Após as denúncias de abuso e tortura em terreiros de Campo Grande, a Federação das Religiões dos Povos de Terreiro de Mato Grosso do Sul estuda a criação de um conselho de ética no Estado.
Desde o último fim de semana, dois homens que se autodeclaram como pais de santo foram denunciados na Capital. Um deles foi denunciado por ameaça de morte, assédio sexual e uso de drogas contra jovens e adolescentes, enquanto o outro religioso, por tortura contra duas mulheres.
Ao Jornal Midiamax, o presidente da Federação das Religiões dos Povos de Terreiro de MS/Federação Ajô Nilê, Deamir Ribeiro, esclareceu que os dois acusados não são pais de santo. Também ressaltou que a federação repudia os crimes.
Diante da repercussão dos casos, o presidente afirmou que está solicitando uma reunião de emergência para que possa criar um conselho de ética em Campo Grande e no Estado.
“Nós estamos solicitando uma reunião de emergência para montar um conselho de ética no município e no Estado. E deste conselho, pretendemos montar uma cartilha citando nossos direitos e deveres e incluir essas questões de ética e de obrigatoriedade que são universais”, informou Deamir.
O presidente ainda pontuou que, apesar do regimento interno de cada terreiro, existem regras que todos devem respeitar. “Tem terreiro que tem seu regimento interno próprio, mas existem regras que são universais, como essa questão do sacerdote. Para ser realmente um sacerdote, ele tem que ser ordenado por alguém”.
Deamir ressaltou ainda que a ideia da criação do conselho surgiu pela federação se preocupar em ajudar a própria sociedade.
Tortura e humilhação contra mulheres
Duas irmãs de terreiro de um centro de candomblé, em Campo Grande, procuraram a Deam nessa terça-feira (22) para denunciar um homem que se autodeclara como pai de santo. Em depoimento, uma delas contou que no dia 16 deste mês estava no terreiro onde ocorriam trabalhos espirituais.
Na casa, estavam sete filhas de santo, quando o acusado deixou as mulheres de pé por cerca de duas horas, sem que pudessem sentar. Ainda segundo o relato, durante o ritual passou a rodar uma garrafa de cachaça e as filhas de santo foram obrigadas a beber.
Conforme o relato, duas filhas de santo, sendo uma delas a esposa do pai de santo, foram obrigadas a ficar de joelhos por 1 hora segurando uma vela, como forma de punição. Durante todo o ritual, o pai de santo afirmava que as mulheres estavam proibidas de incorporar e quem fizesse “ia retirar na cabeçada até abrir a cabeça”.
Denúncia de abuso sexual contra adolescentes
Já no último sábado (19), outro homem que se autodeclara pai de santo foi acusado de drogar e abusar sexualmente de três jovens e dois menores de idade em um terreiro. As denúncias foram feitas na Depac Centro (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário), em Campo Grande.
Conforme consta no boletim de ocorrência, no dia 12 deste mês, uma das vítimas passou a frequentar outro terreiro e convidou dois amigos para acompanhá-la. Ao ficar sabendo, o pai de santo teria entendido que a jovem retirou os amigos da antiga casa; então, ele ameaçou a vítima de morte.
Diante da ameaça, a jovem decidiu procurar uma delegacia para registrar os abusos que teria sofrido enquanto frequentava o antigo terreiro. Conforme o relato dela, o pai de santo passava a mão no corpo da jovem, teria entrado no banheiro enquanto ela tomava banho e teria publicado em suas redes sociais xingamentos e ameaças contra ela.
A vítima ainda disse que o autor teria cometido os mesmos crimes contra os seus amigos. E, segundo o pai de santo, ele estaria passando a mão, pois ‘seu guia estava agindo nele’.
Ainda durante o registro, a jovem relatou que o autor comprava drogas, oferecia a menores de idade e, após eles estarem desorientados, o suspeito cometeria estupro.
Adolescente teve braço cortado a mando do pai de santo
Nessa quarta-feira (23), novas denúncias do mesmo caso chegaram ao Jornal Midiamax. À reportagem, foi relatado que um adolescente sofreu um corte no braço a mando do pai de santo. O homem teria alegado que o corte seria um pacto.
“Ele estava bebendo e falou para dois menores de idade que seria feito um pacto. Então, mandou outro menino — que frequentava o terreiro — fazer esse corte nos outros. Ele falou que era apadrinhamento de algo da religião, que não tem nada a ver”, diz o denunciante.
Após a denúncia, o pai de santo pediu ajuda aos filhos para defendê-lo. “Filhos, vou precisar da ajuda de vocês para defender o pai ‘num’ b.o que os meninos estão arrumando pra mim”, escreveu. Logo, surgiram mensagens em tom de ameaça de agressões a uma das vítimas, nos grupos de WhatsApp.
Depois, o acusado passou a pedir dinheiro para contratar um advogado para lhe defender. Ele estaria mobilizando as pessoas em um grupo de WhatsApp para arrecadar cerca de R$ 2 mil.
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