Mudanças climáticas sem precedentes podem causar extinção de anfíbios no Pantanal
O atual desaparecimento dos anfíbios está associado à redução de áreas protegidas e úmidas em Mato Grosso do Sul
Karina Campos –
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O Pantanal de Mato Grosso do Sul tenta se recuperar da crise hídrica há sete anos, consequentemente, o bioma repete o cenário de incêndios, áreas de preservação devastadas e morte de várias espécies. Um recente estudo mostra que as mudanças climáticas sem precedentes já estão favorecendo a extinção de anfíbios na maior planície alagada do mundo.
Diego Santana, coautor do estudo e professor do Instituto de Biociências da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), apresenta na nova pesquisa o impacto das mudanças climáticas. O documento indica danos cruciais que estão causando a perda considerável, em especial da rã-venenosa-dos-guimarães, perereca-macaco-do-planalto-central e do sapinho-de-barriga-vermelha-do-chaco.
No estudo, a previsão é de que até 2100, entre 16% e 27% das espécies de anfíbios do Pantanal podem enfrentar extinções locais, dependendo do cenário climático. Mesmo seguindo o acordo de Paris, que seria um cenário otimista, já apresenta perda de cerca de 16% das espécies de anfíbios.
“Esse número, provavelmente, vai ser maior, dados as mudanças do clima que estamos vendo. Alguns exemplos de espécies que poderiam desaparecer seriam espécies como a rã-venenosa-dos-guimarães (Ameerega braccata) e a perereca-macaco-do-planalto-central (Pithecopus centralis). Ou ainda o sapinho-de-barriga-vermelha-do-chaco (Melanophryniscus fulvoguttatus), estas que estão entre as mais vulneráveis, devido à sua distribuição restrita e dependência de habitats específicos, como zonas de transição e áreas úmidas”, destaca.
A caminho da extinção
Uma espécie não desaparece repentinamente, contudo, nos últimos anos, as áreas pesquisadas indicam mudanças significativas nas populações de anfíbios. Espécies que antes eram comuns em várias regiões do Brasil, especialmente no Pantanal, agora são encontradas em menor quantidade ou, em alguns casos, praticamente desapareceram. Muitas dessas espécies dependem diretamente da água, e no Pantanal, onde os níveis hídricos variam naturalmente ao longo dos anos, sempre existe a esperança de recuperação.
No entanto, desde 2019, a seca tem sido extremamente severa, agravada por incêndios recorrentes, que estão intimamente ligados às mudanças climáticas. Esses eventos afetam quase todo o bioma, não apenas áreas isoladas. Além disso, a falta de unidades de conservação no Pantanal — com apenas uma no Mato Grosso do Sul e outra no Mato Grosso — limita drasticamente a proteção da biodiversidade pantaneira.
Em 2023, o Jornal Midiamax havia publicado a pesquisa que indica a ameaça às espécies. O material aponta o status de conservação dos anfíbios no mundo inteiro. Sendo assim, dois em cada cinco anfíbios estão ameaçados de extinção. Na nova pesquisa, o monitoramento considera o pedido emergente de medidas de mitigação para a fauna.
“Ainda não temos dados precisos sobre os locais exatos onde esses desaparecimentos estão ocorrendo dentro do Pantanal. Isso ocorre porque respostas tão rápidas, como identificar em apenas dois anos os impactos de mudanças climáticas ou de ciclos ecológicos, dependem de monitoramentos contínuos, que, por sua vez, exigem muitos recursos e financiamento. Infelizmente, no Brasil, temos pouquíssimos recursos destinados a isso”.
Necessidade de apoio
Entretanto, em MS foram realizados monitoramentos em locais específicos pelos esforços dos pesquisadores. Há desenvolvimento de projetos na UFMS, UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), Embrapa e ONGs que compartilham a preocupação de estudar a biodiversidade. Apesar disso, ainda não é suficiente para mapear a grandiosidade da área pantaneira.
“Meus monitoramentos, por exemplo, são realizados em alguns pontos específicos no Pantanal e nos planaltos ao redor. Nesses locais, já percebemos mudanças significativas nas comunidades de anfíbios. Por exemplo, a rã-gotinha (Leptodactylus podicipinus), que era uma das espécies mais abundantes do Pantanal até 2019, sofreu uma drástica diminuição populacional de 2020 para cá, e em alguns pontos se vê bem menos delas”.
Esse é apenas um exemplo, mas não há dados do que pode acontecer nos próximos anos. Por isso, o monitoramento precisa ser contínuo e realizado em vários pontos do bioma. Logo, será necessária a atuação de cientistas, materiais e recursos financeiros.
Afinal, por que anfíbios são importantes?
Talvez, um exemplo mais visual para quem está na área urbana do que é um anfíbio seria um sapo ou a nova popularizada axolote. Os anfíbios são fundamentais para a natureza e também para os seres humanos. Eles ajudam a controlar populações de insetos, incluindo pragas que atacam plantações e transmissores de doenças, como mosquitos. Isso significa que, sem os anfíbios, teríamos muito mais pragas agrícolas, o que causaria grandes perdas para os agricultores, e também enfrentaríamos mais surtos de doenças, como dengue e malária.
Além disso, os anfíbios são indicadores de saúde ambiental, pois são muito sensíveis à poluição e às mudanças climáticas. Quando eles começam a desaparecer, é um sinal de que algo está errado no ecossistema. Eles também ajudam a manter o equilíbrio da natureza, pois seus ovos e girinos reciclam nutrientes nos ambientes aquáticos, beneficiando outros seres vivos.
Ou seja, os anfíbios não são apenas importantes para a natureza, mas também ajudam a economizar dinheiro, proteger nossa saúde e garantir que os ecossistemas continuem funcionando. Perder essas espécies teria consequências sérias para todos nós.
Preservação de anfíbios
Santana afirma que há soluções para mitigar os danos e proteger os anfíbios, mas é necessário agir rapidamente e de forma integrada. Um primeiro e crucial passo seria a criação de mais áreas protegidas. Atualmente, o estudo mostrou que as Terras Indígenas são as que mais contribuem para a proteção dos anfíbios no Pantanal, já que há pouquíssimas Unidades de Conservação na região.
Além disso, a burocracia no Mato Grosso do Sul dificulta ainda mais as pesquisas com fauna nos parques estaduais, prejudicando o avanço do conhecimento e a aplicação de estratégias de conservação.
“Também é essencial aumentar o monitoramento das populações de anfíbios, o que nos permitirá criar modelos mais precisos para entender como lidar com os impactos das mudanças climáticas. Para isso, precisamos de mais financiamento para pesquisa, pois o monitoramento contínuo e em maior escala demanda recursos significativos”.
Por fim, é importante combinar esforços para proteger integralmente essas áreas e garantir que as mudanças climáticas não causem perdas ainda maiores. Sem ações como essas, estaremos apenas reagindo aos impactos, em vez de preveni-los.
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