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Cotidiano

Criadores de gado minimizam crise e acusam frigoríficos de ‘má-fé’ para baixar preço do boi

Associação de criadores de gado alega que as tarifas geraram especulações no mercado, mas seu impacto real é limitado
Murilo Medeiros -
Gado Nelore. (Foto: Divulgação, Associação Nelore)

Na tarde desta terça-feira (15), frigoríficos de anunciaram que vão suspender as exportações de carne bovina aos Estados Unidos. Na opinião de criadores de gado do Estado, esta seria uma tentativa de manipular o valor do boi. “É uma manobra de frigoríficos para forçar criadores a vender o seu animal com preço abaixo da média”, afirma Paulo Matos, presidente da Nelore-MS (Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore).

No início da semana, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou taxas de 50% sobre todos os produtos brasileiros. Em nota, a associação de criadores de gado alega que as tarifas geraram especulações no mercado, mas seu impacto real é limitado. Em 2024, o setor exportou R$ 1,3 bilhão (ou US$ 235 milhões) de carne bovina ao país norte-americano. Isto corresponde a 49,6 mil toneladas, o que é 17,6% da total do produto do ano passado.

Os frigoríficos justificaram a suspenção dizendo que os embarques enviados nesta semana chegariam ao país após 1º de agosto, quando começa o tarifaço imposto por Donald Trump. Segundo o vice-presidente do Sincadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul), Alberto Sérgio Capucci, o pedido partiu dos próprios importadores norte-americanos, que solicitaram a suspensão dos embarques devido às incertezas no comércio exterior.

Por outro lado, a Nelore-MS utiliza dados nacionais para embasar estudos técnicos, os quais, segundo a associação, apontam que, mesmo com a redução de até 70% nos embarques para o mercado norte-americano, o excedente seria de algo em torno de 1,6% da produção brasileira, insuficiente para provocar uma queda expressiva nos preços. “Falar em colapso de mercado interno é, no mínimo, má-fé”, afirma Paulo Matos, presidente da Nelore-MS.

Arroba já baixou

O titular da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Jaime Verruck, chama atenção para o risco de desvalorização do preço do boi.

“A gente não consegue colocar esse produto rapidamente em outro mercado internacional. A consequência seria colocar esse produto no mercado interno sul-mato-grossense, mercado interno brasileiro, o que obviamente pode haver um aumento de oferta e também uma redução de preço e, na sequência, até uma redução de preço da arroba do boi aos produtores. Por isso que é tão preocupante esse tarifaço”, explicou Verruck. 

Segundo os dados mais atualizados disponíveis, o valor da arroba do boi gordo já apresentou leva queda em Mato Grosso do Sul após a suspensão da exportação de carne aos Estados Unidos. Conforme a Scot Consultoria, o preço da arroba do boi gordo, à vista, registrou queda na praça de Dourados e ficou em R$ 298,50, na terça-feira (15). Em e em Três Lagoas, os preços se mantiveram estáveis, em R$ 301,50.

No entanto, para a Nelore-MS, os frigoríficos querem ampliar a margem de lucro e utilizam os produtores rurais como “amortecedor dos problemas internacionais”. O mercado americano, segundo a Associação, absorve basicamente cortes desossados congelados, voltados à indústria de hambúrguer e processados, sem peso decisivo na precificação do boi gordo. “A conta é simples: quem vai pagar mais caro pelo hambúrguer são os consumidores norte-americanos, não os produtores brasileiros”, conclui Paulo Matos.

Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) vê com preocupação o entrave comercial, já que os Estados Unidos são um importante parceiro comercial para Mato Grosso do Sul. “Em 2024, os Estados Unidos foram o segundo maior destino das exportações sul-mato-grossenses. A interrupção das vendas pode representar prejuízos econômicos imediatos, comprometendo a estabilidade e impactando nos preços do mercado da pecuária”, explica o presidente da entidade, Marcelo Bertoni.

Prejuízo

Vale destacar que os frigoríficos não pararam os abates, apenas deixaram de enviar a produção ao país norte-americano.

O Governo do Estado apontou que deve procurar outros destinos para as exportações, mas reconhece que pode ocorrer demora para escoar a produção. Além disso, na opinião do presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Guilherme Bumlai, outro fator que pode amenizar os impactos seria a redução sazonal da oferta de gado para abate nos meses de agosto a setembro. Isto poderia equilibrar o mercado e evitar uma queda mais expressiva nos preços da arroba.

Conforme dados do Agrostat, Mato Grosso do Sul exportou US$ 213,4 milhões em celulose, US$ 46,1 milhões em sebo bovino e US$ 19,9 milhões em açúcar de cana ou beterraba. Em reais, isto corresponde a R$ 1,1 trilhão, R$ 257 milhões e R$ 111 milhões, respectivamente. Além da carne, estes são alguns dos principais produtos enviados aos Estados Unidos por Mato Grosso do Sul.

Para a , os Estados Unidos representam um parceiro estratégico para o Brasil e para Mato Grosso do Sul, seja na exportação de celulose, seja na carne bovina, em produtos florestais ou outros itens do agro. A decisão do governo americano pode impactar também no aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras.

“O ‘tarifaço’ do Trump e seus desdobramentos vão impactar um conjunto amplo de cadeias produtivas relevantes para a economia de Mato Grosso do Sul. Dessa maneira, o setor produtivo pede uma articulação diplomática inteligente por parte do governo brasileiro, a fim de se reverter a situação grave que está posta”, deseja Bertoni.

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