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Cotidiano

‘Manipulador’: feminicida mirava mulheres bem-sucedidas e recém-separadas, diz irmão de Caio

Assassino de Vanessa, Caio escolhia vítimas com carro e casa própria, mas que estavam fragilizadas em processo de divórcio
Thalya Godoy -
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Segundo irmão, Caio fingia até mesmo na igreja visando obter vantagens. (Reprodução, Redes Sociais)

A longa ficha criminal e o passado obscuro de Caio Cesar Nascimento Pereira, de 35 anos, se tornaram públicos nos últimos dias após o músico ter assassinado cruelmente, a golpe de facas no peito, a jornalista Vanessa Ricarte, aos 42 anos, na última quarta-feira (12). Contudo, na família do feminicida, o terror dura cerca de 15 anos, segundo o irmão de Caio. Ele relembra que a ruína começou aos 20 anos, quando começou a usar cocaína. 

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Ao longo da última década, a história envolve ameaças de morte com facão, humilhações, roubo, agressões, mentiras, R$ 500 mil gastos em clínicas de reabilitação e até a morte da matriarca. Cansado do sofrimento, de tantas histórias de dor compartilhadas apenas entre os mais próximos, o irmão decidiu desabafar sobre o passado de Caio, que, no primeiro contato, fingia e manipulava pensando no que poderia obter de vantagens. 

Em entrevista ao Midiamax, o irmão narra que o músico tinha um padrão para escolher as vítimas: mulheres bem-sucedidas, com carro e casa própria, mas que estavam emocionalmente fragilizadas em processo de separação. As fotos com famosos e falando de Deus, inclusive, seriam uma forma de construir uma imagem e preparar o “cerco” contra as vítimas.

“É um momento mais frágil, em que a mulher precisa de um apoio. Ele, simplesmente, fingia e ia sugando a moça de todas as formas. Com as três últimas mulheres dele fez a mesma coisa que fez com a Vanessa nessas declarações, de falar que ama, de marcar casamento, postar foto, de fazer todo esse romance de teatro. Todas, todas, todas, todas, todas. Todas tiveram um resultado ruim que foram agredidas, humilhadas, ou sofreram tortura psicológica, ou ficaram em cárcere privado”, narra o irmão.

Em outro caso, o músico exigiu metade de uma fazenda por namorar a ex-esposa do proprietário, que estava em processo de separação. Inclusive, chegou a fazer ameaças. “Isso ou acabo com você”, disse.

Nos áudios que vieram à tona, na noite da última sexta-feira (14), Vanessa narra que Caio roubou R$ 1 mil da conta dela para comprar drogas. A jornalista ainda comenta sobre o atendimento rude e frio recebido na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), horas antes de ser morta. 

Vanessa registrou boletim de ocorrência na Deam horas antes de morrer. (Arquivo Pessoal; Marcos Ermínio, Jornal Midiamax)

O irmão relembra uma vez em que Caio chegou a ser levado para a Deam após agredir a ex-esposa, mãe da filha de sete anos. Uma advogada “muito bonita” [sic] teria aparecido e, no dia seguinte, Caio estava solto. Segundo o familiar, ter o apoio de terceiros foi a forma como o músico encontrou para escapar da prisão, mesmo tendo uma longa ficha na polícia. 

“Eu o encontrava de vez em quando, nos eventos de família, morrendo de medo. Em um dos eventos, a gente estava conversando e eu joguei um verde pra perguntar. As palavras que ele utilizou foram ‘ah, é uma que eu comi [sic] aí, estava me devendo um favor’. Essa era a forma como ele tratava as pessoas”, lamenta. 

Até mesmo falar de Deus era planejado, pensando em obter vantagens caso algo desse errado.

“Na época, eu era novinho, eu ainda não entendia direito. Depois que eu fiquei mais velho, ele vinha fazendo essas porcarias aí, prejudicando muita gente, em um dos momentos eu perguntei para ele ‘pô, bicho, por que você não vai para a igreja mesmo? Você ficou só brincando de ir pra igreja’. Ele falou, ‘Não, é porque se você cantar e tocar bonito, os trouxas da igreja vão ficar com pena. Se eu precisar de ajuda, eu tenho amparo. É só eu ligar para um padre, para alguém, para algum amigo, que o povo da igreja sempre ajuda’. Só que isso, para mim, parece um plano B, parece algo que se eu cometer um crime, eu acho que o pessoal da igreja vai me salvar”, acredita o irmão. 

Ameaças com facão

Caio matou Vanessa com três facadas. (Reprodução Redes sociais)

O irmão conta que Caio já teria tentado matá-lo, pelo menos, seis vezes após ter recebido vários “não” para pegar dinheiro visando comprar cocaína. O músico também tinha problemas com álcool e já chegou a beber sozinho garrafas inteiras de cachaça pura. 

Entre os momentos tensos de crises, ele relembra que o músico já chegou a “caçá-lo” com um facão pela rua. Em outra ocasião, a família – o irmão, a filha de Caio, o pai e a irmã – ficou trancada na residência enquanto o homem rondava a casa também com um facão, fazendo ameaças e tentando quebrar os vidros. Ele fugiu após perceber que a família tinha chamado a polícia. 

