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Cotidiano

Contra o etarismo, alunos com mais de 40 anos rompem estigmas e ocupam universidades em MS

Com maior expectativa e qualidade de vida, não existe idade específica para a realização de um sonho
Jennifer Ribeiro -
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Alunos em MS (Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)

Quando o ano letivo começa nas universidades, muito se fala sobre os alunos que acabaram de deixar o Ensino Médio para ingressar em um novo desafio. Mas, com os holofotes virados para a nova geração, esquecemos de dar espaço para uma parcela importantíssima de alunos que, no auge dos seus 40, 50, 60 ou 70 anos, decidiram mudar a rota e ingressar pela primeira vez – ou não – no ensino superior.

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Conforme o Painel Estatístico do Censo da Educação Superior do MEC (Ministério da Educação), em 2023, Mato Grosso do Sul registrou 1.084 matrículas de alunos 40+ em universidades federais; 209 em universidades estaduais; e 6.044 em instituições privadas.

Isso mostra que, com maior expectativa e qualidade de vida, não existe uma idade específica para a realização de sonho, seja ele antigo ou novo.

Sonho do Direito foi realizado aos 70 anos

Este é o caso do economista Paulo Tarso Diogo do Amaral que aos 70 anos se formou no curso de Direito na UCDB (Universidade Dom Bosco) após duas tentativas. Paulo ingressou no curso pela primeira vez em 1984, em São Paulo. Três anos depois se casou, mudou para Mato Grosso do Sul e, com a nova rotina, precisou dar uma pausa nos estudos.

Em 1994, ele recomeçou o curso, mas seu filho nasceu e, novamente, precisou fazer uma pausa. “Meu filho nasceu com uma série de problemas, então tive que pausar os estudos. Nessa época eu já estava no sétimo semestre, quase finalizando”, conta.

A essa altura, a vida aconteceu e as prioridades mudaram. Embora adormecido, o sonho de se formar em Direito ainda era latente e Paulo sabia que, cedo ou tarde, voltaria para a universidade.

“Um filho meu se formou em Direito, outro em Medicina e minha filha em Administração. Não dava para eu voltar a estudar bancando os custos que envolviam a formação deles. Quando meu filho se formou em Direito, na pandemia, falei que voltaria. E foi o que fiz”, afirma.

Paulo Tarso conta sobre sua experiência na universidade (Madu Livramento, Jornal Midiamax)

Desafios para se formar

Para se formar, Paulo precisou lidar com um novo desafio. Ao se matricular, como já havia cursado algumas matérias nas tentativas anteriores, o economista foi direto para o 3º semestre. Quando chegou no 10º, soube que tinha 12 matérias atrasadas que correspondiam ao 1º e 2º semestre.

“Comecei a advogar em causa própria porque eu me recusava a fazer aquelas matérias. Então, começou um período de negociação. No fim, de 12 matérias, precisei fazer 8, ou seja, um semestre inteiro. Eu estudava das 7h até as 2h da madrugada. Foi um mês nessa loucura, parei tudo para concluir as matérias. Agora que estou respirando”.

Feliz por concluir os estudos, Paulo colará grau no 1° trimestre de 2025. “Dei aula por mais de 30 anos como economista e administrador. Conheço praticamente todas as universidades de Campo Grande. Já recebi diversos convites para voltar à universidade, agora como professor, mas eu pedi um tempo. Precisava concluir meu curso primeiro, respirar um pouco, e então voltar a trabalhar”.

E como é estudar com gerações diferentes, em anos diferentes?

Para Paulo, a universidade que conheceu nos anos 80 é completamente diferente da universidade que conheceu nos últimos 5 anos, principalmente porque, quando ingressou no curso superior pela primeira vez, o Brasil passava pelo regime militar. No entanto, conviver com as novas gerações foi muito tranquilo, afinal, a docência lhe deu experiência para tratar com pessoas de todas as idades.

O futuro profissional ainda é incerto. Agora, a prioridade é se recuperar dos últimos meses intensos de aula e TCC. No entanto, para quem sempre se manteve atualizado no mercado de trabalho, logo os estudos devem retomar, agora, na área da advocacia.

“Tem cara que tem 40 e poucos anos, já jogou a toalha, acha que a vida parou. Eu não aceito isso para mim, tanto que agora estou na correria para colar grau. Lembro que quando eu tinha 40 anos o pessoal falava: ‘aproveita que depois dos 40 acabou’. Mas, felizmente, essa questão com a idade mudou, agora é só um número e tudo depende de como você leva a vida”, pontua.

Diplomas de Paulo (Madu Livramento, Jornal Midiamax)

Prazer em trabalhar com pessoas fez padre cursar psicologia

Aos 40 anos, o padre Alex Messias inicia o 9° semestre do curso de psicologia na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco). Alex conta que sua vida acadêmica começou em 2002, aos 17 anos, através do curso de filosofia e teologia. No entanto, seu desejo por aprendizado continuava e, por isso, em 2018, decidiu fazer uma especialização em psicologia da saúde.

“Sempre tive prazer em trabalhar com pessoas, fazer gestão de pessoas, e nada melhor que a psicologia para compreender e entender a história de cada um. Os estudos me movem e pra mim, estar em uma universidade é extremamente prazeroso”, pontua.

Conforme Alex, o curso que faz tem predominância jovem no período vespertino, enquanto durante a noite, a predominância é de pessoas mais velhas. No entanto, para ele, “o fato de estar em meio a juventude, entre 18 e 25 anos, é também uma maneira de observar o frescor da vida, juventude, compartilhar sonhos e projetos, por meio de interação muito saudável”.

Para ele, estudar com pessoas de diferentes idades é uma forma de aprender e ensinar, afinal, a formação não acontece apenas na sala de aula, mas em todos os momentos, mesmo que em uma roda de conversa.

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