Apesar de sancionada a Lei n. 7.418/2025, que institui o Plano de Erradicação e Substituição da Planta Exótica Leucena, no município de Campo Grande, ainda não há prazo para tirar a ideia do papel. Além disso, especialistas avaliam que a remoção da espécie não será fácil, e o plano levará anos para ser executado.
Antes considerada ‘árvore milagrosa’, por crescer rapidamente mesmo em áreas degradadas, a espécie exótica se tornou uma grande ‘dor de cabeça’, devido ao seu comportamento agressivo, sufocando e inviabilizando o crescimento de espécies nativas.
Em Campo Grande, a árvore pode ser encontrada tanto em áreas de preservação permanente quanto em partes isoladas em lotes particulares e de imóveis públicos, demandando um mapeamento para localizá-las e traçar planos para sua remoção.
Atualmente, a Prefeitura de Campo Grande não dispõe do quantitativo de leucenas existentes na Capital. No entanto, um mapeamento da espécie está sendo desenvolvido pela Prefeitura, em parceria com a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), que deverá ser utilizado no plano de substituição e recuperação de áreas degradadas. Até que seja feita a regulamentação da lei, não há prazo para a execução do plano.
✅ Clique aqui para seguir o Jornal Midiamax no Instagram
Como vai funcionar a lei em Campo Grande?
Com a lei sancionada, a auditora fiscal de meio ambiente da Semades (Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico, Turístico e Sustentável), Silvia Rahe Pereira, explica que o primeiro passo previsto é realizar o mapeamento das áreas onde a espécie se encontra no município. Somente após definirá um plano de restauração e substituição da árvore invasora por espécies nativas, visando causar o mínimo impacto possível à biodiversidade local.
Ou seja: um mapeamento da espécie é indispensável para haver noção do quantitativo de leucenas em Campo Grande e, a partir disso, elaborar uma estratégia. Além disso, conforme a auditora, a leucena está inserida na cidade em diferentes situações. Assim, o mapeamento também é necessário para definir um plano de ação para cada caso.
“Na regulamentação da lei, a gente vai ter que olhar para essas diferentes situações e atacar de diferentes maneiras. Em uma área de preservação permanente, por exemplo, tem que ter um projeto de recuperação de áreas degradadas. Então, tem todo um procedimento administrativo que difere do corte desta espécie em um imóvel privado, por exemplo”, explica Silvia.

O controle da espécie poderá levar anos
Conforme explica a auditora, a regulamentação deve vir em breve, mas a elaboração do plano e a execução dele poderá levar vários anos. Ela revela que ainda não há uma metodologia barata para ser aplicada em larga escala, e que o processo será gradativo.
A erradicação, no entanto, é um ‘sonho’ inalcançável, segundo Silvia. Isso porque estudos sobre a leucena apontam que só é possível fazer o controle da espécie devido a sua característica resistente, de fácil reprodução, além de sua classificação entre as 100 piores espécies invasoras no mundo.
Além disso, já existem na cidade algumas iniciativas para fazer a substituição da leucena por espécies nativas, como a Ecoplantar, que realiza, por meio de parcerias privadas, o plantio de árvores nativas no Córrego Segredo, no intuito de ‘sufocar’ o nascimento de novas árvores invasoras. No entanto, o trabalho exige ‘vigia’ constante para controlar o nascimento de novas leucenas.
“Eles realizam a substituição com uma técnica de corte e plantio de plantas nativas em alta densidade, para sombrear a área rapidamente e fechar rapidamente. Só que, mesmo assim, tem que ter um controle constante das leucenas que começam a germinar no local”, explica, sobre a iniciativa. “Todo mundo que trabalha na área quer, de alguma forma, atuar para, pelo menos, minimizar os danos que ela produz. Só que não é uma tarefa fácil. A gente não consegue ainda, em larga escala, ter uma solução”, completa a auditora.
População pode solicitar remoção
A população também pode fazer o pedido de remoção da leucena. No entanto, a supressão e substituição da espécie depende de autorização prévia da gerência de Arborização da Semades.
