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Cotidiano

Centro de reciclagem no Dom Antônio surgiu para acolher catadores que corriam riscos no antigo lixão

O trabalho, imprescindível para o meio ambiente e saúde pública, é realizado por cerca de 140 catadores de materiais recicláveis
Jennifer Ribeiro -

Todos os dias a rotina se repete na UTR (Unidade de Triagem de Resíduos) de : os resíduos sólidos são separados, acondicionados e vendidos. O trabalho, imprescindível para o meio ambiente e saúde pública, é realizado por cerca de 140 catadores de materiais recicláveis, no extremo sul da Capital, na região do Lageado, bairro Dom Antônio Barbosa.

Desde 2015, a estrutura da Unidade permite que os catadores trabalhem com dignidade e segurança, mas nem sempre foi assim. Gilda Macedo, presidente da Atmaras (Associação dos Trabalhadores de Materiais Reciclados dos Aterros Sanitários de ) relembra que a entidade foi criada em 2008 para representar os catadores de recicláveis que trabalhavam havia anos no lixão.

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Na época, a montanha de lixo passava de 10 metros e o local atraia centenas de famílias que tiravam seus sustentos da catação de resíduos recicláveis, em meio aos detritos gerados pelos campo-grandenses. O trabalho era insalubre e políticas públicas precisavam ser pensadas para os catadores que trabalhavam no local.

“Hoje a gente trabalha em um local com sombra, né? No lixão, ficávamos expostos ao sol, à chuva, fumaça, pois às vezes pegava fogo. Não tínhamos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). Agora, temos essa estrutura, temos o barracão… A mudança é grande”, pontua.

Cooperado na UTR de Campo Grande (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Precariedade no lixão

Em 2011, uma fatalidade expôs a vulnerabilidade enfrentada pelas famílias que viviam ali: um menino, de apenas 9 anos, morreu soterrado por toneladas de lixo após um deslizamento. Isso chamou a atenção da população para os problemas sociais e ambientais que o lixão englobava, mas que já consistia em ação judicial para fechamento do espaço e construção de aterro sanitário que seguisse normas técnicas.

Então, em 2012, com a Prefeitura de Campo Grande implementando a coleta seletiva na cidade, campo-grandenses passaram a contar com coleta porta a porta e com os LEVs (Locais de Entrega Voluntária), ativos até hoje. A iniciativa visava acabar com o lixão da cidade, demanda que deveria ser cumprida no final daquele ano, com a inauguração da UTR. No entanto, a obra só foi entregue em agosto de 2015.

O fim das atividades do lixão afetaram economicamente aqueles trabalhadores, mas a UTR surgiu com o fim de absorvê-los. Mesmo enfrentando resistência, as cooperativas surgiram. Quando deixaram o lixão, o grupo cadastrou outros três CNPJs e se dividiram em três:

  • Coopemaras (Cooperativa de Catadores de Materiais Reciclados dos Aterros Sanitários de Mato Grosso do Sul);
  • Cata-MS (Cooperativa de Catadores de Materiais Reciclados da Usina de Triagem de Resíduos Sólidos);
  • Coopernovo Horizonte (Cooperativa de Catadores de Materiais Reciclados).

Com uma estrutura e melhores condições de trabalho, os recicladores puderam aumentar a produção e, consequentemente, o faturamento. “Hoje fazemos a triagem de 600 toneladas de resíduos e, embora 40% seja descartado por contaminação, nosso salário melhorou muito”, frisa Gilda.

Desafios atuais

Em julho, o Midiamax visitou a estrutura de trabalho das cooperativas. Segundo Daniel Arguello Obelar, presidente da rede de cooperativas do Estado, apesar de desempenharem um trabalho tão importante, ainda existe invisibilidade profissional, inclusive, do poder público. Alguns aspectos devem mudar para melhorar a qualidade de vida e o trabalho dos cooperados.

“No Brasil, temos situações de cooperativas que não recebem acima de um salário. Aqui temos um planejamento e conseguimos atingir acima de um salário, mas ainda falta o poder público olhar pra gente e pagar pelo serviço prestado. É uma pauta que estamos há 15 anos lutando. Prestamos um serviço para o município, mas não recebemos por isso. Se não estivéssemos aqui, uma empresa estaria. E ela estaria recebendo por isso”, pontua.

