Em uma das ruas mais movimentadas do bairro Tiradentes, um pequeno comércio destoa dos demais. Apesar do nome “oficina” e da parede repleta de ferramentas, o local não se dedica a consertos automotivos ou elétricos. Ali, o foco exclusivo é o conserto de panelas.
Embora raro, esse tipo de comércio não é único em Campo Grande. Em diferentes bairros, oficinas especializadas nesse ramo sobrevivem à era do consumo descartável, desafiando a lógica do “comprar e substituir”.
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Mas como esses negócios se mantêm?
Desde a Revolução Industrial, a produção em massa transformou as relações de consumo. Seja pela qualidade reduzida dos produtos ou pelo fácil acesso a novos bens, a substituição tornou-se um hábito, o que, muitas vezes, não considera os impactos ambientais e a geração de lixo.
Assim, profissões itinerantes, como o famoso ‘carro da sucata’ que passava de porta em porta oferecendo consertos, tornou-se raridade. Mas, em meio a essa mudança de comportamento, as oficinas de panelas resistem e mostram que para muitos consumidores, o conserto ainda vale mais do que o descarte.
Oficina de panelas deu a oportunidade para Ailton se reinventar

Há três anos, o casal Ailton Marcos e Maria Silvia decidiram abrir a oficina de panelas localizada na Avenida José Nogueira Vieira, no bairro Tiradentes. Logo, o que começou como um hobby se transformou em um negócio lucrativo, a ponto de Ailton deixar para trás sua profissão de eletricista.
“Trabalhei 40 anos como eletricista predial. Há três anos, decidi reinventar minha vida porque não aguentava mais essa profissão. A idade foi chegando e eu fui ficando para trás. Foi quando me foquei neste ramo e, desde então, estou conseguindo sobreviver.”
O casal conta que, a princípio, achava que quem mais procuraria o serviço seriam pessoas de classes mais baixas. Mas, na prática, os clientes que mais trazem panelas para conserto são da classe média e alta, especialmente moradores de condomínios. Segundo ele, isso acontece porque esse público costuma comprar panelas de melhor qualidade, que valem o conserto.
“Curiosamente, temos poucos fregueses aqui no bairro. A maioria dos nossos clientes vem de outras regiões da cidade, especialmente do centro, além de restaurantes, creches e escolas. Já recebemos panelas de vários lugares do mundo, Japão, Alemanha. Muitas vezes não existem peças de reposição no Brasil, então precisamos adaptar soluções para que o cliente continue usando o produto”.
Cada panela carrega uma história
Valdemir Rocha trabalha no ramo de conserto de panelas há nove anos, na Rua Marquês de Lavradio, também no bairro Tiradentes. Ao longo desse tempo, percebeu que a maioria dos clientes busca produtos de qualidade e durabilidade. Segundo ele, os clientes que chegam na ‘Conserte oficina de panelas’, muitas vezes, procuram por serviços simples e de fácil resolução.
“Meus clientes são pessoas que valorizam bons produtos. Itens que com a manutenção adequada, duram muitos anos. Com certeza, a sustentabilidade tem um papel importante nessa escolha”, afirma.
Quando alguém opta por consertar em vez de descartar, contribui para a redução de resíduos e evita o desperdício de materiais como o alumínio. “Saber que estamos ajudando o meio ambiente de alguma forma nos dá um grande orgulho”, ressalta Ailton.
Além da questão financeira e sustentável, o conserto de panelas também carrega histórias de apego emocional. “Muitas vezes, um cliente traz a panela para consertar porque pertenceu à mãe ou à avó que já faleceu ou foi presente de alguém querido. Sempre aparece uma história assim, e na maioria das vezes, é comovente”, conta Valdemir.
Toda panela tem conserto?

Ailton explica que sim, toda panela tem conserto. No entanto, muita gente acaba não consertando por não encontrar um serviço especializado. Ele ressalta que os problemas mais recorrentes estão relacionados à borracha de vedação.
“A panela de pressão, por exemplo, precisa passar por manutenção preventiva regularmente. O ideal é trocar a borracha, a válvula de segurança, o pino e o peso periodicamente”.
Além disso, ele ressalta que muitas pessoas lavam apenas superficialmente, o que pode entupir os orifícios por onde o vapor sai. Com o tempo, esse acúmulo pode fazer a panela empenar ou até estufar. Por isso, é recomendável realizar uma manutenção preventiva pelo menos uma vez por ano.
Valdir Prado trabalha em um restaurante ao lado da oficina de panelas e, por isso, sempre recorre aos serviços de Ailton quando precisa de reparos.
“No restaurante usamos panelas industriais, então, sempre que tenho problemas, venho aqui. Acho que compensa muito mais do que comprar novas. Hoje em dia as panelas não têm a mesma qualidade de antigamente”, comenta Valdir.
Custo médio

O valor do conserto é bem variável. Na oficina de Ailton, o serviço mais simples custa a partir de R$ 10,00, enquanto os mais complexos podem chegar a R$ 150,00 ou R$ 180,00, dependendo do tamanho e das peças necessárias para o reparo.
“Definitivamente, vale mais a pena consertar. Hoje em dia, há muitas panelas baratas no mercado, mas a qualidade delas nem sempre valem o preço. As panelas de melhor qualidade, quando bem cuidadas, duram muito tempo”.
Segundo Ailton, o custo do conserto, geralmente, fica menos de 20% do valor de uma nova, o que torna a manutenção uma opção bem mais vantajosa.
Mesmo que bem cuidada, toda panela ainda passa por um processo de desgaste natural, que ocorre independente do material. Na oficina de Valdemir, os problemas mais recorrentes que chegam até ele incluem a perda de pressão, cabos quebrados e falhas na válvula de segurança.
“Os preços vão de R$ 40 a R$ 380, dependendo do tipo de panela, mas sem dúvidas, consertar é sempre mais vantajoso. A parte mais difícil costuma ser o preço das peças, pois precisamos repassar o custo ao cliente e ele nem sempre entende”, diz.
Para ele, um ponto que chama atenção é a grande quantidade de panelas novas que chegam para conserto, especialmente compradas pela internet. Por isso, a recomendação é escolher bem antes de comprar uma panela nova.
“A principal dica é observar a qualidade do alumínio. Panelas com alumínio muito fino deformam facilmente com o calor, estufam e começam a vazar. O ideal é escolher panelas feitas com alumínio mais grosso, que são mais resistentes e duram mais tempo”, orienta Ailton.
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