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Cotidiano

No extremo sul da cidade, região do Lageado é marcada pelo crescimento e insegurança

Distante cerca de 15 km do Centro da cidade, a região do grande Lageado começou a se formar há 30 anos
Liana Feitosa -

Se um dia você decidir ir a pé do Centro de em direção ao sul da capital, até o ponto mais extremo do perímetro urbano, é provável que você demore mais de 3 horas para fazer esse percurso, sem paradas. É esse tempo que leva, segundo o mapa do Google, para chegar, a pé, na parte mais distante do bairro Parque do Lageado. 

Distante cerca de 15 km do Centro da cidade, região do grande Lageado, que começou a se formar há 30 anos e atualmente abriga quase 17 mil habitantes, de acordo com o Censo mais recente do (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

São moradores de seis bairros: o Parque do Lageado, Parque do Sol, Parque dos Sabiás, Dom Antônio Barbosa, Jardim Colorado e José Teruel Filho. 

Jornal Midiamax fala sobre o desenvolvimento desta região em seu novo projeto, o Fala Povo: Midiamax nos Bairros. Ao longo desta semana, no site, jornal impresso e programa televisivo do Jornal Midiamax (canal 4 da Net), várias histórias serão mostradas, além de curiosidades, pontos gastronômicos, segurança e tudo o que envolve o cotidiano da população local.

E a partir de hoje (8), você acompanhar reportagens que vão culminar com uma edição do programa transmitida ao vivo da região, no próximo sábado, dia 13 de setembro.

É nesta região que está localizado o maior colégio eleitoral de Campo Grande, a Escola Municipal Padre Tomaz Ghirardelli, com cerca de 8 mil eleitores, segundo dados do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral).

Bairros-irmãos

Dois desses bairros, os maiores entre os 6 listados, vivem como bairros-irmãos e são separados por apenas uma via, a Rua Evelina Figueiredo Selingardi. É nela que se concentram comércios diversos, escolas e unidades de saúde. 

É onde também fica a farmácia do Jaime Lencina, que é natural de , mas bem jovem mudou-se para a região, onde está há 32 anos.

Uma das filhas na farmácia de Jaime em 1998, no Dom Antônio Barbosa (Foto: Arquivo pessoal).

“Vim para Campo Grande para tratamento no hospital militar, mas fui reformado pelo serviço militar por incapacidade. Mas como era jovem, resolvi ficar na cidade, mesma época em que conheci a minha esposa também”, lembra o empreendedor. 

Pouco tempo depois ele se fixou no Lageado. “Só tinha o Lageado, mas aí a região foi desenvolvendo e fizeram um projeto de ‘desfavelamento’ e, assim, montaram o Parque do Sol e o Dom Antônio Barbosa”, relata Jaime.

“Eu sempre tive comércio e decidi vir do Lageado para o Parque do Sol porque vi que aqui tinha mais desenvolvimento”, conta o empresário.

No setor farmacêutico há 33 anos, passou o legado e o apreço pelo ramo para as filhas, ambas formadas em Farmácia e vê com alegria os avanços do bairro.

“Hoje o bairro está muito bom, principalmente na área social, com a presença do CRAS (Centro de Referência em Assistência Social), por exemplo. Na área de saúde o bairro também tem dois postos de saúde, embora não sejam 24 horas, mas é algo que antes não tinha”, lembra Jaime. 

Problemas do passado

Jaime em sua farmácia atualmente (Foto: Madu Livramento, Jornal Midiamax).

Ao refletir sobre o que melhorou na região nos últimos anos, o empreendedor recorda da época em que várias ruas importantes não tinham asfalto.

Em uma rua com uma ponte perto dali, tinha gente que fazia até mesmo uma cobrança inusitada.

“Quando não tinha asfalto, os malandros cobravam até pedágio para quem queria entrar e sair do bairro. E também existiam muitas brigas de gangues”, pontua Jaime.

Infraestrutura urbana e serviços

Considerando os seis bairros deste pedaço de Campo Grande, a região possui seis instituições de ensino públicas, conforme o mais recente Perfil Socioeconômico de Campo Grande

São quatro EMEIs (Escolas Municipais de Educação Infantil), a Escola Municipal Padre Tomaz Ghirardelli e a Escola Estadual Professora Thereza Noronha de Carvalho.

Em relação à saúde pública, toda a região é atendida por duas USFs (Unidades de Saúde da Família): a Dr. Benjamim Asato, que fica na Rua Evelina Selingardi, no Parque do Sol, e a Dr. Evandro Maciel de Arruda, na Rua Domingos Belentani, no Dom Antônio Barbosa.

Já o suporte de assistência social na região, uma das mais pobres da cidade, é concedido por apenas um CRAS, o Rosa Adri, também no Dom Antônio Barbosa. 

Aspectos econômicos e desenvolvimento da região

Até o começo da década passada, a economia da região era baseada essencialmente no antigo lixão. Foi em torno do lixão que a região acabou crescendo, movimentada principalmente por trabalhadores que viam no espaço uma oportunidade de renda a partir da coleta de materiais recicláveis. 

Conforme o Censo 2010, nesta época o rendimento nominal médio mensal dos domicílios, ou seja, a renda média de cada lar da região do Lageado, era de apenas R$ 1.209,74.

