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Cotidiano

Empreender como resistência: mulheres rompem ciclos de violência com autonomia financeira

Para conciliar trabalho de cuidado e jornadas múltiplas, mulheres buscam por fontes de renda alternativas ao mercado de trabalho formal
Priscilla Peres -
(Ilustração - Giovana Gabrielle, Jornal Midiamax)

A maioria dos brasileiros sonha com o próprio negócio, como sinônimo de independência, flexibilidade e ascensão financeira. Mas a busca por fontes alternativas de renda passa longe do sonho para uma parcela significativa da população: as mulheres.

Você deve se lembrar de folhear revistas da Avon que alguma parente vendia ou receber a oferta de Tupperware, roupas ou acessórios em casa, que amigas da sua família ou conhecidas comercializavam. Desde sempre mulheres empreendem, mas não para se tornar empresárias e sim, sobreviver.

Com trabalho de cuidado intenso e múltiplas jornadas, se encaixar nas exigências do mercado de trabalho formal não é uma tarefa simples. E longe da CLT, mas precisando sustentar a família, mulheres recorrem a negócios próprios. É uma revenda de cosméticos, acessórios ou mesmo artesanato, que salva a conta de muitas famílias.

Dados do Dieese comprovam. As mulheres continuam com as maiores taxas de , os menores salários e ainda acumulam tarefas domésticas, incluindo atividades relacionadas aos cuidados de outras pessoas. Elas ainda passaram à frente dos homens na chefia dos lares brasileiros.

Esta é a penúltima reportagem especial do Jornal Midiamax em alusão ao 8 de março, que celebra o Dia Internacional da Mulher e suas lutas. Nela, leitores entenderão como o empreendedorismo é alternativa de mulheres para ter suas vidas transformadas, e as dificuldades enfrentadas por elas.

De artesã a empreendedora

Márcia Selzler, 51, é uma artesã autodidata, nascida em uma família humilde ‘da roça’, mas com sangue artístico correndo nas veias. Filha de costureira, só conseguiu estudar depois de adulta e na rotina com a mãe aprendeu a pintar, fazer crochê, costurar, entre outros.

Ela se formou técnica em enfermagem, passou em concurso na prefeitura de , mas o artesanato sempre fez parte da sua vida. Foi fazendo biscuit sob encomenda que Márcia complementou a renda para criar as três filhas.

Márcia e os brincos (Foto: Arquivo Pessoal)

Mas após uma tendinite por excesso de trabalho ela deu um tempo do artesanato e, só com o isolamento da pandemia, conheceu a cerâmica plástica. “Eu comecei a pesquisar e cheguei até esse modelo de cerâmica, aí comprei uns materiais e comecei a testar para fazer brincos”, conta.

Assim nasceu a Olimpio Acessórios em 2021 e até hoje Marcia ainda tenta se enxergar como empreendedora. “Eu ainda estou amadurecendo essa ideia, fazendo exercícios e práticas para me tornar empreendedora. Porque eu sempre me vi como artesã, mas quero sair disso e ver como um negócio”, afirma ela.

Com a vida, Marcia aprendeu que toda mulher deve ter uma fonte de renda e o trabalho, além da remuneração, é uma forma de desenvolvimento e realização pessoal. Com quatro anos de empresa, ela é MEI (Micro Empreendedora Individual) e luta para viver da sua arte na praia, literalmente.

Sobrecarga e falta de incentivo desmotivam

Ativista social e integrante do Coletivo de Mulheres Negras de MS, Cleuza Pedrosa Odorico, convive com mulheres que empreendem como forma de sobrevivência, mas que dificilmente se enxergam como empreendedoras.

“Às vezes elas nem sabem que são empreendedoras, mas isso mostra a força das mulheres, mesmo que esses projetos morram na praia por sobrecarga ou falta de incentivos”, conta Cleuza. Ela afirma que já viu muitos projetos que pararam no caminho devido às dificuldades, que são sempre maiores para as mulheres.

Para o Sebrae, que auxilia empreendedores, a percepção é a mesma. A busca pela independência financeira ou mesmo complemento da renda é o que ano após ano impulsiona o empreendedorismo feminino, mas que esbarra em muitas dificuldades.

A analista-técnica do Sebrae, Andrea Barrera, explica que as mulheres são mais comprometidas, não se deixam abater pelas dificuldades, mas enfrentam barreiras que vão desde a falta de rede de apoio como dificuldade no acesso ao crédito.

“A gente atende muitas mulheres com projetos que a gente pensa, ‘poxa poderia decolar’, mas essa mulher acaba tendo muitas outras tarefas para dar conta ao mesmo tempo, e por vezes é consumida pela sobrecarga”, afirma Andrea.

Empreendedorismo que salva vidas

A pandemia de Covid-19 também mudou a vida de Michele Andrade, 48. Formada em administração, sempre teve um amor pela costura devido à influência de suas avós, mas foi na pandemia que colocou ‘a mão na linha’ e decidiu confeccionar máscaras para doar. Foram dezenas de unidades doadas e então o sentimento aflorou.

Foi aí que a família, que sempre apoiou Michele, a incentivou a investir na costura como fonte de renda principal. E assim ela fez, abriu o MEI (Micro Individual), diversificou seus produtos e ampliou a venda em feiras culturais.

Os produtos e Michele (Foto: Arquivo Pessoal)

“Dou graças a Deus, pois na época eu estava com depressão e foi através da costura que eu me vi bem. Tudo o que eu tenho hoje foi graças ao ateliê”, conta ela que confecciona tapetes, necessaire, colmeias, aventais e o que mais a criatividade permitir.

Mesmo com o negócio expandindo, ela demorou, mas hoje se reconhece como empreendedora. “Eu creio que sou empreendedora, porque sempre estou procurando coisas novas e meu sustento é disso. Demorei, porque eu achava que era algo comum, não sabia cobrar, eu acabava dando as peças e até hoje todo mundo acha barato”, afirma Michele.

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