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Cotidiano

Dia Nacional da Saúde reacende debate sobre avanços e desafios do SUS em Campo Grande

Com déficit de leitos, UPAs e CRSs se tornam 'mini-hospitais' na Capital
Karina Campos -
Unidade de saúde lotada em Campo Grande (Foto: Madu Livramento, Jornal Midiamax)

O Brasil celebra, nesta terça-feira (5), o Dia Nacional da Saúde, data que homenageia o médico sanitarista Oswaldo Cruz. Em , a data reacende o debate sobre os avanços e os desafios enfrentados pela saúde pública.

Com uma rede em expansão, desafios estruturais e o esforço contínuo para manter a cobertura da atenção primária, o município ainda lida com a escassez de leitos hospitalares e a defasagem na tabela do SUS (Sistema Único de Saúde).

Em entrevista ao Jornal Midiamax, a secretária da (Secretaria Municipal de Saúde), Rosana Leite, relata que a cidade possui 90% de cobertura na Atenção Primária. Contudo, as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e os CRSs (Centros Regionais de Saúde) precisaram se tornar “mini-hospitais” diante do déficit de leitos na Capital.

O SUS como pilar da saúde brasileira

Neste ano, o SUS completa 35 anos de prestação universal e igualitária para todos os brasileiros. O que antes era um serviço de responsabilidade federal passou a ser descentralizado e de gestão compartilhada entre União, estados e municípios.

A Constituição Federal de 1988 consagrou a saúde como direito de todos e dever do Estado. Dois anos depois, em 1990, a Lei nº 8.080 regulamentou o Sistema Público de Saúde em todo o território nacional. Ou seja, o SUS não é simplesmente um serviço médico-hospitalar — também promove ações de prevenção, vacinação, controle de doenças, além de atuar na assistência farmacêutica, educação, promoção, vigilância e gestão da saúde.

Para garantir a assistência a todos, o SUS se baseia em três princípios:

  • Universalização: a saúde é um direito de cidadania de todas as pessoas e dever do Estado;
  • Equidade: busca diminuir desigualdades e garantir que todos tenham acesso aos mesmos serviços;
  • Integralidade: considera o indivíduo na totalidade, atendendo a todas as suas necessidades.

Gestão de saúde é compartilhada

  • União: Por meio do Ministério da Saúde, realiza a gestão federal da saúde e é o principal financiador da rede pública. Formula políticas nacionais, pactuadas e executadas com estados e municípios. Também planeja, elabora normas, avalia e fiscaliza o SUS.
  • Estados: os estados possuem secretarias específicas para a saúde. Os gestores estaduais aplicam recursos próprios e os repassados pela União, coordenando e planejando o SUS no âmbito estadual, respeitando a normatização federal.
  • Municípios: responsáveis pela execução das ações e serviços de saúde em seu território. Devem aplicar recursos próprios e os recebidos da União e do estado. Assim, formulam suas políticas de saúde e colaboram na aplicação de políticas nacionais e estaduais.

“Não existe hierarquia”

“O SUS não tem hierarquia entre as três instâncias: federal, estadual e municipal. Significa que é compartilhado e colaborativo, cada uma com suas especificações. O município de Campo Grande, como os demais 5.570 municípios brasileiros, têm obrigação com a atenção primária, mesmo aqueles com apenas seis mil habitantes”, exemplifica a secretária.

A Sesau tem a função de gerir os recursos oriundos das demais esferas. Rosana explica que Campo Grande divide a construção do atendimento público, por exemplo, nas áreas de atenção primária, especializada, hospitalar e reabilitação.

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“A Atenção Primária é o primeiro contato do paciente, são aquelas consultas rotineiras. Trabalhamos com território, por isso temos as nossas unidades de saúde da família, que são distribuídas conforme a população.”

“Quando dizemos que Campo Grande tem 90% de cobertura, significa que 90% da população, inclusive quem usa saúde suplementar, está vinculada a alguma unidade de saúde da família. Por exemplo, uma UBSF pode ter de uma a seis equipes, compostas por médico, enfermeiro, ACS (agente comunitário de saúde) e equipe multidisciplinar, em alguns casos.”

rosana
Secretária Municipal da Saúde, Rosana Leite (Foto: Thaís Cardoso, Jornal Midiamax)

Cidadão tem direito ao SUS antes de nascer

A saúde gratuita ao campo-grandense está disponível antes mesmo do nascimento, com atendimento ofertado no pré-natal para todas as gestantes. Logo, Rosana ressalta que esse atendimento segue classificações de risco. Gestações de risco, por exemplo, são acompanhadas por especialistas, em unidades como o Centro Delas.

