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Cotidiano

Falta sistema de drenagem realista em Campo Grande, aponta especialista

Após chuvas no início da semana, Capital de MS registrou diversos pontos críticos de alagamento
Idaicy Solano -
Ponto de alagamento registrado na Rua Graça Aranha, em Campo Grande (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

O início da semana foi marcado por fortes pancadas de chuva e ventania intensa em . O temporal deixou diversos pontos da cidade em situação crítica, com alagamentos, barro, enxurradas e deslisamentos, que refletem os problemas na infraestrutura e falhas no sistema de drenagem da Capital de .

‘Tragédia anunciada’, chuva é sinônimo de inúmeros transtornos para centenas de famílias que residem em áreas mais afetadas pelos estragos deixados pelos temporais e para condutores e transeuntes que circulam pelas ruas da Capital, como foi o caso do ciclista que quase foi arrastado pela enxurrada após um deslizamento da ciclovia do Lago do Amor, próximo a (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), na tarde desta terça-feira (18).

A reportagem do Jornal Midiamax também noticiou diversos outros locais da cidade que sofreram com a força da chuva. Houve registros de alagamento nos bairros Los Angeles, Santa Mônica, Noroeste e Aero Rancho.

Falhas no sistema de drenagem

O engenheiro Lázaro Barbosa Machado, que atua na área de projetos de drenagem, comenta que em cidades do porte de Campo Grande, o processo de drenagem é complexo e a ação humana atropela a dinâmica natural do crescimento das cidades. O profissional explica que a estrutura de drenagem pluvial de Campo Grande se mostra insuficiente, pois as galerias não comportam mais o volume de escoamento superficial da água. 

“O poder público não consegue realizar obras estruturantes que mitiguem essa dinâmica. Com algumas exceções, esse é o grande problema das cidades em processo de grande desenvolvimento”, detalha. 

A discussão acerca de todos os pontos relacionados aos problemas de drenagem da capital é descrita por Lázaro como algo ‘complexo’, e usa de exemplo um dos pontos críticos da Capital, a rotatória das Avenidas Rachid Neder e Ernesto Geisel. No local, uma solução seria construir uma bacia de detenção a jusante – termo utilizado para descrever a direção onde corre o fluxo da água – para conter a água que desce pela Rachid Neder. 

“Esse problema não é exclusivo de Campo Grande, mas afeta tanto grandes quanto pequenas cidades. É essencial desenvolver um plano diretor de drenagem realista, que possa ser executado de acordo com a realidade e as condições orçamentárias de cada cidade. A implementação de soluções pontuais, como ‘caixas de detenção’, para reduzir os impactos do deflúvio superficial, é uma medida urgente.”

Desastre ambiental ou infraestrutural? 

Impermeabilização do solo, falta de planejamento urbano e crescimento desordenado são alguns dos fatores que agravam o problema de drenagem em Campo Grande. 

O profissional explica que não se trata do fenômeno de chover ‘mais’ ou ‘menos’ do que registrado em anos anteriores, mas sim de um problema estrutural causado pelo aumento exponencial do volume de chuvas ao longo do tempo. “O sistema de infraestrutura de drenagem não acompanhou esse processo”, enfatiza. 

Para finalizar, Lázaro ressalta que a eficiência da drenagem para aguentar volumes ‘inesperados’ de chuva dependerá da “capacidade do poder público de reagir a esse processo”.

Desastre anunciado

No Aero Rancho, a chuva causou alagamentos em diversos pontos do bairro, gerando transtornos para motoristas e moradores. As áreas mais afetadas foram o início da Rua da Divisão, a Rua Anchieta, a rotatória Anchieta e a rotatória da Divisão com a Rua Graça Aranha. Na Rua da Divisão, o córrego transbordou, alagando a via e obrigando os motoristas a desviarem do local. Na rotatória Anchieta, um veículo ficou parado no meio da água, com o pisca-alerta ligado.

Outro local que foi criticamente afetado foi o trecho da Avenida Guaicurus, próximo ao cemitério Monte das Oliveiras, onde um córrego transbordou e deixou cerca de 20 metros da via submerso em água. Um precisou ser resgatado da correnteza pelo Corpo de Bombeiros e famílias tiveram seus barracos levados pela força da água.

A USF (Unidade de Saúde da Família) DR. Benjamin Asato, localizada no Bairro Parque do Sol, também não escapou. Imagens feitas por pacientes mostraram o chão alagado e água saindo pela tomada da parte externa da farmácia da unidade. Outro local atingido pela chuva foi a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), onde estudantes registraram a água vazando pelas lâmpadas e pátios completamente inundados.

Volume das chuvas

Nesta segunda (17) e terça-feira (18), foram registrados mais de 100 milímetros,volume maior do que toda a chuva que caiu na cidade nos primeiros 15 dias de março, conforme dados do Cemtec/MS (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima). Segundo a previsão, são esperados 149 milímetros de chuva para março inteiro.

O que diz a Prefeitura de Campo Grande?

A equipe de reportagem procurou a Sisep (Secretaria Municipal De Infraestrutura E Serviços Públicos) para questionar medidas estão sendo tomadas, a curto e longo prazo, para sanar os problemas de drenagem de Campo Grande.

Em nota, a Sisep informou que monitora os pontos críticos de alagamentos da cidade e possui estudos para enfrentar os problemas que não são recentes, são de décadas.

“Entre as estratégias adotadas pela atual gestão é de incluir nos projetos de pavimentação as obras de drenagem. Também há a obras em execução de bacias de amortecimento, em algumas regiões da cidade. Um exemplo de sucesso foi a construção e ativação da bacia do córrego Reveilleau, na Avenida Mato Grosso com a Avenida Hiroshima, onde não houve mais alagamentos na Via Park, próximo ao Shopping Campo Grande. Além disso, a Sisep mantém equipes diariamente trabalhando na manutenção e limpeza das bocas de lobo e bueiros”, finaliza a nota.

(Matéria editada às 10h30 para acréscimo de posicionamento da Sisep, encaminhado após a publicação da reportagem).

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