Se comparado com outros bairros da Região Urbana do Anhanduizinho, a renda média dos lares do Lageado só ficava atrás do Los Angeles, que era de R$ 1.175,43.

Assim, ainda conforme os dados do IBGE, na época em que o lixão era uma fonte de renda importante na região, 77,5% dos moradores desse entorno tinham como renda de meio a, no máximo, 1 salário mínimo. 

O problema do lixão

O lixão foi desativado em 2012, após uma determinação do MPMS (Ministério Público de ) que levou a Prefeitura de Campo Grande a firmar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que previa a construção de um aterro sanitário no bairro Dom Antônio Barbosa.

A ação judicial se arrastou desde 1999 até 2010, com o (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) mantendo a decisão favorável ao MPMS há 15 anos. 

No entanto, essa realidade gerou problema econômico e social ali, já que o fechamento do lixão ocorreu antes da conclusão do aterro, prejudicando os catadores de recicláveis que dependiam daquele local para o seu sustento. 

Aterro Dom Antonio (Divulgação)
Aterro Dom Antônio Barbosa (Foto: Arquivo, Jornal Midiamax).

A partir disso, mesmo com a UTR (Unidade de Triagem de Resíduos), o aterro sanitário de Campo Grande, inaugurado em 2015, o impacto econômico foi grande.

E mesmo com o espaço consolidado, a convivência com o aterro ainda gera desafios a quem mora na região.

A dona de casa Clotilde, que mora há 30 anos no bairro, conta que gosta muito da região. “Meus filhos foram criados aqui, minhas netas aqui, é muito bom, eu gosto muito”, relata.

No entanto, entre as realidades que atrapalham a vida boa no bairro está o cheiro do lixão. “Incomoda muito. Todo dia, umas 6, 7 horas da noite, sobe o cheiro [ruim]. Vamos ver quando vai melhorar isso aí”, afirma. 

Além disso, todo o impasse em torno do antigo lixão acabou favorecendo outros cenários sensíveis, como a violência e a criminalidade.

Assim, a região do Lageado logo se tornou um dos bairros mais pobres e também com maior ocorrência de crimes graves da cidade.

Em relação ao aterro, hoje o espaço opera no seu limite, uma vez que tinha previsão de funcionar somente até 2023, quando o descarte de resíduos seria transferido para outro local, o novo aterro sanitário Ereguaçu.

Esse espaço ainda não saiu do papel por impasses com o CMMA (Conselho Municipal de Meio Ambiente), órgão que dará a aprovação final para licença ambiental prévia para dar prosseguimento à criação do novo local.

Segurança na região

Enquanto isso, os moradores da região convivem com notícias constantes de assaltos, ocorrências de tráfico e homicídios, como o caso recente envolvendo Thiago Leite Neves, de 37 anos, conhecido como ‘Diabolim’, morto com pelo menos 11 tiros em uma tarde de segunda-feira no Parque do Lageado, em março deste ano.

Conforme a polícia, o homem tinha várias passagens que iam de tráfico de drogas até tentativa de homicídio. 

Drogas apreendidas em boca de fumo no Dom Antônio (Foto: Divulgação GCM).

No mesmo mês, a Romu (Ronda Ostensiva Municipal) da Guarda Civil Metropolitana fechou uma boca de fumo no bairro Dom Antônio Barbosa.

Mais recentemente, no dia 10 de agosto, um casal foi alvo de pistoleiros no Lageado, em frente de casa.

De acordo com a polícia, uma das vítimas relatou que uma dupla em uma motocicleta passou disparando.

O comerciante José Ferreira de Lima, que há quase 30 anos mora e empreende na região, fala sobre a insegurança. 

“Aos domingos, à tarde, eu não posso sair de casa, não posso deixar aqui sozinho porque não tem segurança. Semana passada quebraram os cadeados do meu vizinho, que é dentista. Esses dias assaltaram o Assaí (supermercado). Falta segurança”, desabafa o empresário que tem uma loja de materiais para construção. 

Em 2018, ele viveu uma situação traumática com a família quando entraram na loja e na casa dele. Os bandidos roubaram muitas coisas, inclusive itens de valor afetivo, e destruíram o estabelecimento.

Mesmo com 8 câmeras de segurança espalhadas pelo local, a polícia não conseguiu identificar os bandidos.

Jaime, da farmácia que citamos no início desta reportagem, também se preocupa bastante com essa questão. “A gente tem uma precariedade aqui que é pontual, mas grave: a segurança. Os comerciantes e empresários investiram, mas sofrem com a segurança todos os dias. A gente precisa de mais segurança”, finaliza.

Fala Povo: Midiamax nos Bairros

A história dos bairros de Campo Grande é tema do Fala Povo: Midiamax nos Bairros. Ao longo desta semana, reportagens especiais vão apresentar aos leitores aspectos históricos, indicadores socioeconômicos, demandas populares e peculiaridades das diversas regiões de Campo Grande, culminando com programa ao vivo no sábado. Quer ver seu bairro na série? Mande uma mensagem para (67) 99207-4330, o Fala Povo, WhatsApp do Jornal Midiamax! Siga nossas redes sociais clicando AQUI.

(Revisão: Bianca Iglesias)

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