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Cotidiano

Efeito sanfona: por que manter o peso é tão difícil e quais os riscos do ‘vai e vem’ na balança

O ‘efeito sanfona’, vai muito além da estética, pois envolve questões metabólicas, comportamentais e emocionais
Lethycia Anjos -
Efeito sanfona
Ilustração efeito sanfona (Giovana Gabrielle, Midiamax)

Em um país onde corpos fora do padrão ainda enfrentam preconceito e invisibilidade, a já afeta mais de 453 mil adultos em Mato Grosso do Sul. O número representa cerca de 39% da população do Estado, conforme dados da SES (Secretaria de Estado de Saúde). Nesse cenário, cresce também a busca por soluções rápidas e ‘milagrosas’ para emagrecer, o que inclui medicamentos como as canetas emagrecedoras, dietas restritivas ou mesmo a cirurgia bariátrica.

Mas se perder peso já é um processo desafiador, manter o resultado alcançado pode ser ainda mais difícil — e frustrante. O ciclo de perda e ganho de peso, conhecido como ‘efeito sanfona’ ou ‘efeito rebote’, vai muito além da estética, pois envolve questões metabólicas, comportamentais e emocionais.

Para a nutricionista Erika Cardoso, professora do Departamento de Nutrição Clínica e Social da Federal de Ouro Preto, a chave para evitar esse ciclo está em práticas sustentáveis, e não em soluções milagrosas.

“O melhor comportamento alimentar para a perda e manutenção do peso é aquele baseado em alimentos in natura ou minimamente processados e que a pessoa consiga manter dentro da sua rotina de vida. O mesmo vale para a atividade física: ela precisa ser prazerosa e viável a longo prazo”, disse em entrevista ao Ministério da Saúde.

Segundo ela, o controle do peso está diretamente associado ao manejo adequado do estresse, do sono e da rotina. “É um conjunto de fatores que precisa funcionar em equilíbrio. Não se trata apenas de dieta e exercício, mas de qualidade de vida”, complementa.

O efeito sanfona pode gerar sérios impactos no organismo, como desequilíbrio hormonal e alterações no metabolismo; aumento do percentual de gordura corporal; redução da massa magra (músculos). Além disso, há um maior risco de doenças crônicas, como: Diabetes tipo 2; Hipertensão arterial e Doenças cardiovasculares, como infarto e AVC.

Causas do Efeito Sanfona

O efeito sanfona não tem um motivo único, conforme o Ministério da Saúde, há diversos fatores fisiológicos e comportamentais relacionados a esse fenômeno. Sendo os principais:

Tipo e composição da dieta: Dietas extremamente restritivas, monótonas ou nutricionalmente desequilibradas favorecem o efeito sanfona a longo prazo. A ausência de variedade e o déficit de nutrientes essenciais tornam difícil a manutenção do peso após o fim da dieta.

Tamanho das células adiposas: Durante a perda de peso, as células de gordura (adipócitos) apenas se esvaziam, mas não desaparecem. Tanto o tamanho quanto a quantidade dessas células tendem a permanecer estáveis por um longo período, o que facilita o reganho de peso.

Alterações hormonais relacionadas à saciedade: A perda de peso significativa pode causar desequilíbrios hormonais. Reduzem-se os níveis de hormônios ligados à saciedade — como leptina, peptídeo YY, colecistocinina e insulina — e aumentam-se os níveis de hormônios que estimulam o apetite, como grelina e polipeptídeo pancreático.

Aumento do apetite: Muitas pessoas relatam aumento do apetite após emagrecer. Essa mudança pode estar ligada às alterações fisiológicas do organismo durante o processo de perda de peso, especialmente aos hormônios da fome e saciedade.

Obesidade em alta

A alta procura pelo emagrecimento também está ligada ao aumento de peso da população. A obesidade é reconhecida como uma doença crônica e progressiva, cuja incidência tem aumentado de forma preocupante em todo o país. Dados do Ministério da Saúde apontam que 26% dos adultos brasileiros têm obesidade, e mais da metade da população está acima do peso.

Entre os fatores que explicam esse cenário, estão hábitos cada vez mais sedentários, impulsionados pelo uso excessivo de telas, a baixa frequência de atividade física e o alto consumo de alimentos ultraprocessados. Juntos, esses comportamentos favorecem o ganho de peso.

