A taxa de acidentes com escorpiões por 100 mil habitantes cresceu 3.505,97% em Mato Grosso do Sul entre 2007 e 2023, segundo dados levantados por pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). O estudo ainda revela que Mato Grosso do Sul foi o estado brasileiro que registrou o maior aumento proporcional do país nesse período.
O dado chama atenção por se tratar da taxa per capita, ou seja, proporcional à população, o que torna o crescimento ainda mais significativo, já que não está ligado apenas ao número absoluto de ocorrências.
Além disso, os pesquisadores apontam que a urbanização acelerada é um dos principais fatores para o aumento dos acidentes, principalmente com escorpiões e abelhas, em todo o país. A expansão desordenada das cidades, o descarte irregular de lixo e a maior oferta de abrigos (como residências) e alimentos (como baratas) contribuem para a proliferação dos escorpiões em áreas urbanas.
O estudo abrange todos os estados brasileiros, entre os anos de 2007 e 2023, e foi elaborado entre setembro de 2024 e abril de 2025, pelos pesquisadores Mauricio de Almeida Gomes e Rafael Dettogni Guariento, ambos professores do Laboratório de Ecologia do Inbio (Instituto de Biociências) da UFMS.
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Conforme detalha Maurício, a motivação do estudo partiu da observação do aumento do aparecimento de escorpiões tanto na casa onde o pesquisador mora, quanto na UFMS, seu local de trabalho, também aliado ao aumento de notícias relacionadas a acidentes com animais peçonhentos no Brasil, e em particular com escorpiões em Mato Grosso do Sul.
No artigo, os pesquisadores compilaram as taxas de acidentes per capita (a cada 100 mil habitantes) entre os anos de 2007 e 2023, para cada animal peçonhento, incluindo abelhas, aranhas, escorpiões, lagartas e serpentes. O texto também traz um recorte de dados para cada estado brasileiro.
“Relacionamos esses valores per capita para cada animal, para os anos de 2007 a 2023, com a área urbana, áreas atingidas por incêndios e supressão de vegetação nativa (todas em hectares). Encontramos que a expansão das cidades (áreas urbanas) teve um efeito positivo sobre a taxa de acidentes per capita para lagartas, escorpiões e aranhas. Por outro lado, áreas queimadas tiveram um efeito negativo sobre a taxa de acidentes com lagartas e a supressão de vegetação nativa teve um efeito negativo sobre a taxa de acidentes com abelhas”, detalha o pesquisador.
Nova pesquisa deve afunilar dados de acidentes em MS
Conforme revela Maurício, um novo estudo, que irá avaliar o motivo de Mato Grosso do Sul liderar o ranking de acidentes com animais peçonhentos, já está em fase de elaboração. No entanto, o pesquisador adianta que é possível especular que a expansão urbana desenfreada e problemas de saneamento, destinação do lixo, dentre outros fatores relacionados a essa expansão, estejam por trás dos números apurados no estudo já publicado.
“Queremos agora investigar o porquê desse aumento tão grande na taxa de acidentes com escorpião no MS, reunindo dados para cada município do estado. Iremos investigar, em um futuro artigo, o que explica esse aumento tão grande no estado. Podemos especular que seja resultado do crescimento urbano, mas isso precisa ser testado para ver se confirma”, detalha o pesquisador.
Além disso, Maurício explica que há a possibilidade de que haja subnotificação de acidentes, considerando que a população só busca atendimento para casos mais graves. “O principal risco é a ocorrência de acidentes envolvendo crianças, pois a mortalidade tende a ser maior para elas. Praticamente todas as notícias com relatos de mortes por picada de escorpião envolvem crianças, mais particularmente abaixo de 5 anos de idade”, completa.
Estudo traz recomendações para evitar acidentes
O conteúdo compilado pelos pesquisadores ainda reúne uma série de medidas, voltadas principalmente aos gestores públicos, de como evitar ou diminuir estes acidentes.