“Todo crime que o Caio cometia, ele sumia com a evidência. Todas as agressões que ele cometeu com mulheres, ele sempre tinha alguém para ajudá-lo […] [em outro momento] ele tentou partir para cima da minha mãe e da minha irmã, quando elas não deram dinheiro para ele para a cocaína. O meu pai é policial militar aposentado, ligou para todos os amigos, chegou um monte de policial da ativa. Ele se entregou, pegaram ele em casa com um facão na mão, minha mãe e minha irmã, morrendo de medo, em pânico. Ele se entregou, mesma situação que aconteceu com a Vanessa, se entregou friamente, de novo, alguém com quem ele se envolvia, foi lá e soltou”, aponta. 

A família teria tentado várias vezes ajudá-lo e chegou a desembolsar meio milhão de reais com tratamentos, que não trouxeram resultados. Durante a pandemia, o músico ficou sem trabalhar devido à proibição de shows e o pai deu um carro a Caio para que pudesse trabalhar. Contudo, o homem deixou o veículo na boca de fumo para “torrar” em drogas. 

Antes disso, o músico teria chegado a trabalhar com uma dupla sertaneja famosa e faturar R$ 15 mil por mês, mas gastava todo o dinheiro em cocaína na época, deixando a então esposa e filha desamparadas. “Depois disso, que ele já não tinha mais carro, já estava sem tocar, não tinha mais nada, que ele começou a surtar de vez, aí vieram as agressões de um nível muito alto”, afirma. 

Matriarca [alerta de possível gatilho]

Segundo o irmão, a derrocada de Caio nas drogas teria levado ao suicídio da matriarca da família, aos 52 anos, em 2023, um dia após o aniversário dela. 

A “gota d’água” teria sido a descoberta que o filho mentia sobre estar “limpo” da cocaína e, inclusive, pegava todo o dinheiro de uma namorada da época – que tinha um bom emprego – para gastar com a droga. A mãe e a mulher tinham ficado muito próximas. Além de mentir sobre o vício, Caio teria feito ameaças ao filho de nove anos da então namorada. 

“Não passava de mentira. Ele estava fazendo maldade mesmo com essa moça que ela [a mãe] gostava tanto. Ela esperou até um dia depois do aniversário dela e cometeu suicídio. Quando minha mãe descobriu que ele estava fazendo isso de novo e que, mesmo depois de já ter passado por mais de dez clínicas de reabilitação, mesmo depois de minha família ter gasto mais de meio milhão de reais com ele em tratamento ao longo dos anos. Ela [mãe] achou que ele tinha salvação. Quando viu que não tinha, ela se suicidou de desgosto”, lamenta. 

Para quem precisa de ajuda psicológica, Mato Grosso do Sul conta com alguns serviços gratuitos como o CVV (Centro de Valorização da Vida). O telefone é 188. Outra opção é também o GAV (Grupo Amor Vida), que presta serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através do telefone: 0800 750 5554 (ligação gratuita) ou pelo e-mail precisodeajuda@grupoamorvida.ong. Campo Grande também conta com CAPS (Centros de Atenção Psicossocial); clique aqui para conferir os endereços. 

“É um cara que, quanto mais tempo continuar preso, melhor para sociedade como um todo. Me dói como irmão, dói muito, machuca o meu coração falar isso e eu sei que para a minha mãe também, só Deus sabe como ela está. Eu estou do lado do que é certo, estou do lado da justiça”, finaliza o irmão. 

📍 Onde tentar ajuda em MS

Em Campo Grande, a Casa da Mulher Brasileira está localizada na Rua Brasília, s/n, no Jardim Imá, 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana.

Além da DEAM, funcionam na Casa da Mulher Brasileira a Defensoria Pública; o Ministério Público; a Vara Judicial de Medidas Protetivas; atendimento social e psicológico; alojamento; espaço de cuidado das crianças – brinquedoteca; Patrulha Maria da Penha; e Guarda Municipal. É possível ligar para 153.

☎️ Existem ainda dois números para contato: 180, que garante o anonimato de quem liga, e o 190. Importante lembrar que a Central de Atendimento à Mulher – 180, é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres em todo o Brasil, mas não serve para emergências.

As ligações para o número 180 podem ser feitas por telefone móvel ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive durante os finais de semana e feriados, já que a violência contra a mulher é um problema sério no Brasil.

Já no Promuse, o número de telefone para ligações e mensagens via WhatsApp é o (67) 99180-0542.

📍 Confira a localização das DAMs, no interior, clicando aqui. Elas estão localizadas nos municípios de Aquidauana, Bataguassu, Corumbá, Coxim, Dourados, Fátima do Sul, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.

⚠️ Quando a Polícia Civil atua com deszelo, má vontade ou comete erros, é possível denunciar diretamente na Corregedoria da Polícia Civil de MS pelo telefone: (67) 3314-1896 ou no GACEP (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), do MPMS, pelos telefones (67) 3316-2836, (67) 3316-2837 e (67) 9321-3931.

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