Além de comprometer a mobilidade e a autoestima, a obesidade provoca alterações hormonais, metabólicas e respiratórias. É também fator de risco para doenças crônicas como diabetes tipo 2, hipertensão, problemas cardiovasculares, renais e alguns tipos de câncer. Isso ocorre porque o excesso de gordura faz com que o organismo opere em um estado inflamatório crônico, o que pode desencadear mutações celulares.

Índices de obesidade (Lethycia Anjos, Midiamax)

Do sobrepeso a obesidade, os indicadores do painel Mais Saúde da SES (Secretaria de Estado de Saúde) mostram que 768.241 pessoas estão acima do peso em , ou seja, 72% da população.

Em todo o Estado, 387.750 pessoas estão com sobrepeso, cerca de 33,54% da população. No ano passado, esse grupo incluía 124.051 adultos classificados com sobrepeso, sendo 82.989 mulheres e 41.062 homens.

De 2019 a 2023, as mulheres representaram aproximadamente 71,71% dos adultos com sobrepeso, enquanto os homens corresponderam a cerca de 28,29%. Por outro lado, 315.035 pessoas estão dentro do peso ideal, o que representa 27,25% da população.

Diante desse cenário, especialistas reforçam que o combate à obesidade vai além do peso ideal. Trata-se de promover saúde em sentido amplo, com suporte nutricional, psicológico e social.

Muito além da balança

(Ilustrativa, Freepik)

Psicóloga Paloma Ujacow, especialista em transtornos alimentares, obesidade e cirurgia bariátrica, destaca que muitas pessoas com obesidade acabam recorrendo a medicamentos como as chamadas “canetas emagrecedoras” ou mesmo à cirurgia bariátrica em busca de uma solução mais rápida. Embora essas intervenções possam ajudar, é fundamental compreender os riscos do uso indiscriminado e a necessidade de um suporte contínuo.

“O sofrimento gerado pela obesidade afeta profundamente a autoestima. Para muitos, essas alternativas representam a esperança de uma mudança não só física, mas emocional, com impacto em todas as áreas da vida. No entanto, sem acompanhamento adequado, o risco do reganho de peso é alto”, alerta.

Paloma observa que a ausência de suporte psicológico e nutricional após o procedimento, ou durante o uso de medicamentos, consiste em um dos principais fatores que levam ao retorno do peso anterior. Questões emocionais como ansiedade, compulsão alimentar e baixa autoestima são frequentemente negligenciadas, embora fundamentais nesse processo.

“Muitos acreditam que a cirurgia é mágica. Mas, como costumo dizer, a mente não está operada. Se o comportamento não mudar, a pessoa vai continuar com os mesmos hábitos que a levaram ao quadro de obesidade”, ressalta.

Mudança para a vida toda

Hábitos saudáveis (Henrique Arakaki, Midiamax)

Na avaliação pré-cirúrgica, a psicóloga explica que é possível identificar transtornos ou comportamentos de risco, como ansiedade e depressão, que podem comprometer os resultados da cirurgia. Por isso, o objetivo é preparar o paciente para a mudança de vida que vem depois do procedimento.

“Após a cirurgia, o acompanhamento contínuo é metade do sucesso. Trabalhamos para ajudar o paciente a desenvolver novos repertórios de comportamento e pensamento em relação à alimentação. Isso leva tempo, mas é essencial para a manutenção dos resultados a longo prazo”, explica Paloma.

Como evitar o efeito sanfona?

Para manter o peso de forma saudável e sustentável, é fundamental seguir orientações profissionais e adotar mudanças duradouras no estilo de vida. Algumas recomendações incluem:

  • Evitar dietas muito restritivas ou desequilibradas.
  • Fazer reeducação alimentar.
  • Perder peso de forma gradual.
  • Fazer refeições em pequenas porções a cada 3 horas.
  • Comer devagar e mastigar bem os alimentos.
  • Praticar atividade física regularmente.

O suporte psicológico também é fundamental para que o paciente desenvolva uma relação mais saudável com o próprio corpo e com a comida. Afinal, a jornada não termina com a perda de peso.

“O processo de emagrecimento é apenas o início. O desafio seguinte é evitar o reganho. E isso só é possível com acompanhamento, constância e o entendimento de que a transformação vai muito além da balança. Está nas emoções, na rotina e no cuidado com a saúde como um todo”, conclui a especialista.

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