A Atenção Primária se estende ao atendimento hospitalar após o parto, em maternidades conveniadas com o município, como a Maternidade Cândido Mariano e a Santa Casa. Segundo Rosana, a rede funciona conforme a disponibilidade de equipe, estrutura e recursos financeiros.

“A saúde é pensada e, no meu ponto de vista, maravilhosa. A Atenção Primária coordena tudo ao redor. A saúde não tem preço, mas tem custos, não só financeiros, mas de recursos humanos e estrutura. Hoje temos 74 UBSFs, centros de especialidades que atendem desde ortopedia até cardiologia, além da saúde mental e da vigilância. É uma rede.”

Os gargalos

Há anos, reportagens alertam sobre o déficit de leitos hospitalares em Campo Grande, num contexto em que nova estrutura hospitalar, para média e alta complexidade, tornou-se necessário há mais de uma década para ampliar o atendimento. Neste ano, por exemplo, a Prefeitura de Campo Grande decretou situação de emergência diante do aumento dos casos de síndromes respiratórias, superlotação e escassez de leitos.

Atualmente, a Capital de tem déficit estimado de mil leitos hospitalares para atender uma população que já ultrapassa 900 mil habitantes. Além disso, a cidade também recebe atendimentos de urgência de moradores do interior do Estado.

Em números, a cidade vive em déficit: há uma média de 1,5 leito público por mil habitantes — abaixo do recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que é de 3 a 5 leitos a cada mil moradores.

“Pelas regras ministeriais, um paciente deveria ficar apenas 24 horas na unidade e depois ser encaminhado a um leito [hospitalar]. Mas isso não ocorre, porque há um déficit. Nossas 10 unidades de urgência e emergência se tornaram ‘mini-hospitais'”, destaca.

A situação deixa o município em um dilema, no qual a falta de vagas em hospitais impõe que as UPAs e CRSs da cidade também enfrentem a superlotação nas internações. “Não consigo encaminhar, mas também não vou mandar esse paciente para casa. Então, nos reestruturamos e tivemos gastos. As unidades passaram a funcionar como ‘mini-hospitais’, com compra de insumos e aumento de recursos humanos. Se tivéssemos leitos suficientes, nem precisaríamos da regulação”.

Engrenagem infinita

Os tipos de atendimento na saúde são amplos, e quase infinitos, diante da demanda diária. Logo, para manter a estrutura funcionando, o Ministério da Saúde estabelece indicadores e parâmetros para a liberação de recursos públicos.

“Tudo é controlado e avaliado. Embora sejamos responsáveis pela gestão, preciso avaliar constantemente não só a nossa rede, mas também os hospitais. O Ministério da Saúde tem sistemas que financia, falamos muito sobre habilitação. Para habilitar, é preciso cumprir critérios para receber recursos financeiros”.

“Temos sistemas de internação hospitalar e ambulatorial. Todo paciente atendido pelo SUS é registrado, e o Ministério tem acesso a essas informações. A gestão é feita pela Sesau, exceto no caso do HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul). Por exemplo: você pode ser atendido pelo SUS e não pagar nada, mas precisa estar no sistema, para que o Ministério avalie, ele é responsável pela prerrogativa”.

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Dia nacional da Saúde Pública, com entrevista da secretária de saúde Rosana Leite (Foto: Thaís Cardoso, Jornal Midiamax)

Indicadores da saúde pública

Em junho deste ano, o Ministério da Saúde apresentou novos indicadores para indução de boas práticas na Atenção Primária. Portanto, esses sinalizadores servem para monitorar as ações das equipes nos territórios e fazem parte do incentivo financeiro à melhoria contínua do cuidado.

Ao todo, são 15 indicadores, organizados em alguns deles divididos em:

  • eSF (Equipes de Saúde da Família);
  • eAP (Atenção Primária);
  • eMulti (Equipes Multiprofissionais);
  • eSB (Equipes de Saúde Bucal).

Entre eles, destacam-se:

  • Cuidado à pessoa idosa;
  • Cuidado no desenvolvimento infantil;
  • Escovação dentária supervisionada em idade escolar;
  • Primeira consulta odontológica programada;
  • Tratamento odontológico concluído;
  • Tratamento restaurador atraumático;
  • Procedimentos odontológicos preventivos;
  • Taxa de exodontias realizadas.

A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde para solicitar os dados positivos e negativos registrados pelo município. No entanto, os dados gerais ainda não estão disponíveis, pois a maioria dos municípios brasileiros está em fase de adequação.

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