Você já sentiu aquela dor no corpo e foi correndo pesquisar o que poderia ser? Pois é, a popularização das IAs (Inteligências Artificiais) e da própria internet aumentaram dois problemas já existentes na sociedade: autodiagnóstico e automedicação.
É comum que ao sentir algum sintoma a pessoa corra para uma ferramenta de pesquisa para buscar o que pode ser. A questão é que a ferramenta não tem todo o histórico clínico do paciente e mostra uma coleta de informações bem variada.
“As informações on-line têm por base sinais e sintomas gerais e informa as possíveis doenças relacionadas, não consideram quem é a pessoa e sua história de vida. O risco é a pessoa se automedicar ou muitas das vezes ter medo de procurar um médico, por ter medo do diagnóstico. Ao optar pela automedicação, temos o risco dos efeitos colaterais e as reações cruzadas entre os medicamentos, a pessoa acredita que está tratando a sua doença, diagnosticada pelo Dr. Google, mas na realidade complicou o seu caso e pode piorar doenças das quais já faz tratamento, principalmente os idosos”, explica a pneumologista Ana Maria Marques.
Confusão
O fato é que as pesquisas feitas pelos pacientes podem mais confundir do que ajudar: afinal, sem conseguir filtrar corretamente, as ferramentas de pesquisas geram inúmeros resultados, como conta o geriatra Marcos Blini.
“As respostas muitas vezes podem confundir mais ainda esse paciente ou levar a tratamentos errados, ou ineficazes”, pontua.
Além disso, as ferramentas de pesquisa, incluindo as IAs, utilizam as informações de banco de dados, enquanto os médicos possuem toda uma formação e especialização para chegar ao diagnóstico da doença. Afinal, existem doenças com sintomas parecidos, que podem ser confundidas como gripe, dengue, resfriado e influenza.
“O ideal é sempre que você sente algum novo sintoma, alguma situação que você tenha a percepção que precisa de uma assistência médica, procurar um médico, um profissional capacitado para avaliar exatamente o que está acontecendo com você, para realizar um tratamento adequado. Até porque grande parte das vezes não é necessário um tratamento medicamentoso. E esse medicamento, às vezes, que você vai usar por indicação de internet, de vizinhos, de amigos, pode, às vezes, só te fazer mal”, reforça Marcos.
Remédios com moderação
Com o autodiagnóstico vem a automedicação. Afinal, após “descobrir” a doença, a pessoa quer logo entrar com um tratamento – gerando um perigo iminente.
O uso espontâneo de alguns medicamentos, como analgésicos, repositores de flora e antigripais, é permitido desde que o paciente tenha atenção aos sintomas. Mesmo assim, cuidados são essenciais. Por exemplo: em caso de dengue, uma série de medicações pode piorar o quadro da doença, como no caso do Ibuprofeno.
O otorrino Rafael Pontes explica sobre as medicações que podem ser tomadas.
“Têm remédios que sim, que a gente orienta, que são os sintomáticos. Eles podem ser usados, sim. São remédios vendidos nas gôndolas, nas farmácias. Por exemplo, um antitérmico para febre ou um analgésico para dor de cabeça, ou, então, um repositor de flora intestinal quando você está com uma diarreia. Esses são exemplos de medicamentos que você pode tomar e até deve tomar antes de procurar o atendimento”.
No entanto, além de ter atenção aos sintomas, em caso de piora é necessário procurar um atendimento médico. Um tipo de medicação que não é indicado o uso sem orientação médica são os corticoides, isso porque esses remédios podem gerar problemas de desregulação de hormônios.
Os antibióticos também estão na lista de medicações não indicadas sem prescrição médica. Nesse caso, algumas pessoas tomam como se fosse para tratar sintomas, e assim que eles param, o medicamento é descontinuado. Com isso, as bactérias criam resistência e futuramente a medicação para de fazer efeito.
Automedicação
Uma leitora conta que a mãe já foi até o Paraguai para comprar uma medicação que não é permitida no Brasil. O remédio em questão é para pacientes com pedras no rim, mas a mãe da leitora comprou para “evitar” pedra no rim.
Em contradição a isso, o médico geriatra afirma que observa que a população mais jovem é quem geralmente acredita nas informações encontradas na internet.
“Percebo por colegas endócrinos, nutrólogos, nutricionistas, que a população mais jovem é que está mais complicado. Muitas vezes eles acreditam em médicos charlatões, profissionais que não seguem a ciência. Às vezes eles veem alguma coisa em algum site de fake news, alguma coisa assim, eles acabam seguindo aquilo. E muitas vezes trazendo mal pra eles”.
