Dados do Portal da Transparência do CRC (Centro de Registro Civil) mostram que o AVC (Acidente Vascular Cerebral) matou um brasileiro a cada 7 segundos em 2024. Foram 84.878 óbitos no ano passado. Já de 1º de janeiro até 5 de abril de 2025 – última atualização disponível – 18.724 pessoas morreram vítimas da doença.
Em MS, os números seguem alarmantes: somente de 1º de janeiro deste ano até 3 de abril, os dados contabilizam 217 mortes por AVC no Estado. Ao longo de 2024, foram 772 óbitos em decorrência do derrame, como AVCs são popularmente conhecidos.
Além dos números preocupantes, especialistas sustentam que muitas mortes poderiam ser evitadas por meio da prevenção dos fatores de risco. Neurologista e presidente da Rede Brasil AVC, Sheila Martins explica que, embora a doença seja a segunda principal causa de mortes registradas no país, o AVC pode ser driblado com a prevenção de outras doenças.
Segundo a especialista, diferentes estudos desenvolvidos sobre o tema apontam que comorbidades como hipertensão, diabetes, colesterol elevado, fibrilação arterial, obesidade, depressão, estresse, além de hábitos como tabagismo, sedentarismo e alimentação inadequada elevam exponencialmente as chances de acontecer um derrame.
“Se tratados, os fatores modificáveis podem reduzir em até 90% os casos de AVC. Portanto, a principal prevenção é reconhecer quais são os fatores de risco de cada um e tratar. Começar atividade física, por exemplo, é um protetor enorme. Além disso, a pessoa deve ter uma alimentação mais saudável, não exceder no uso de álcool e não fumar. Essas são algumas prevenções que ajudam muito. O problema é que algumas pessoas sequer reconhecem seus fatores de risco”, frisa.
Influência genética também conta
Apesar de os fatores de risco se destacarem, existem outras condições que favorecem o AVC. “A questão genética influencia. Pessoas pretas têm mais probabilidades. Os homens são as principais vítimas até certa idade. Após os 80 anos, o quadro muda e as mulheres passam a ser mais propensas a desenvolver um AVC”, afirma.
Outro fator, ainda não explicado, intriga os especialistas. Pessoas saudáveis, incluindo crianças, também podem ser vítimas de AVC. “Ele ocorre principalmente em pessoas acima de 65 anos, mas pode acometer pacientes sem comorbidades, jovens e até mesmo crianças. Não é comum, mas pode acontecer. Infelizmente, esses são os casos que não conseguimos prevenir”, observa.

Giovanni, caso raro de AVC aos 10 anos
No início de 2025, um caso raro chamou a atenção de especialistas em Campo Grande. Em janeiro, aos 10 anos, Giovanni Barbosa de Souza sofreu um AVC pela dissecção da artéria carótida – que ocorre quando há uma separação da artéria, provocando redução ou bloqueio do fluxo sanguíneo para o cérebro.
A professora Wilma Karla Fonseca, mãe de Giovanni, relata à reportagem que, até então, não havia nenhum caso de AVC na família e que seu filho sempre foi saudável. No dia em que ela viu a vida mudar completamente, o menino estava na casa dos padrinhos e brincava.
“Foi bem repentino. Ele estava brincando e, de repente, minha comadre percebeu que ele estava se desequilibrando e quase caiu no chão. Ele chegou a bater o joelho, mas ela conseguiu segurá-lo. Nesse mesmo momento, ele já não respondia, não falava. Ela tentou dar um pouco de água para ele tomar, mas o líquido escorreu. Ela teve ideia de verificar a pulsação e percebeu que estava fraca e decidiu levá-lo logo para o hospital. Essa decisão foi crucial porque o socorro, atendimento e diagnósticos rápidos contam muito para a recuperação”.

Wilma conta que, quando chegou ao hospital para ver o filho, os médicos já tinham o diagnóstico. “O pediatra que o recebeu foi muito pontual e assertivo, mas a notícia foi um choque para mim porque ele é uma criança de 10 anos. Cheguei e ele não me reconheceu. A sensação que tive é de que fomos atropelados por várias informações. Naquele momento, não conseguíamos entender direito o que estava acontecendo. Ainda estamos buscando respostas para a causa”, relata.
Vida nova, nova rotina
Desde o diagnóstico, mãe e filho mudaram completamente a rotina. “Nossa vida virou de ponta a cabeça. Ele ficou 4 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e depois permaneceu no hospital. Foram duas semanas de internação. Ele passou por vários exames e foi muito bem assistido. Tem uma equipe toda empenhada na recuperação dele. Eu pedi afastamento do trabalho e hoje me dedico 100% aos cuidados do meu filho. Temos uma rotina intensa com fisioterapias, fonoaudiologia, psicóloga, terapeuta ocupacional, além das medicações e dos exames. Fazemos tudo em busca de uma causa e da melhor recuperação”.
Quatro meses depois, Giovanni segue a rotina de reabilitação associada às tarefas que já faziam parte do cotidiano da família. Wilma diz que o filho frequenta a escola, o reforço escolar e participa das aulas de natação. “Tentamos levar uma vida normal e, ao mesmo tempo, com toda essa rotina de terapias”, comenta.
Sobre as sequelas do AVC, Wilma confirma que o processo continua, mas enquanto isso, comemora as evoluções do filho. “A plasticidade do cérebro de criança é incrível. Ele está quase de alta da fonoaudióloga. Ainda tem rigidez dos músculos e estamos trabalhando isso. Ele faz aplicações de toxina botulínica e tem desenvolvido outras habilidades”, celebra.
Quanto à recuperação, ainda não é possível pontuar. Porém, Wilma e Giovanni seguem confiantes. “O neurologista disse que o organismo é uma caixa de surpresas. Pode, ou não, recuperar 100%. Sinto que isso tudo aconteceu para provar que não temos controle de nada na vida. Somos ousados em fazer planos porque é Deus quem sabe de nossas vidas. Sei que há um propósito em tudo isso. Não podemos perder a fé e nem questionar. Temos que aceitar e fazer o que tem que ser feito”, diz.

