Campo Grande atingiu 40,11% de cobertura vacinal contra a gripe entre os grupos prioritários, conforme o último balanço da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), divulgado na quarta-feira (21). Apesar de superar a média de vacinação em Mato Grosso do Sul (37,69%), a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde é de 90%.
Desde abril, as doses estão disponíveis para todos os públicos. Entretanto, a Campanha de Vacinação contra a influenza enfrenta obstáculos para alcançar a cobertura ideal. Entre os principais desafios, estão a rotina agitada, o ceticismo e o temor de reações adversas à aplicação.
Rotina cansativa
Beatriz Barboza, de 37 anos, trabalha por diárias em uma cozinha, entrando às 7h e saindo quase à noite. Ela atribui à rotina corrida a falta de tempo para buscar a imunização gratuita do SUS (Sistema Único de Saúde).
“Eu vou me vacinar, só preciso de mais tempo livre, pois minha rotina está muito corrida e cansativa. Como faço diárias, às vezes saio às 16h ou às 23h, varia muito. Quando estou de folga, ainda tem o serviço de casa, por exemplo, limpar, lavar roupa”, descreve.
‘Nem sabia que estava vacinando’
Ravi Souza, de 29 anos, é vendedor ambulante de salgados e refrigerantes. Ele também culpa a rotina pela dificuldade em cuidar da própria saúde.
“Eu acordo todos os dias às 3h da madrugada para trabalhar e entro às 4h na padaria. Tem dias que paro só às 23h. São quase 24 horas trabalhando para ter renda. Confesso que nem sabia que estava vacinando. Não tenho tempo de ver jornal ou mexer nas redes sociais. Trabalho demais.”
Aline Gonçalves, de 36 anos, diz que trabalha e estuda, mas tentou se vacinar no posto de saúde próximo à sua casa. Contudo, não havia doses disponíveis.
“Acho que foi no início deste mês. Não tinha [a vacina] no posto do bairro. Não tive tempo de procurar novamente. Eu trabalho desde às 6h no mercado, saio e faço contabilidade na faculdade das 19h às 22h. Eu chego em casa só querendo dormir. Aos fins de semana, quero descansar. Admito que estou colocando minha saúde em risco.”
Ceticismo com a vacina
Maria do Souza Roberto Almeida, de 62 anos, é cética quanto à imunização. Para ela, a aplicação é desnecessária, pois acredita ter boa imunidade.
“Nunca vou ao médico. Fui quando fui parir meu filho, e olha que ele tem 32 anos. Não tomo nem dipirona. Tenho pavor desses jovens que aparecem com a mão cheia de remédio. Eu acredito nos meus remédios caseiros.”
Questionada sobre o medo de ficar doente com gripe, ela completa: “Já devo ter pegado gripe e melhorei. Acho que quanto mais se vai ao médico, mais se acha alguma coisa. Estou saudável e sem tomar vacina. Não acredito na vacina”.
Pelas redes sociais do Jornal Midiamax, o público antivacina também expressa desconfiança quanto à segurança dos imunizantes. “Quem garante que essa vacina é verdadeira?”, escreveu um internauta. Em outra publicação sobre o aumento de casos de doenças respiratórias, uma leitora ainda sugeriu: “Caseiro é bem melhor”.
Vacinas salvam vidas
A campanha nacional de vacinação contra a gripe acontece há mais de 10 anos. Entretanto, a falta de informação e a disseminação de conteúdos falsos continuam a prejudicar a ampliação da cobertura vacinal.
Para se ter uma ideia do tipo de desinformação espalhada, o Ministério da Saúde desmentiu publicações que circulavam na internet alegando que os imunizantes contra a gripe carregariam “vírus e fungos do câncer”. Isso é mentira.
Todas as vacinas passam por rigorosos testes e análises antes de serem aplicadas na população, e não há comprovação científica alguma de que pessoas possam desenvolver câncer em decorrência da vacinação.
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A vacina contra a influenza é produzida com vírus inativados, fragmentados e purificados — ou seja, não é capaz de causar a doença. Além disso, sua composição e concentração de antígenos são atualizadas anualmente, conforme orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde).
A estratégia de vacinação contra a gripe foi incorporada ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) em 1999, com o objetivo de reduzir internações, complicações e óbitos entre a população-alvo. A vacina é segura, eficaz e pode ser administrada simultaneamente com outras do calendário nacional.
Um exemplo recente sobre o poder da vacinação foi o da covid-19. O número de mortes pelo coronavírus caiu em Mato Grosso do Sul, em 2022, quando comparado ao ano de 2021. Em um ano, as vítimas que perderam a vida para o vírus diminuíram 85%.
Vacina é segura
Durante ações itinerantes e nos postos de saúde, servidores relatam declarações como: “Tomei a vacina ano passado e peguei gripe”, ou “Tomei e não acredito”, “Tenho medo de tomar a vacina porque pode não ser segura”. Essas descrenças favorecem a alta circulação do vírus.
A superintendente de Vigilância em Saúde Ambiental da Sesau, Veruska Lahdo, reforça que a vacina é segura. Ela esclarece que a imunização não impede totalmente a infecção, mas reduz significativamente o risco de complicações.
“Ser vacinado contra a influenza não quer dizer que ela não vá ter influenza, mas que a vacina vem como medida de reduzir as complicações decorrentes de uma infecção, caso essa pessoa tenha contato com o vírus influenza. Por isso, reduz as chances de internação e óbitos. Quando a pessoa tem muitas dúvidas em relação a isso, a gente orienta para não dar atenção a notícias falsas. A melhor indicada para tirar essa dúvida é um profissional da saúde.”
Idosos, crianças, gestantes e pessoas com comorbidades precisam aderir ao imunizante por estarem no grupo de risco — ou seja, com maior chance de desenvolver formas graves da doença ou evoluir a óbito.
Lahdo destaca que os pontos itinerantes foram ampliados para alcançar quem alega falta de tempo, como em mercados e shoppings, além da extensão do atendimento para o período noturno.
“O vírus respiratório que mais circula nesse momento, na Capital, além dos outros respiratórios, é o da influenza. Contra ele, temos uma vacina eficaz para evitar as formas graves. A vacina vem como meio de reduzir a transmissão do vírus no meio da nossa população”, finaliza.
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