Com transporte público ruim, passageiros migram para bikes e motos em Campo Grande
Críticas ao custo-benefício do uso do transporte público são comuns e muitos usuários estão trocando de modal
Osvaldo Sato –
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A insatisfação crescente dos usuários com o transporte público em Campo Grande tem levado muitos a buscar alternativas para se locomover pela cidade. Com críticas que vão desde o valor da tarifa até o estado dos veículos, passageiros estão abandonando o ônibus como principal meio de transporte e migrando para outras opções, como bicicletas, motocicletas e até aplicativos de transporte.
Maria Aparecida, de 37 anos, é empregada doméstica e uma das muitas campo-grandenses que trocaram o transporte público por outro modal. Apesar da possibilidade de incluir o vale-transporte no custo das diárias, ela adquiriu uma bicicleta elétrica. “Os ônibus são desconfortáveis, vivem superlotados e têm goteiras nos dias de chuva. Ainda perco muito tempo no deslocamento. Com a bicicleta elétrica, ganho mais horas no meu dia”, conta Maria. Em dias de chuva e com dinheiro extra, ela recorre ao transporte por aplicativo, mas evita ao máximo depender dos ônibus.
Para Tiago Almeida, de 19 anos, estudante e usuário do transporte coletivo, a frustração é evidente. “O transporte público está péssimo, os ônibus, então, nem se fala”, diz o jovem, que ainda não conseguiu alternativas para se deslocar. Ele critica especialmente a precariedade do serviço, que, segundo ele, “não vale o preço que cobram”.
Troca de modal de transporte
Já Lucas Alves, de 20 anos, conseguiu sair dos ônibus e não pensa em voltar. Funcionário de um supermercado atacadista, ele financiou uma motocicleta usada com ajuda do pai, que pagou a entrada. “Sempre peguei ônibus, desde a escola, e nunca foi bom. Chegou um ponto que os ônibus estão cada vez piores”. Para Lucas, o gasto mensal com a moto, incluindo combustível e manutenção, acaba sendo mais vantajoso e, principalmente, oferece liberdade e conforto.
Além das motos, as bicicletas se destacam como uma opção econômica, com um investimento inicial de R$ 1.000 a R$ 2.000 para modelos básicos e sem custos recorrentes de combustível. O relevo plano de Campo Grande favorece o uso deste modal, embora as longas distâncias urbanas sejam desafiadoras.
Modais elétricos, como bicicletas elétricas e scooters, oferecem economia de energia e praticidade para trajetos maiores, com valores iniciais entre R$ 5.000 e R$ 25.000, dependendo do modelo. A recarga elétrica tem custo menor comparado aos combustíveis fósseis, e algumas opções, como as da marca Shineray (entre R$ 6.000 e R$ 12.000), dispensam CNH e emplacamento.
As motocicletas a combustão continuam sendo uma escolha popular. Embora exijam maior investimento inicial e gastos com abastecimento, os modelos de baixa cilindrada são econômicos e duráveis. Financiamentos com parcelas a partir de R$ 300 e consórcios mais acessíveis, como R$ 275 (Honda Start) ou R$ 180 (Honda Pop), tornam essa opção viável para muitos.
Aumento da tarifa
O Consórcio Guaicurus, operador do transporte coletivo em Campo Grande (MS), solicitou um reajuste na tarifa técnica de R$ 5,95 para R$ 7,79. Essa tarifa cobre o custo total do serviço, incluindo despesas e margem de lucro, mas parte do valor é subsidiada pela prefeitura, permitindo aos passageiros pagar uma tarifa, atualmente fixada em R$ 4,75 (cerca de 80% da tarifa técnica).
Caso o reajuste seja aprovado e a proporção mantida, a tarifa para os usuários pode subir para aproximadamente R$ 6,20. Para um trabalhador que utiliza duas conduções por dia em 24 dias úteis, isso representaria um gasto mensal de R$ 299, cerca de 20% de um salário mínimo.
A Prefeitura de Campo Grande afirmou que está próxima de divulgar os novos valores para tarifa técnica e tarifa aplicada ao usuário.
Diante desse cenário, muitos passageiros estão optando ou considerando alternativas de transporte, como bicicletas e motocicletas. Enquanto isso, a frota de motocicletas cresce cada vez mais em Campo Grande.
Por outro lado, o transporte público ainda é um modal com potencial para ser acessível e que acarreta menor impacto ambiental, pois transportando mais pessoas com menos veículos, contribui com a redução da emissão de gases poluentes e para a diminuição do tráfego de carros nas ruas.
Frota de motos cresce ano a ano
Nas últimas décadas, Mato Grosso do Sul registrou um expressivo aumento na frota de veículos de duas e três rodas. Em 2006, o Estado possuía pouco mais de 69 mil veículos desse tipo, incluindo ciclomotores, motocicletas, motonetas e triciclos. Até 2023, esse número quase triplicou, ultrapassando 202 mil unidades.
O destaque foi para as motocicletas, que lideraram esse crescimento por sua eficiência e custo-benefício no transporte individual. Em 2006, havia cerca de 55 mil motocicletas registradas no Estado, número que saltou para mais de 165 mil em 2023.
O crescimento foi mais acelerado na década de 2000, com a frota dobrando praticamente entre 2006 e 2010. Entre 2010 e 2014, o aumento continuou, mas em ritmo mais moderado. Já entre 2020 e 2023, o crescimento foi consistente, mas sem grandes saltos, registrando uma média anual de 3,8%.
Outros segmentos, como motonetas e triciclos, também cresceram de forma contínua, atendendo a nichos específicos. Os ciclomotores, embora representem uma parcela menor da frota, mais que triplicaram em registros desde 2006, refletindo a diversificação dos modais no estado.
Insatisfação dos usuários contrasta com autoavaliação da Prefeitura
A insatisfação dos usuários contrasta com a avaliação da Agetran, que em novembro de 2024 classificou o transporte público da Capital como “bom e excelente”. A reação da população foi imediata, com críticas contundentes nas redes sociais. “Esses agentes literalmente não andam de ônibus”, ironizou um internauta.
Enquanto o Consórcio Guaicurus pede reajuste da tarifa técnica para R$ 7,79 – um aumento superior a 30% –, passageiros já convivem com uma tarifa de R$ 4,75 que compromete uma parcela significativa da renda. Caso o reajuste seja aprovado, o valor deve subir.
Se mantida a proporção de 80% entre tarifa técnica e tarifa aplicada ao usuário, o valor pode ser de cerca de R$ 6,20. Se considerado um trabalhador que usa o transporte público duas vezes ao dia, 24 vezes ao mês, a soma dos valores deve ser aproximar de 20% do salário mínimo.
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