Dor e saudade. Esses são os sentimentos que marcam a missa de 7º dia de Sophie Emanuelle Viana, de cinco anos. Com a presença de familiares e amigos, a cerimônia em memória da criança, começou às 19 horas desta quinta-feira (5), no Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Campo Grande.
Bastante abalada, a mãe de Sophie, Maria Aparecida Viana Pio, conversou com a reportagem. Com a voz embargada, ela falou sobre a tristeza que sente pela morte da filha.
“É uma falta que não tem nem como expressar. Ela era a alegria, a caçulinha da família e, ao mesmo tempo, era o terror da família porque ela era muito alegre, feliz. Irradiava luz para todo mundo”, afirma.

Família pede por justiça
Revoltada, a família, que ainda espera uma resposta da Santa Casa, hospital onde Sophie morreu, pede por justiça.
“A gente não vai calar diante desse caso, porque é um caso de omissão e de negligência. Queremos uma resposta da Santa Casa, seja do diretor técnico, de alguma representação que possa justificar. Embora, não justifica porque uma vez que a vida se vai, não se volta mais. Só ficam as lembranças, as dores e a saudade e é isso que restou para nós. Estamos destruídos”, frisa.
“Foi um erro irreparável e queremos justiça. Campo Grande não vai se calar. Esse é um caso entre muitos que já aconteceram e poderão acontecer. Que outras Sophie não sejam vítimas desses sistema desumano”, protesta.
Vailza Costa Viana, tia de Sophie, acompanhou de perto os últimos dias da sobrinha e diz que a família não recebeu apoio do hospital. “Não tivemos nenhum amparo e nenhum contato da Santa Casa, como eles estão alegando. Eu fui até a Santa Casa cobrar explicações e o que foi dito é que eles estão consternados”, relata.

Relembre o caso
Sophie morreu na última quinta-feira (29). Na certidão de óbito a explicação é uma “hemorragia subaracnoide, que significa uma hemorragia cerebral, como também de fratura parietal direita, e de um acúmulo de sangue entre as camadas externas das meninges e do cérebro”.
Por trás da especificação na certidão de óbito, está uma história trágica. No último dia 25 a menina brincava em casa, no Jardim Aeroporto, quando foi atingida pelo portão.
A família logo buscou socorro em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Pelo histórico de cardiopatia, a criança foi encaminhada para a Santa Casa, onde passou por raio-x e observação até ser liberada.
Na manhã do dia 26, o ferimento na cabeça de Sophie começou a sangrar e seu olho passou a ficar inchado. Ela teve febre alta e vômito. Preocupados com a possibilidade de convulsão, a família retornou com a criança para a Santa Casa. No dia 27, Sophie já não conseguia enxergar por conta do inchaço nos olhos e o quadro ficou ainda mais grave.
A família relata que no dia 28 o sangramento na cabeça passou a ficar mais intenso. No período da tarde, o pescoço da menina já estava todo inchado e ela não conseguia mais falar, momento em que uma médica orientou a levar a criança, com urgência, para ala de emergência.
“Por volta das 18h40 foi que Sophie subiu para ala de emergência e pouco tempo depois o médico avisou que ela teve uma parada cardíaca, mas conseguiram reanimar. O problema é que seu quadro já era grave neste momento e o coração funcionava por conta da medicação”, contou a mãe.
Shopie chegou a ir para cirurgia, mas não resistiu a uma segunda parada cardíaca e morreu, por volta das 21 horas do dia 29 de maio.
O caso é investigado. A Polícia Civil, através da DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), deve vistoriar o protão que caiu e atingiu Sophie.

Protesto
Na tarde desta quinta-feira (5), a família protestou na Câmara de Campo Grande. Os vereadores aprovaram requerimento que pede informações sobre a morte da criança para a Santa Casa — hospital que liberou a pequena após acidente.
O requerimento, assinado por Rafael Tavares (PL) e que solicita um relatório médico completo da paciente, referentes aos atendimentos realizados entre os dias 25 e 29 de maio de 2025, foi aprovado por unanimidade.
A escala médica dos profissionais médicos e de enfermagem que estiveram de plantão no mesmo período, protocolos de atendimento e providências adotadas também são solicitados no requerimento.

Desassistência era anunciada
No dia 24 de março de 2025, a Santa Casa de Campo Grande emitiu uma nota à imprensa relatando superlotação do pronto-socorro, e um ofício, pedindo a suspensão do recebimento de novos pacientes. Na época, relatou grave desabastecimento, atendimento acima da capacidade máxima e sem possibilidade de novas admissões.
O ofício foi encaminhado às autoridades municipais de saúde e à Justiça. Mas não foi o único. Desde então, os comunicados da Santa Casa sobre a situação se tornaram frequentes. Ainda em março, médicos da ortopedia foram à polícia dizendo que não havia insumos para cirurgias e 70 pacientes corriam risco de morte ou sequelas graves.
Até que exatos dois meses depois (23 de maio), o maior hospital de Mato Grosso do Sul emitiu outro ofício, comunicando o bloqueio do pronto-socorro adulto e infantil. Assim, na nota, afirma que, “devido às restrições físicas, tornou-se impossível manter condições mínimas para o atendimento adequado”.
A Santa Casa admitiu que, diante do cenário e apesar dos esforços em conjunto, “as condições atuais não garantem um atendimento seguro e adequado”. Sophie chegou ao hospital, pela primeira vez, dois dias após esse último anúncio e morreu em 29 de maio.

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