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Cotidiano

No Dia Mundial do Trabalho, campo-grandenses compartilham desafios e alegrias de suas profissões

Em uma época em que muitos vivem para trabalhar - ao invés de trabalhar para viver -, repensar nossa relação com o mercado é fundamental
Jennifer Ribeiro -
Centro de Campo Grande (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Para uns, o trabalho é sinônimo de realização pessoal, propósito e conquista. Para outros, representa cansaço, rotina ou até mesmo frustração. Em uma época em que muitos vivem para trabalhar – ao invés de trabalhar para viver -, repensar nossa relação com o mercado é fundamental: o que nos motiva a levantar todos os dias e cumprir com nossos compromissos profissionais? Como equilibrar a necessidade de sustento com o desejo de sentido e pertencimento?

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No Dia do Mundial do Trabalho, o Jornal Midiamax compartilha histórias de campo-grandenses que, apesar dos desafios diários, encaram a lida com motivação e determinação, em busca de um futuro justo e equilibrado entre vida pessoal e profissional.

“Faço aquilo que sustentou minha família a vida toda”

Quem trafega pela Rua 14 de Julho provavelmente já trombou com Lucineia Vilagra, pipoqueira de 43 anos. Determinada e de sorriso fácil, fala alegremente sobre a profissão que exerce há 3 anos, uma ‘herança’ de seu pai, que atuou no ramo por mais de 40 anos, até dezembro de 2024, quando precisou se aposentar por questões de saúde.

Vinda de uma família que trabalha no ramo da gastronomia há anos, foi nas ruas de que a autônoma encontrou propósito profissional, apesar das dificuldades cotidianas.

“Tem período que é difícil e as vendas diminuem, mas eu gosto da minha profissão, porque faço aquilo que sustentou minha família a vida toda. Atualmente, toda a minha renda vem das pipocas que vendo aqui no centro”.

Embora ame o que faz, Lucineia conta que nem tudo são flores, afinal, trabalhar com atendimento ao público pode ser desafiador. “Pode não parecer, mas para fazer o que faço, tem que gostar, tem que ter paciência. A gente lida com todo tipo de gente. Além disso, nem sempre as vendas são como esperamos. Tem dia que o centro está movimentado, mas vendo pouco. Já em outros dias, o centro está tranquilo e vendo bem. Tem que ter determinação”, frisa.

Sobre o futuro na profissão, Lucineia afirma não se ver exercendo outra função. Por outro lado, espera que as pessoas tenham mais empatia e saibam reconhecer o trabalho digno dos profissionais que dão vida ao centro e corroboram para história de Campo Grande.

Lucineia durante o trabalho (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

“Esperança de poder proporcionar o melhor para minha família”

Embora tivesse condições de estudar e se formar em qualquer profissão, tendo ainda, em seu coração, o desejo de ser professor, Gabriel Ferreira de Souza, de 36 anos, decidiu seguir os passos de seu pai, tornando-se caminhoneiro. Para ele, o trabalho que exerce hoje não é só uma realização pessoal, como também a esperança de poder proporcionar o melhor para sua família.

Gabriel Ferreira durante viagem (Reprodução, Arquivo Pessoal)

Enquanto caminhoneiro, Gabriel já percorreu diversos estados brasileiros e pôde conversar com ribeirinhos da , do Pantanal, além de pessoas da Argentina, Chile, Bolívia, e Peru.

No entanto, a vida na estrada, embora satisfatória, tem seus desafios. Além da vulnerabilidade que envolve estar viajando constantemente, tem o tempo que se abdica daqueles que se ama, inclusive, em datas comemorativas.

“Minha maior alegria é chegar em casa e ver a felicidade nos olhos da minha família. Quando chego, sei que estou cumprindo meu dever de não deixar que falte algo para eles. Por outro lado, a dificuldade está em não poder ficar perto da esposa e dos filhos o tempo todo. Esse é o maior peso de se estar na estrada. Além disso, no meu caso, que sou autônomo, todo tipo de problema que me acontece preciso resolver sozinho para conseguir voltar para casa”, pontua.

Para Gabriel, a remuneração da categoria é razoável, mas ainda longe do ideal. Já no quesito ‘valor humano’, não há valorização. Isso, somado ao fato de estar distante da família na maior parte do tempo, já fez com que o caminhoneiro cogitasse abrir um comércio.

“Apesar disso, pretendo continuar na estrada. Quero terminar minha casa, adquirir patrimônio e garantir um futuro para meus filhos”.

“Meu trabalho é a extensão do meu propósito de vida”

“Criada para criar”. É assim que Flavi Freitas, de 28 anos, define a essência e o propósito da profissão que exerce atualmente. Aliás, das profissões. Ela é publicitária, fotógrafa, designer e diretora de arte. Flavi conta que quando criança sonhava em ser advogada, mas, conforme foi crescendo, seu lado criativo aflorou. Aos 12 anos, ganhou sua primeira câmera de fotografia e ali, soube: a rota havia mudado completamente.

