, principalmente os italianos, de famílias com muitos filhos e muito comida à mesa e pensava: meu dia vai chegar. Nunca mensurei em números, juro! Foi acontecendo”, conta.

Até que o dia tão aguardado chegou, e de um jeito que nem ele poderia imaginar. Caciano participava de um curso de adoção online, no início da pandemia, quando conheceu Luiz Fernando Silva Lima, hoje com 17 anos. Bastou saber um pouco da história do menino para ele ter a certeza: ali ele conhecia seu primeiro filho. “Vi a foto dele, ouvi um pouco da sua história e, naquele instante, nasceu uma família”, lembra.

Caciano e os filhos (Reprodução, Aniela Paes)

Família aumentou

Pouco tempo após o encontro, Caciano conheceu seu segundo filho, Gabriel Silva Lima, hoje com 13 anos. Na época, o gestor cultural estava em ajudando a produzir fotos para um aplicativo destinado a facilitar processos de adoção. Naquele momento, não estava em seus planos adotar, mas, não teve jeito. A certeza de que havia acabado de conhecer mais um filho era latente em seu coração logo que conheceu o menino. “Ele cantou uma música para mim, e naquele momento, eu vi ali o meu segundo filho”.

O destino, porém, ainda reservava outras surpresas. De volta a , Caciano conheceu Kauan Silva Lima, também de 17 anos, no Fórum, onde o adolescente trabalhava como menor aprendiz no Projeto Padrinho. “Um querido, o Kauan — todo na vibe nerd! Não teve jeito: convidei-o para passar uns dias em casa. E, quando fui buscá-lo no abrigo, vi o Breno. Bastou aquele encontro para me conectar com ele também”, conta.

Mas é claro, sempre haverá apontamentos e questionamentos quanto às decisões dos pais. Caciano conta que após conhecer Breno, hoje com 15 anos, muitas pessoas começaram a “olhar torto”, desconfiados sobre a decisão ‘repentina’ de ter quatro filhos.

“‘Quatro? Não, Caciano, agora chega!’ Então, tentei encontrar um pai para o Breno. Mas não teve jeito… ele já era meu filho. Após algumas tentativas com outras famílias, acabou voltando para mim”, lembra.

‘A gente se adapta o tempo todo’

Segundo Caciano, a paternidade, embora realizadora, garante surpresas e novidades o tempo todo. Todos os dias a família se reajusta e se readapta. Por isso, contar com o suporte de sua rede de apoio foi — e ainda é — fundamental.

“Precisamos ter disposição plena para amar, ou seja, ter espaço no coração para acolher histórias que, muitas vezes, vão te desafiar e carregar marcas profundas. Sem o apoio das técnicas, eu não teria conseguido. E se as juízas não tivessem enxergado meu coração, menos ainda”, conta ele.

“Minha mãe, que mora no mesmo edifício que eu, é a minha principal rede de apoio. Além dela, conto muito com os colaboradores das escolas e com os terapeutas que acompanham meus filhos. Consegui construir um grande círculo, onde cada pessoa contribui de alguma forma. Há muita gente especializada na área que oferece amor de forma genuína e despretensiosa — e isso faz toda a diferença”, frisa.

Desafios na jornada

Caciano pontua que existem diversos desafios na jornada. Muitas pessoas romantizam as histórias de adoções e se dizem engajadas na causa. Na prática, o cenário é bastante diferente. “Quase ninguém dessas bandeiras adota ou ajuda de fato as crianças e adolescentes que mais precisam. Salvo raras e honrosas exceções, o que vejo é discurso vazio. Agora, então, entrou na moda essa onda das bonecas reborn. Meu Deus… Que retrocesso! Quanta atenção e afeto desperdiçados em objetos, enquanto tantas vidas reais clamam por cuidado, presença e amor”.

Outra dificuldade é quanto à licença paternidade, momento tão importante para a construção de vínculos afetivos entre pais e filhos. No contexto da adoção, esse direito é ainda mais essencial, já que o processo exige uma presença intensa, acolhimento e adaptação mútua.

“É fundamental lembrar que também temos direitos, como qualquer outro pai ou mãe. Nunca utilizei oficialmente esse recurso, mas tive o privilégio de contar com chefes e equipes sensíveis à minha realidade. Por isso, se você trabalha com alguém que se tornou pai ou mãe recentemente, seja bondoso e parceiro. As primeiras semanas são desafiadoras, e todo apoio faz diferença!”, frisa.

Hoje, a mesa de jantar que ele tanto sonhou está cheia, e o coração, confiante de que tudo aconteceu do jeito e no tempo certo. “Minha família é dinâmica, cheia de amor… E minha jornada não acabou! Daqui a pouco meus filhos entram na universidade, seguem seus rumos e eu terei tempo e amor de sobra para continuar ampliando esse grande projeto que se chama família”.

Caciano e os filhos (Reprodução, Aniela Paes)

Adoção em MS

Em Mato Grosso do Sul, o processo de habilitação segue as regras estabelecidas pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e pela legislação vigente.

Para adotar uma criança ou adolescente, é necessário que o pretendente passe por um curso formativo, entre com o pedido na vara com a competência da infância de sua cidade, participe das ações do processo, como entrevistas com psicólogos e assistentes sociais, audiências, junte os documentos exigidos, entre eles, comprovante de residência, renda, documentos pessoais, certidões negativas e atestados de saúde física e mental.

Uma vez com sentença favorável pela habilitação, os pretendentes são registrados no SNA (Sistema Nacional de Acolhimento) e começam a figurar nas buscas realizadas a partir do cadastro da criança, visando localizar pretendentes compatíveis.

A ‘fila’ é subjetiva. Mesmo que haja uma classificação na comarca, estado e país que organiza o pretendente por data de sentença de habilitação, quem determina a classificação definitiva é a criança apta para adoção, listando os pretendentes a partir das características descritas no momento do registro da habilitação.

Atualmente, no Estado, 848 crianças e adolescentes estão em instituições de acolhimento. Desses, 98 são maiores de 16 anos, sendo que, 1/3 dos acolhidos estão na faixa etária acima de 12 anos.

Em 2025, 25 adoções foram concluídas em Mato Grosso do Sul. Há 237 pretendentes com habilitação ativa e 137 crianças aptas para adoção que não encontraram um pretendente.

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