Dentre as medidas sugeridas estão: melhor planejamento urbano, para orientar o crescimento das cidades; descarte adequado de resíduos sólidos; campanhas educativas; e uso de equipamento de proteção, para evitar acidentes tanto nas cidades quanto no campo.
“Muitos acidentes poderiam ser evitados com cuidados básicos que todos podem tomar. Para evitar acidentes com animais peçonhentos, é importante manter a limpeza de áreas próximas às residências, como jardins e quintais, e usar luvas e botas em atividades que envolvam contato com materiais de construção, entulhos ou plantas. Além disso, é importante sacudir roupas e sapatos antes de usá-los, entre outras medidas, como vedar ralos por onde esses animais podem entrar nas casas”, destaca.

Como evitar o aparecimento de escorpiões em casa?
A recomendação principal é manter a casa limpa e organizada, eliminando pequenos esconderijos. Os escorpiões costumam se esconder em locais escuros, úmidos e com fácil acesso a alimento, e podem ser encontrados em redes de esgoto, ralos, entulhos, caixas de gordura, bueiros, materiais de construção e também em áreas rurais, onde há acúmulo de madeira, folhas secas e pedras.
Para evitar o acesso destes animais, é recomendado vedar ralos e frestas, assim como o uso de telas em ralos, pias e tanques. Em áreas rurais, é importante preservar os predadores de escorpiões, como lagartos, sapos e aves com hábitos noturnos.
Além disso, é essencial:
- Evitar acúmulo de entulhos, restos de construção, folhas secas e lixo;
- Checar as roupas, calçados e toalhas antes de usá-los;
- Afastar camas e berços das paredes e evitar que os lençóis fiquem em contato com o chão;
- Manter quintais limpos e a grama aparada;
- Consertar rodapés estragados, pois o escorpião pode se manter entre o piso e o rodapé;
- Não pendurar roupas nas paredes;
- Combater a proliferação de baratas, pois são a principal fonte de alimento dos escorpiões;
- Usar água sanitária nos ralos e frestas de portas;
- Instalar barreiras mecânicas nas portas;
- Fechar frestas e rachaduras nas paredes;
- Manter o ralo do banheiro fechado após o banho e vedar bem as caixas de gordura;
- Usar luvas e calçados fechados quando for realizar atividades como jardinagem, retirada de entulhos e materiais de construção.
O que fazer em caso de picada?
- Lavar o local da picada com água e sabão e procurar uma unidade de saúde o mais rápido possível;
- Não aplicar nenhuma substância, torniquete ou realizar sucção no local da picada.
Entre os sintomas de picada por escorpião estão: dor imediata, sudorese, vômitos, tremores e insuficiência cardíaca congestiva.
Como manipular o animal?
Se possível, é recomendado fazer a captura do escorpião, sempre prezando a segurança. A melhor forma de fazer o extermínio é golpear o animal com força, utilizando um objeto rígido e com uma haste longa, para evitar contato direto. Não é recomendado fazer o uso de inseticida ou produto químico para eliminar o escorpião, pois eles são resistentes a venenos.
Ao matar, a CCZ (Coordenadoria de Controle Zoonoses) pede que o morador tire uma foto e encaminhe a central, para ser feita a identificação da espécie, ou então, armazená-lo em um pote/frasco com álcool e levar o animal até a CCZ.
Em caso de dúvidas sobre o animal, é possível entrar em contato com o Ciatox pelos telefones: (67) 3386-8655 e 0800-722-6001 e 150. A equipe oferece teleatendimento aos profissionais de saúde, diagnóstico e identificação de animais peçonhentos e plantas tóxicas.
Além disso, a CCZ realiza vistorias em locais com infestação de animais peçonhentos e oferece canais de contato para a população pelos telefones (67) 2020-1796, (67) 2020-1802 ou (67) 3313-5000, e pelo WhatsApp (67) 2020-1796.
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