“Me lembro bem dessa fase, pois minha influência cultural artística veio através de artistas como Vincent van Gogh, Tarsila do Amaral, e isso permanece até hoje. Quando eu tinha 12 para 13 anos, minha mãe deu uma câmera de presente e foi assim que me apaixonei pela fotografia. Hoje meu trabalho é extensão do meu propósito de vida, que é comunicar Cristo”.

Flavi pontua que a maior alegria de seu trabalho está no senso de pertencimento, em saber que faz parte do sonho ou da construção de algo. “Ver a concretização do projeto final, é como se pequenos pedaços de mim ficassem eternizados nesse mundo”.

Mas é claro que, assim como em qualquer outra profissão, no mundo publicitário há desafios. A começar pelos prazos, sempre tão curtos e pelo achismo comum de que o trabalho do profissional é rápido porque é “só uma artezinha” ou só um “videozinho”. Mas tem ainda o desafio do mercado publicitário, enquanto contratante, reconhecer que é ‘justo que custe muito o que muito vale’.

“Muitas vezes vemos cargos com múltiplas funções sem a devida remuneração. Às vezes nem é sobre ter mais de uma função, é sobre receber por ela. E não, não é sobre dinheiro, é sobre ser justo, é sobre o estudo envolvido, é sobre o tempo que investimos para aprender o que sabemos, sem contar as cargas-horárias que ultrapassam o que um corpo é capaz de suportar”.

Sobre a exaustão que o trabalho ininterrupto pode acarretar, Flavi entende bem. Em 2024, ela enfrentou um Burnout.

“É possível você amar muito o que faz e ainda assim isso ser sua válvula de escape, pois a paixão e o excesso andam de mãos dadas. Hoje tento, diariamente, encontrar o equilíbrio e dar uma nova perspectiva para uma mente que, por anos, romantizou o fato de ser ‘workaholic'”.

Com uma rotina mais equilibrada, a publicitária espera poder, por meio de seu trabalho, “participar de sonhos, histórias e memórias”.

“Tive recentemente o privilégio de fazer um rebranding de uma marca que meu pai fez há anos. Foi uma honra dar continuidade na história, no legado, e manter seus traços juntamente com os meus. É o tipo de projeto que o dinheiro não paga”.

Flavi Freitas em estúdio e primeira câmera que ganhou (Reprodução, Arquivo Pessoal)

“Meu trabalho é minha razão de estar vivo”

Decidir qual curso superior realizar é uma das decisões mais difíceis a se tomar, especialmente na adolescência. Fernando Almeida, de 44 anos, sabe bem disso. Hoje ele é professor de educação física em uma escola pública e Personal Trainer, mas até que ‘a profissão o escolhesse’, muitas possibilidades foram cogitadas.

“Sempre tive muita dificuldade em escolher o meu lado profissional. Eu fazia aqueles testes vocacionais na escola e dava 33% para todas as áreas, sabe? Humanas, exatas e biológicas. Prestei para odontologia, publicidade e propaganda e até cursei engenharia ambiental. Só que comecei a não gostar da parte da engenharia e, na época, com 24 anos, comecei a praticar atividade física, a cuidar do meu corpo. Me apaixonei por isso, em ver os efeitos que a atividade física tinha na minha saúde. Como não estava feliz no curso, resolvi largar tudo e prestar vestibular para educação física, com foco em me tornar personal”.

Fernando Almeida é professor e personal. (Reprodução, Arquivo Pessoal)

Provando que não existe idade certa para recalcular a rota, Fernando se apaixonou pelo ato de ensinar. Com o diploma em mãos, decidiu atuar tanto em escolas, como em academias.

“Hoje o trabalho é minha razão de estar vivo. Sei que eu cuido dos meus alunos, tanto enquanto personal trainer, quanto professor na escola. Ensino meus alunos a desenvolverem paixão pela atividade física, pela saúde. Sou extremamente apaixonado em cuidar das pessoas”.

E para ele, nem sempre feriado é dia de descanso. Tanto que neste dia 1° de maio, Fernando atenderá alguns alunos normalmente. “Sei que alguns preferem não treinar no feriado, mas isso acaba atrapalhando o condicionamento físico. Então atendo meus alunos no feriado, sim”.

Enquanto personal, uma das principais dificuldades é abrir os olhos dos alunos quanto as mudanças de hábitos, tanto em relação à alimentação, quanto de exercícios, já que a profissão tem sido mais respeitada e valorizada com o passar dos anos.

Agora, no que se refere a atuação em escola, a falta de valorização ainda é uma luta a ser superada. “Existem muitas brigas em relação às conquistas salariais, ao respeito e à postura que os pais têm em relação aos profissionais que trabalham na educação escolar. A sociedade ainda projeta muitas responsabilidades para o professor, que não são deles”.

Apesar das incertezas iniciais e dos desafios constantes, Fernando tem a certeza de estar no caminho certo. “O brilho dos alunos, vê-los apaixonados pela minha aula, receber feedbacks positivos da minha gestão e ter estabilidade financeira com certeza me motiva muita. Depois de quase 20 anos, consegui conquistar muito respeito no mercado e perante meus alunos. Isso me faz querer melhorar, crescer e estudar”.

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