A autorização para remoção da árvore só ocorre após a avaliação técnica feita pela fiscalização ambiental, podendo ser emitida mediante requerimento. As informações para formalização do pedido devem ser consultadas no Portal da Semades, no site da Prefeitura de Campo Grande.
O pedido pode ser feito tanto presencialmente, na Gerência de Arborização, localizada no prédio anexo à Central de Atendimento ao Cidadão da Prefeitura, quanto on-line. Clique aqui e saiba como solicitar on-line a poda e remoção de árvores em Campo Grande.
Como a leucena veio parar em Campo Grande?
Árvore nativa da América Central, a leucena tem se mostrado um problema não somente para Campo Grande, como também para diversas cidades e países. Ela foi introduzida no Brasil como uma planta utilizada para forragem para gado, devido ao seu alto teor de proteína.
“A leucena é uma leguminosa, capaz de fixar o nitrogênio da atmosfera nos constituintes dela, o que é bom para alimento para gado. Só que ela tem um potencial de se proliferar gigantesco. Ela produz muitas sementes e quase todas germinam, ou ficam no solo viáveis por longos períodos. Ela também é helopática; ou seja, produz substâncias que, depositadas no solo, não deixam outras espécies se estabelecer perto dela”, explica a auditora.
Pelo fato de a planta ser fixadora de nitrogênio, também chegou a ser cogitado o uso dela na recuperação de áreas degradadas. “O que foi um grande erro, porque quando ela se estabelece no local, ela dificulta o estabelecimento das outras espécies nativas”, completa Silvia.
Por que a leucena foi proibida?
Conforme o projeto apresentado na Câmara de Campo Grande, a presença da planta leucena em ecossistemas nativos compromete a biodiversidade ao competir com espécies locais, podendo reduzir em até 70% a diversidade de plantas nativas nas áreas afetadas.
“A proposta não somente combate uma planta que ameaça o equilíbrio ambiental. Também conscientiza a população sobre a importância de preservar nosso ecossistema”, destaca a lei. Para viabilizar a execução do plano, o Poder Executivo autoriza convênios e parcerias com órgãos públicos e instituições privadas.
Espécies não recomendadas para plantio
Atualmente, a Semades passa por um processo de revisão e atualização do Guia de Arborização Urbana de Campo Grande. O novo material trará atualizações no plano diretor, além de novas informações sobre plantas invasoras e tóxicas, e como realizar o manejo e plantio adequado de espécies.
A Secretaria disponibilizou uma lista prévia, com as espécies exóticas invasoras que não são recomendadas para serem plantadas na Capital. Muitas delas ainda podem ser encontradas na arborização urbana; no entanto, Silvia alerta que estas espécies são, muitas vezes, tóxicas, ou possuem histórico de acidentes com pessoas ou animais domésticos.
Espécies proibidas para plantio
Além da leucena, a murta, também conhecida como dama-da-noite, é proibida para plantio. No início de julho, a Prefeitura informou que o plantio, a comercialização, o transporte e a produção da planta serão proibidos, por lei, em todo o território de Campo Grande.
O projeto de lei municipal se baseia na legislação estadual vigente, que já reconhece o papel da murta como hospedeira do psilídeo transmissor do Greening e segue diretrizes técnicas estabelecidas pela Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), juntamente à Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) e ao Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária).
A murta é uma planta ornamental, comumente encontrada em jardins urbanos. No entanto, a espécie também atua como hospedeira alternativa para o inseto Diaphorina citri, vetor da bactéria Candidatus Liberibacter spp., causadora do Greening, que compromete a produtividade e a qualidade dos frutos cítricos, podendo levar à morte das árvores.
💬 Fale com os jornalistas do Midiamax
Tem alguma denúncia, flagrante, reclamação ou sugestão de pauta para o Jornal Midiamax?
🗣️ Envie direto para nossos jornalistas pelo WhatsApp (67) 99207-4330. O sigilo está garantido na lei.
✅ Clique no nome de qualquer uma das plataformas abaixo para nos encontrar nas redes sociais:
Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, WhatsApp, Bluesky e Threads.
***