Cada vez mais raras no cenário urbano de Campo Grande, as bancas de revista enfrentam uma redução no número de clientes que ainda buscam jornais e revistas impressos. Muitas tiveram que fechar as portas, e seus espaços, ocupando tradicionalmente calçadas no centro da cidade, foram rapidamente substituídos por lojas de capas e películas para celular.
Percorrer o centro da cidade revela que as bancas de revista se tornaram somente uma lembrança para quem costumava frequentá-las em busca de publicações impressas, álbuns de figurinhas e livros. Algumas ainda resistem, como a Banca Central, localizada na Rua Marechal Rondon.
Durante a visita da reportagem do Jornal Midiamax, em aproximadamente dez minutos, clientes apareceram para comprar revistas de passatempos e cigarros, que também são comercializados no local. “Hoje, o que mais vende são as palavras-cruzadas”.
“Durante a pandemia, como as pessoas não podiam sair de casa, recorreram muito a esse tipo de passatempo. Até hoje, é o produto mais vendido nas bancas. Mas ainda temos um público fiel para as revistas de super-heróis e mangás, mais voltadas para adultos. São produtos que ainda vendem bem, principalmente entre colecionadores”, afirmou Jorge Sone, proprietário da banca.

Para Sone, as bancas de revistas estão caminhando para a extinção.
“A maioria dos jornaleiros são antigos, e muitos vão se aposentando e fechando suas bancas, como aconteceu com várias aqui na cidade. Além disso, a crise também pesa muito. Para você ter uma ideia, durante a pandemia, várias editoras fecharam as portas e faliram. Muitas revistas deixaram de ser publicadas. Aqui, por exemplo, um dos nossos produtos mais fortes era a revista de artesanato, mas desde a pandemia ela não é mais distribuída. O mesmo aconteceu com outros títulos que saíram de circulação”, explicou.
Clientela fiel resiste
Apesar dos desafios, ele mantém a banca funcionando, impulsionado pela lealdade de sua clientela. “Ainda tenho muitos clientes fiéis, que mantêm essa tradição. Construímos boas amizades ao longo dos anos. Isso cria uma clientela fiel. O mais importante para mim são as amizades que construí. Tenho muitos clientes que se tornaram amigos ao longo dos anos. Acho que isso é o que mais vale a pena”, disse.
Com a queda no número de clientes e o aumento dos custos, Sone optou por alugar parte do espaço para a instalação de uma loja de acessórios para celular, dividindo a área com o tipo de comércio que dominou as antigas bancas de revistas na cidade.

Algumas bancas, no entanto, seguiram caminhos diferentes. No cruzamento da Rua Marechal Rondon com a Rua 13 de Maio, uma banca foi transformada em um ponto de venda de açaí, buscando atrair clientes entre os transeuntes do centro da cidade. No mesmo cruzamento, outras duas bancas oferecem acessórios para celular e assistência técnica.
Dieber Romero Stuart, proprietário do Açaí do Stuart, destaca que a localização privilegiada contribui para o sucesso do negócio. “Quando consegui esse espaço, fiz uma pesquisa de mercado para entender melhor a região e vi que o centro tem muitas bancas vendendo capas e películas para celular. Quis trazer algo diferente e pensei em explorar o clima da região, com o segmento de produtos gelados, como açaí, sorvete e picolé, pois achei que teria boa aceitação”, explicou.
Além disso, ele observa que o aluguel de uma banca pode ser mais vantajoso do que alugar um imóvel comercial convencional. “Muitas vezes, não compensa alugar um imóvel tradicional por conta do valor. Neste espaço, o custo é mais acessível. Para mim, aqui está sendo vantajoso, temos um bom retorno e estamos conseguindo alcançar nossos objetivos. Ainda há muito para crescer, mas posso dizer que vale a pena”, afirmou.

Apostam na renovação de leitores
Apesar do declínio no número de bancas e na rentabilidade do negócio, ainda há quem aposte na continuidade e inovação. Giovani Viegas, da Banca Elite, investe na diversificação da oferta de revistas, incluindo publicações de autores locais, e no uso das redes sociais.
“Minha primeira iniciativa, há cerca de 15 ou 16 anos, foi começar a trazer quadrinhos regionais para a banca. Passei a conhecer ilustradores e roteiristas locais e comecei a acolher e vender os quadrinhos produzidos aqui. Depois, expandimos para os quadrinhos nacionais. Esse foi o primeiro passo. Mais tarde, entramos nas redes sociais — Instagram, TikTok, Facebook”, disse Giovani.
A queda no número de leitores preocupa, mas as bancas ainda atraem públicos variados.
“Meu público é bastante variado. Pessoas acima dos 40 anos costumam focar mais em palavras-cruzadas, embora alguns jovens também comprem. Os mangás têm um público amplo, que vai de 8 a 60 anos. Já os quadrinhos, especialmente os de super-heróis como Marvel e DC, me preocupam um pouco, porque não está havendo renovação de leitores. São poucos os jovens e crianças que se interessam, e o público tem sido majoritariamente adulto, acima dos 30 anos”, relatou o proprietário da banca, localizada na Rua Maracaju, próximo ao cruzamento com a Rua 13 de Junho.
Com o fechamento de muitas bancas, as que permanecem ativas se tornaram pontos de encontro para colecionadores.
“Na minha banca, os sábados são os dias de maior movimento. O pessoal vem não só para comprar, mas para se encontrar, conversar, trocar figurinhas e debater sobre cultura nerd. Coloco mesas para que possam interagir, e isso mantém o espaço vivo”, afirmou.

Sobre o futuro das bancas, ele acredita que elas continuarão existindo, mas de maneira mais segmentada. “Acredito que as bancas se tornarão um nicho, mas ainda teremos uma longa trajetória até que o público seja totalmente digital. As pessoas ainda gostam muito da leitura física e continuam frequentando as bancas”, completou.
Sim, a procura ainda existe
Enquanto a reportagem conversava com Giovani, uma cliente entrou na banca e adquiriu dois exemplares de gibi da Turma da Mônica, a publicação de histórias em quadrinhos de maior circulação no país. “Comprei para os meus filhos. Eu gosto muito de ler para eles, justamente para incentivá-los. Como são bem ilustrativos, ajudam nesse processo. Escolhi da Turma da Mônica por serem nacionais, para incentivar a leitura com algo que faz parte da nossa cultura”, disse Tatiana.
Ela conta que, desde criança, mantém o hábito de frequentar bancas de revista. “Eu e meus irmãos colecionávamos álbuns de figurinhas. Toda semana saíam figurinhas novas, então íamos à banca com frequência. Um dos álbuns que colecionamos com muita dedicação foi o do Guinness World Records. Ele era lançado semanalmente, e íamos sempre à banca comprar as novas edições”, recordou.
Atuando no local há mais de 20 anos, Giovani observa sua clientela mudar de gostos e hábitos, mas sempre mantendo a leitura presente.
“Acho incrível acompanhar a trajetória dos clientes, ver alguém que começou comprando gibis aqui quando era jovem, criar um vínculo de amizade, acompanhá-lo crescer, casar e, anos depois, atender os filhos dele. Isso acontece com vários clientes e é algo muito especial para mim. É muito gratificante ver essa continuidade ao longo dos anos”, disse.
Mais do que simples estabelecimentos comerciais, as bancas de revista que resistem em Campo Grande se tornaram pontos de encontro para aqueles que ainda valorizam a leitura e as publicações impressas.
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