Além disso, as próprias cooperativas, com o valor que arrecadam na venda dos materiais, pagam pela manutenção dos equipamentos, da água, dos equipamentos de segurança e cursos. “Se tivéssemos o pagamento de um salário da Prefeitura, conseguiríamos investir mais, valorizar os cooperados; muitos pagam aluguel aqui. Inclusive, esta é uma pauta que temos tratado. Futuramente, queremos que eles tenham uma “.

O assunto já está em discussão. A reportagem procurou a Prefeitura para saber o andamento da solicitação dos cooperados. O espaço segue aberto para manifestações futuras.

Resíduos sendo separados na UTR (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Recebimento e separação dos resíduos

Atualmente, os caminhões da Solurb chegam à UTR todos os dias, bem cedo, e descarregam os resíduos sólidos na parte superior do prédio. Cada cooperativa tem seu espaço. A primeira etapa do trabalho consiste em abrir caixas, sacos e sacolas e separar os materiais recicláveis daqueles que não terão essa destinação. Tudo fica separado em montes.

Em seguida, os cooperados colocam os materiais recicláveis nas esteiras, montadas na parte térrea do prédio. Cada cooperativa tem a sua. Neste setor, as mulheres avaliam item por item: os materiais em condições de reciclagem vão para sacos acoplados na base da esteira. Já os inviáveis são separados e levados pela equipe da Solurb até o aterro sanitário.

Quando os sacos ficam cheios, os cooperados levam os materiais depositados para a prensa. Nesta etapa, colocam-se pequenas quantidades nas máquinas, que comprimem todo o resíduo. A granel, eles são amarrados e colocados em contêineres. Após esse processo, os recicláveis estão prontos para a negociação e venda.

Materiais chegam à área aberta da UTR e cooperados fazem a separação manualmente. (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Venda dos materiais

O lucro é relativo, já que o preço do material reciclável oscila muito e quem dita é a indústria. Há épocas em que as fábricas não demandam material, assim, mesmo que haja muito resíduo na UTR, as cooperativas não conseguem um valor tão expressivo. Por outro lado, quando o valor do material aumenta devido à alta demanda da indústria, o número de resíduos na unidade cai, porque catadores independentes também passam a recolher mais nas ruas. Como qualquer setor, há desafios.

“Eles vão se superando a cada ano. Essa organização que você vê, com corredores livres de recicláveis, organização em cada etapa, isso não acontece em todos os lugares. Esses dias recebemos uma visita de Dubai, chegaram em mim e falaram: ‘Olha, estão de parabéns pela organização, porque tem lugares no Brasil que você não consegue passar nos corredores, de tanta coisa jogada’. Um rapaz que estava de treinamento andou por aqui e ficou surpreso com a limpeza e organização. E isso implica no trabalho deles. Quanto maior a ordem, maior a organização, melhor será para eles trabalharem”, pontua Wellington Costa, coordenador da UTR pela Solurb.

(Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Consciência ambiental

Para contribuir com o trabalho dos catadores de recicláveis — e com o meio ambiente — é simples: basta separar o lixo que produz. Para isso, em sua casa, considere descartar lixos orgânicos (molhados) em sacos marrons e lixos inorgânicos (secos) em sacos verdes.

No site da Solurb, você confere um mapa de rota e identifica o dia em que o caminhão da coleta seletiva passará em cada bairro e rua. Assim, é só deixar os materiais inorgânicos na calçada da sua residência, que a destinação correta acontecerá.

Vale pontuar que conferir o dia e a hora que o caminhão passará é importante para garantir que cães e gatos não rompam as embalagens, por exemplo. Coloque o material apenas no dia da coleta. Confira o mapa clicando aqui.

Fala Povo: Midiamax nos Bairros

A história dos bairros de Campo Grande é tema do Fala Povo: Midiamax nos Bairros. Ao longo desta semana, reportagens especiais vão apresentar aos leitores aspectos históricos, indicadores socioeconômicos, demandas populares e peculiaridades das diversas regiões de Campo Grande, culminando com programa ao vivo no sábado. Quer ver seu bairro na série? Mande uma mensagem para (67) 99207-4330, o Fala Povo, WhatsApp do Jornal Midiamax! Siga nossas redes sociais clicando AQUI.

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