Audiência pública na Câmara Municipal, na manhã desta segunda-feira (14), discutiu os recentes casos de violência nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento Comunitário) de Campo Grande, e uma especialista orientou servidores sobre a conduta em casos de assédio.
Algumas pessoas ainda pensam que é proibido gravar ou filmar práticas abusivas, mas a especialista em saúde mental e trabalho, Eveli Freitas, diz que é lícito registrar o assédio. “Nós precisamos reunir provas, dar visibilidade para essas questões; documentar essas ocorrências”, afirma.
Os casos devem ser denunciados aos sindicatos, ao Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho e Emprego e outros órgãos competentes. “Muitas vezes, a gente diz: ‘Olha, mas eu não posso filmar ou mostrar ninguém fazendo alguma coisa, porque isso não é legal’. Nesses casos, é lícito gravar ou registrar as ameaças; as condutas abusivas”, orienta.

Do ponto de vista do empregador — seja o poder público ou empresa privada —, o especialista em Recursos Humanos Dendry Rios orienta que o assunto seja discutido no meio corporativo.
“Quando você blinda a sua equipe, cuida da saúde mental e cuida principalmente da questão de ela estar antenada para evitar certos tipos de violência — principalmente no ambiente de trabalho —, você tem uma empresa sólida, porque não tem empresa que prospera se o capital ou a equipe não está totalmente antenado e seguro”, diz.

Para o presidente do Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem), Leandro Dias, formar estratégias de segurança e a melhora do atendimento ao público podem ajudar a sanar o problema.
“É necessário que nós tenhamos estratégias de segurança, não somente para guardar os bens públicos, mas também para a segurança dos profissionais que ali atuam. E o segundo ponto são estratégias de melhora do atendimento da população, e aí entra o Poder Executivo com relação às questões das ausências que nós temos hoje dentro da saúde”, cita.
A audiência pública ‘Servidores da Saúde em Risco: Enfrentamento à Violência contra Servidores Municipais da Saúde de Campo Grande’ foi convocada pela vereadora Luiza Ribeiro (PT), presidenta da Comissão Permanente de Direitos das Mulheres, de Cidadania e Direitos Humanos.

Casos de violência nas UPAs
A audiência surgiu após virem à tona situações de violência, que ocorrem tanto nas relações internas — entre colegas, chefias e equipes de gestão — quanto nas interações com usuários e familiares nas unidades de saúde.
Além de tentativas de agressão por parte dos pacientes e familiares, as quais têm se multiplicado nas unidades de saúde, uma tentativa de estupro contra uma enfermeira gerou repercussão.
Assim, o impacto sobre a saúde física e emocional dos profissionais é profundo, comprometendo a qualidade do atendimento prestado à população e sendo agravado por condições precárias de trabalho, sobrecarga, déficit de profissionais e insumos.
Há denúncias envolvendo assédio moral, assédio sexual, ameaças, violência psicológica, injúria, difamação, lgbtfobia, agressões físicas, furtos, roubos, além da tentativa de estupro.
“A questão é muito grave. E o que o Conselho Regional de Enfermagem e os sindicatos de servidores nos trouxeram é que esta violência tem escalado para níveis insuportáveis, o que promove uma injustiça com quem é servidor, servidora da rede”, diz a vereadora Luiza Ribeiro.

Segurança nas UPAs
O secretário-adjunto de Saúde de Campo Grande, Aldecir Dutra de Araújo, diz que a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) tem tomado medidas de segurança para garantir a integridade dos servidores.
A pasta tenta implantar a Ronda da Saúde, que vai aumentar a ronda ostensiva nas regiões das unidades de Saúde, além de equipes da guarda de prontidão nas unidades. Outra medida é a instalação de barreiras físicas nas farmácias e recepções.
Isto porque acompanhantes têm agredido verbalmente — e em, alguns casos, fisicamente — os servidores. “As pessoas estão um tanto quanto impacientes e intolerantes nesse momento. Nós temos tido pessoas que agridem verbalmente, chegando até vias de fato, esse caso da colega enfermeira da UPA Universitário”, analisa.
Subnotificação
O presidente do Sinte (Sindicato dos Trabalhadores da Enfermagem), Ângelo Macedo, diz que os casos de violência contra trabalhadores da Saúde são subnotificados. Por isso, a entidade está desenvolvendo o sistema ‘Agressômetro’, para registrar e mapear os casos de assédio e violência.
No sistema, o profissional vai poder relatar as situações vivenciadas. Entretanto, a ferramenta não vai substituir o registro e as denúncias formais.
“Há muita subnotificação e muita coisa não é feita. Não estamos querendo, com essa ferramenta, excluir o boletim de ocorrência. O boletim de ocorrência precisa ser feito e é preciso que a gente encontre caminhos e práticas para que ele seja viável”, explica.
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