O intenso fluxo de veículos de carga, aliado à precariedade das vias, transformou as rodovias que cortam Mato Grosso do Sul em um cenário de tragédia anunciada. No dia 15 de junho, um grave acidente envolvendo um ônibus e uma carreta na BR-262 expôs, mais uma vez, a fragilidade da infraestrutura viária do Estado.
Apesar dos sinais de degradação, o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) afirma que grande parte da rodovia encontra-se em “boas condições”, segundo avaliação técnica recente.
Ferrovia desativada e sobrecarga das rodovias
Desde a desativação da Malha Oeste, principal ferrovia de Mato Grosso do Sul, a BR-262 passou a concentrar boa parte do escoamento de minério. A rodovia tornou-se o principal corredor logístico da região, provocando uma intensa sobrecarga. Assim, veículos de passeio passaram a disputar espaço com caminhões e carretas, agravando o risco de acidentes e acelerando o desgaste da via.
Questionado sobre a atual situação da estrada, o Dnit confirmou que, nos últimos anos, houve um aumento expressivo no volume de tráfego. Entre os fatores apontados estão o crescimento da exportação de commodities e os longos períodos de seca, que comprometeram o transporte hidroviário pelo Rio Paraguai.
Ainda assim, o ICM (Índice de Condição de Manutenção), atualizado em abril de 2025, apontou a maior parte da rodovia como “boas condições”.
De acordo com o Dnit, existe um monitoramento contínuo do tráfego por meio do Programa Nacional de Contagem de Tráfego, que utiliza sensores eletrônicos. Há também contratos de pesagem veicular para mitigar os danos provocados pelo excesso de carga. No entanto, a eficácia dessas medidas ainda é questionada por especialistas diante da deterioração visível em vários trechos.
No Espírito Santo, por onde também passa a BR-262, já há obras de duplicação em andamento, com previsão de início para abril de 2026. O projeto, estimado em R$ 8 bilhões, visa ampliar a capacidade da rodovia até a divisa com Minas Gerais.
Acidente reacendeu debate sobre a segurança das rodovias

O tema voltou ao debate após um grave acidente na BR-262. No dia 15 de junho, o ônibus seguia no sentido Campo Grande – Corumbá quando, ao passar por uma falha na pista, o motorista perdeu o controle e invadiu a faixa contrária, colidindo com uma carreta. Com o impacto, uma barra de ferro se desprendeu do caminhão, atravessou o para-brisa do ônibus, e as três primeiras fileiras de assentos foram atingidas.
Entre as vítimas está Marcelino Florentino Filho, de 84 anos, que viajava para conhecer a neta recém-nascida. A médica Andrezza das Neves Felski, de 27 anos, que retornava de férias com o namorado, delegado de polícia. Duas pessoas tiveram a perna amputada, entre elas uma criança de seis anos.
Em depoimento, o motorista do ônibus afirmou que perdeu o controle após passar por uma falha na pista. Já o caminhoneiro relatou que tentou desviar para o acostamento, mas não conseguiu evitar a colisão. No entanto, uma passageira contesta a versão e afirma que não houve falha na pista. O motorista acabou indiciado pela polícia após imagens de câmeras de segurança comprovarem que ele invadiu a contramão de direção.
Promessas para MS

Em Mato Grosso do Sul, o Dnit promete iniciar, já em julho, uma operação de pesagem veicular com equipes móveis, que poderão atuar em diferentes pontos do Estado. Também está prevista, para o primeiro trimestre de 2026, a implantação de um posto fixo de pesagem no km 388,150 da BR-262, próximo ao posto da Polícia Rodoviária Federal em Terenos.
No trecho entre Campo Grande (km 366) e Corumbá (km 781), o Dnit afirma manter quatro contratos de manutenção rodoviária, responsáveis por serviços de conservação rotineira e obras estruturantes pontuais.
O órgão alega ainda que toda a malha sob sua responsabilidade está 100% coberta por contratos de manutenção. Entre as ações previstas estão melhorias no pavimento, acostamentos, reforço na sinalização horizontal e vertical. Além disso, o Dnit planeja a instalação de dispositivos de segurança como guarda-corpos e defensas metálicas.
Essas medidas fazem parte do Programa BR Legal 2, voltado à sinalização e segurança viária. Ainda neste ano, o Dnit planeja instalar 17 novos controladores eletrônicos de velocidade entre Anastácio e Corumbá.
Ferrovias como solução logística

Enquanto isso, a reativação da Malha Oeste, que liga Corumbá (MS) a Mairinque (SP), segue a passos lentos. Com mais de 1.600 km, o trecho está em processo de relicitação pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), após devolvido pela concessionária Rumo S/A em 2021. O novo modelo de concessão prevê ainda que empresas disputem trechos específicos, com possibilidade de devolução parcial aos estados.
Apesar do histórico de descumprimentos contratuais, a Rumo demonstrou interesse em continuar operando trechos estratégicos. Neste ano, a empresa iniciou operação de composições com 135 vagões, retirando cerca de 530 caminhões por dia das estradas. A medida, conforme a Rumo, trouxe alívio para o tráfego rodoviário e os impactos ambientais.
Porém, o TCU (Tribunal de Contas da União) manifestou oposição à repactuação direta do contrato com a Rumo, citando histórico de inadimplência, abandono de trechos e descumprimento de metas. O órgão determinou que qualquer solução consensual deve considerar os antecedentes da empresa.
Além da Malha Oeste, uma das principais apostas logísticas de Mato Grosso do Sul é a Nova Ferroeste, ferrovia de 1.567 quilômetros que ligará Maracaju (MS) ao Porto de Paranaguá (PR), atravessando 66 municípios. O projeto tem como foco o escoamento da produção agrícola e da indústria de celulose, com a promessa de trazer um modal mais eficiente e ambientalmente sustentável.
Projetos
Outra importante estrutura ferroviária é a Ferronorte (Ferrovia Norte Brasil), que atravessa os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com o objetivo de transportar grãos, especialmente soja e milho, até o Porto de Santos. No território sul-mato-grossense, a ferrovia possui 755 quilômetros de extensão e conecta Rondonópolis (MT) a Aparecida do Taboado (MS), onde se integra à malha ferroviária paulista.
Também há o projeto da Ferrovia do Pantanal, planejada para ligar Panorama (SP) a Porto Murtinho (MS), às margens do Rio Paraguai. A proposta visa atender ao escoamento da produção agrícola da região, incluindo soja, milho e açúcar.
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