Assim, é preciso saber onde buscar as informações. A pneumologista indica os sites do Ministério da Saúde, das Sociedades Médicas e dos cursos de medicina como fontes seguras para caso o paciente queira entender melhor o que sente.

Compreensão
As ferramentas de buscas no digital estão a um clique de distância, um fenômeno que passou a fazer parte do dia a dia de todos na atualidade. Por isso, médicos buscam compreender os autodiagnósticos feitos pelos pacientes.
“Com a popularização da internet, das IAS, os pacientes têm mais acesso a esses diagnósticos, a esses possíveis tratamentos e já vêm, muitas vezes, automedicados. Porém, a nossa visão como médico é que a gente não tem que temer esse tipo de conhecimento da população leiga. A gente está aqui para orientar e para conduzir da melhor forma possível. Então, a gente não tem que se colocar totalmente contra, porém, orientar, inclusive, orientar os sites mais recomendados que os pacientes possam recorrer e sempre orientando que a medicação, um tratamento, ele deve procurar o atendimento”, explica o otorrino.
Muitas vezes, os autodiagnósticos ocorrem em momentos de aperto. O paciente começa a sentir uma dor ou tem uma reação e busca entender o que é aquilo. O que pode ser um aspecto positivo.
“Em um diagnóstico mais simples, para te direcionar qual especialidade procurar, é muito válido. Isso eu acho que é um ponto positivo, para você não ficar perdido e não saber quem procurar. Porém, a intenção é que você procure, depois dessa informação, procure o profissional adequado e não simplesmente ficar só com a IA”, destaca Rafael.
IAs são vistas ‘com bons olhos’
Com o lançamento do Chat GPT em 2022, e mais recentemente a chinesa Deep Seek, as IAs se tornam cada vez mais populares e fáceis de usar. Mas ela é apenas isso, uma ferramenta, e como ferramenta ela deve ser usada a favor do ser humano. Ou seja, ela pode ser utilizada para tirar alguma dúvida, trazer algumas informações. E tudo isso com extrema cautela.
“Hoje em dia a gente já usa muita inteligência artificial para fazer resumos de artigos científicos, para fazer busca para a gente preparar a aula, preparar material técnico para apresentações em simpósios, em congressos… Então, a tendência é que a inteligência artificial venha muito ajudar o médico, sim, principalmente nesse processo de se manter atualizado”, comenta Marcos.
Conselhos
O autodiagnóstico e a automedicação são perigos que afetam tanto o CRF (Conselho Regional de Farmácia) quanto o CRM (Conselho Regional de Medicina). Em nota, o CRM/MS fez um alerta sobre o tema.
“O Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM/MS) alerta a população sobre os perigos do autodiagnóstico, prática comum com o uso do Google e de inteligências artificiais. Segundo o presidente Carlos Idelmar de Campos Barbosa, informações online podem ser imprecisas e levar a diagnósticos errados, atrasando o tratamento adequado.
‘A consulta médica é essencial para um diagnóstico preciso e seguro. Apenas um profissional qualificado pode avaliar corretamente cada caso’, destaca Barbosa. O CRM/MS reforça a importância de buscar sempre atendimento médico para evitar riscos à saúde”.
Já a presidente do CRF-MS, Daniely Proença, afirma que a automedicação é uma preocupação crescente na sociedade, podendo ter graves resultados. Confira a nota completa:
“Os riscos da automedicação são uma preocupação crescente na sociedade. Muitas pessoas buscam informações sobre saúde em fontes não confiáveis, como redes sociais e pesquisas na internet, o que pode levar a escolhas inadequadas que agravam condições de saúde”.
Proença detalha que a automedicação pode resultar em complicações graves, pois muitos indivíduos não possuem o conhecimento necessário para avaliar corretamente seus sintomas ou as interações entre medicamentos. Orientações vindas de terceiros ou de fontes não especializadas podem ser ainda mais prejudiciais.
“O farmacêutico é o profissional de saúde capacitado para oferecer orientações sobre o uso seguro de medicamentos. Ele está sempre disponível para esclarecer dúvidas, fornecer suporte e garantir que as medicações sejam utilizadas adequadamente. As farmácias são espaços acolhedores, onde todos têm o direito de receber atenção farmacêutica e assistência especializada”, pontua.
Segundo ela, “é fundamental que a população busque sempre a orientação de um farmacêutico antes de iniciar qualquer tratamento. O cuidado com a saúde deve ser uma prioridade, e contar com o conhecimento de um profissional qualificado é essencial para garantir o bem-estar da comunidade”.
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