Popularmente conhecidas como “misturinhas”, a junção de diferentes produtos de limpeza para deixar a casa brilhando é um costume comum dos sul-mato-grossenses que pode parecer inofensivo, mas esconde riscos potenciais.
Nas redes, há até influencers que ensinam a melhor composição para determinado tipo de limpeza. Contudo, as reações químicas decorrentes das combinações, principalmente em ambientes fechados, podem representar um grande perigo à saúde.
E há vítimas. No dia 26 de junho, Alexandre Eustáquio Ribeiro, 31 anos, morreu após se intoxicar com um produto químico ao realizar a limpeza da casa em que morava. A situação acendeu alerta entre especialistas para um costume popular e cultural dos brasileiros.
A médica-veterinária e gerente do Ciatox-MS (Centro Integrado de Informação e Vigilância Toxicológica de Mato Grosso do Sul), Maria Lúcia Ferreira Igi, explica que agentes químicos têm potencial de intoxicação. Logo, a crença popular de que “quanto mais produto, melhor” pode desencadear uma armadilha química.
“Se você mistura dois componentes químicos, eles podem interagir e formar outro produto, que pode ser tóxico ou pode neutralizar os produtos químicos. Quando neutraliza os componentes, isso pode cancelar a ação benéfica que seria de limpeza ou desinfecção. Logo, não vai conseguir atingir o objetivo”, descreve.
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O risco das “misturinhas” começa quando o consumidor não se atenta às orientações dos rótulos. As descrições do fabricante reforçam como um produto deve ser utilizado, sua formulação ou a necessidade do uso de máscaras e luvas. Além disso, circulam na internet vídeos de “misturinhas mágicas” de limpeza, contudo, sem conhecimento técnico.
“Por exemplo, o hipoclorito de sódio, a água sanitária, muito usada nas limpezas, com o detergente, são dois componentes usados para a desinfecção. Quando se misturam esses dois componentes, principalmente se tiver amônia, podem produzir um gás tóxico. Esse gás vai causar irritação nas vias aéreas”.

Sinais de alerta
“Dependendo da concentração do produto e da sensibilidade da pessoa, ela pode ter dificuldades para respirar ou ardência nos olhos, principalmente se o ambiente estiver fechado, sem ventilação.”
Portanto, ao notar os sinais, a principal orientação é sair do ambiente fechado para um aberto e promover a ventilação do espaço que estava sendo limpo.
“As reações vão depender da quantidade de produto concentrado e do tempo que a pessoa ficou inalando. A recuperação pode variar entre tomar ar fresco ou um gole de água, até procurar atendimento médico.”
Misturinhas? O ideal é não fazer
“Dificilmente as pessoas leem o rótulo por causa das letras pequenas. Muitas vezes, a pessoa nem nota que foi intoxicada e diz ‘limpei a casa e acho que está me dando uma gripe‘, por estar com a garganta fechada. Isso é um efeito do que ela estava mexendo. Os sintomas podem ser mais brandos e a pessoa não perceber; pode ser 2 horas depois.”
Produtos que não devem ser misturados | Efeito tóxico |
Água sanitária + vinagre | Queimaduras químicas, principalmente nos olhos e nas vias aéreas. |
Amônia + água sanitária | A inalação dos vapores pode causar danos e queimaduras nas vias respiratórias. |
Álcool + água sanitária | A mistura é extremamente perigosa. Pode causar danos no sistema nervoso, nos olhos, no pulmão, na pele e no fígado, diante da exposição. |
Água oxigenada + vinagre | A mistura pode ser corrosiva. |
Bicarbonato de sódio + vinagre | Além de não ser eficaz para limpeza, pode causar irritação na pele. |
Água sanitária + carbonato de potássio (componente presente em alguns detergentes e amaciantes) | Pode causar problemas sérios à saúde, como irritação na pele, nos olhos e nas mucosas. A inalação pode desencadear a irritação brônquica e edema pulmonar. |
Recomendações
- A maioria dos produtos de limpeza é feita a partir de produtos químicos.
- Fazer “misturinhas” de diferentes produtos químicos pode ser arriscado.
- Limpeza significa eliminar a sujeira. Desinfecção significa matar microrganismos. Os detergentes e sabões são feitos para eliminar a sujeira, mas também podem matar microrganismos, já que decompõem e destroem as membranas externas dos vírus. Os desinfetantes são feitos para matar microrganismos.
- Os detergentes e a água sanitária (alvejante ou hipoclorito) têm finalidades diferentes e não devem ser combinados. Devem ser usados separadamente.
- As soluções feitas a partir da mistura de água sanitária com água exigem uma medição cuidadosa.
- A água sanitária é perigosa se for usada sem diluir.
- Para desinfectar superfícies (metal, plástico, papelão), podem ser usados vários produtos. No entanto, esses produtos não devem ser misturados (ver a tabela abaixo). Quando esses produtos são misturados, as reações químicas produzidas frequentemente geram gases tóxicos. Os produtos nunca devem ser misturados em ambientes fechados, especialmente onde há pouca ventilação.
- Todos os produtos químicos devem ser adequadamente manuseados, conforme as instruções do rótulo.
- Luvas e máscara devem ser utilizadas ao manusear produtos químicos.
- Todos os produtos químicos devem ser mantidos fora da visão e do alcance das crianças.
- Não reutilizar embalagens de produtos comestíveis para preparar a solução desinfetante, evitando, assim, envenenamentos acidentais.
- Os produtos químicos devem ser mantidos em locais frescos e escuros.
- O álcool é inflamável. Nunca usar desinfetantes com álcool perto de chamas, fogueiras e imediatamente antes de cozinhar.
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