Como identificar e o que fazer
A neurologista e presidente da Rede Brasil AVC, Sheila Martins, reforça que o quadro nem sempre apresenta sinais. “Na maioria das vezes, o acidente vascular cerebral é repentino”, destaca. No entanto, existem sinais que podem identificar o momento em que ele ocorre.
Em casos de suspeitas de um episódio de AVC, é possível fazer um teste simples, porém crucial, desde que feito imediatamente. “Chamamos de SAMU para facilitar a memorização. Nesse exame, bastante rápido, pedimos para que o paciente atenda a alguns comandos simples, mas que podem indicar se ele está ou não sofrendo um AVC”, explica.
Sorria: pedimos para que o paciente sorria para podermos verificar se vai apresentar alguma alteração, se a boca ficará torta.
Abrace: esse teste é para fazer com que o paciente eleve os braços e possamos avaliar se apresenta perda de força.
Mensagem: é importante verificar se o paciente consegue reproduzir uma frase simples, em caso de AVC pode haver dificuldade na fala.
Urgente: se o paciente não conseguiu atender a algum dos comandos solicitados, o próximo passo é ligar para o Samu (192) o mais rápido possível para direcioná-lo para um Centro Especializado de AVC, ou a algum pronto-socorro mais próximo.

Cada minuto conta
A frase pode parecer clichê, mas o tempo é determinante quando se trata dos danos cerebrais provocados por um Acidente Vascular Cerebral. Estudos mostram que quanto mais célere for a identificação de um AVC, mais rápida será a busca por atendimento e maiores as chances de recuperação. Conforme a especialista, a cada minuto de um AVC não tratado, 1,9 milhão de neurônios morrem.
“É muito importante que o atendimento ocorra o mais rápido possível. Em casos de AVC, cada minuto conta porque há a morte de 1,9 milhão de neurônios por minuto. Além disso, temos medicações que precisam ser administradas nas primeiras quatro horas e meia após o AVC. Tem outra medicação que podemos oferecer em até 24 horas, mas isso não é para todos os casos porque vai depender de quanto o paciente terá de cérebro saudável. Então, cada minuto conta”, enfatiza.
Centros de Atendimento para AVC
A médica observa que o tipo de atendimento oferecido ao paciente pode ser determinante e, por esse motivo, existem centros especializados espalhados pelo país. No site da Sociedade Brasileira de AVC é possível conferir a lista de hospitais brasileiros de referência.
Em Campo Grande, os atendimentos ocorrem nos seguintes locais:
Hospital Universitário Maria. Aparecida Pedrossian (público).
Endereço: Av. Sen. Filinto Müller, 355, Vila Ipiranga.
Santa Casa de Campo Grande (público e privado)
Endereço: Rua Eduardo Santos Pereira, 88, Centro.
Hospital da CASSEMS (privado)
Endereço: Avenida Mato Grosso, 5151.
PRONCOR (privado)
Endereço: sem confirmação sobre a unidade.
Hospital do Coração (privado)
Endereço: R. Mal. Rondon, 1703, Centro
Segundo informações do site da Sociedade Brasileira de AVC, Corumbá, Dourados, Ponta Porã e Três Lagoas também aparecem na lista de cidades que oferecem atendimento especializado. No entanto, não há informações sobre os locais. Confira a lista completa AQUI.
Riscômetro do AVC
O Riscômetro de AVC é uma ferramenta para avaliar o risco de AVC individual e identificar os fatores de risco individuais.
“Essa é uma ferramenta muito importante porque não há nenhum exame específico que a pessoa faça e que vá indicar se ela terá um AVC. O que existem são fatores de risco e esse aplicativo analisa exatamente isso. No Riscômetro, a pessoa vai preencher suas informações pessoais e a plataforma vai avaliar quais são os fatores de risco, além de orientar como a pessoa pode melhorar os fatores que são modificáveis e reduzir as chances de um AVC”, explica.
O aplicativo é gratuito e está disponível para download no Apple Store e no Google play
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