Ano mais quente desde 1961, 2024 reforça avanço do aquecimento global no Brasil
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Levantamento feito pelo Inmet (Instituto Nacional de Metereologia) comprovou que 2024 foi o ano mais quente registrado no Brasil desde 1961. Apesar da influência do El Niño durante os últimos dois anos, a ação humana tem culpa no cartório.
Ao que tudo indica, os termômetros devem permanecer nas alturas ao longo deste ano: para se ter uma ideia, no último mês, Porto Murtinho (MS), a 439 km de Campo Grande, foi a cidade mais quente do Brasil em diversos dias ao longo do mês.
Além disso, a tabela de Climatologia Aplicada da USP (Universidade de São Paulo) prevê que a sensação térmica na capital sul-mato-grossense pode chegar a até 61°C no dia 25 de fevereiro, próxima segunda-feira.
Em um contexto mundial, o planeta registrou aumento de 1,75 °C acima do nível pré-industrial no último mês. Para os lados de Mato Grosso do Sul, o Pantanal registrou um aumento da temperatura de 2,2°C nos últimos 84 anos em 2024. O aumento da temperatura global é perigoso e acende um alerta, pois pode chegar a um ponto irreversível, se tornando até impossível a existência da humanidade.
Impactos
Ao longo de 2024, o Rio Grande do Sul passou pela catástrofe das cheias e inundações, enquanto o Pantanal pegava fogo. O professor da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e doutor em física ambiental, Thiago Rangel, afirma que as ações humanas desempenharam um papel importante nas mudanças climáticas.
O aquecimento global está relacionado principalmente pela queima de combustíveis fósseis e desmatamento. Para o cenário de clima escaldante, soma-se o fenômeno El Niño.
“No Brasil, a combinação desses fatores com eventos como o El Niño tem intensificado extremos climáticos, como secas severas, ondas de calor e incêndios florestais. Esses eventos estão mais frequentes e intensos, alinhando-se com a chamada emergência climática global”.
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Seca
Mas 2024 não foi apenas um ano quente, ele também foi seco. Estiagem intensa do último ano foi a maior já registrada no Brasil. E isso ocorreu em decorrência do aumento da temperatura que mexe com os ciclos climáticos naturais.
Ou seja, as chuvas se tornam mais extremas e as secas mais severas, o que torna o ambiente propício para o proliferação de incêndios.
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“A seca intensa de 2024 deixou cerca de um terço do território nacional em condições críticas, agravando a perda de biodiversidade, a degradação do solo e a escassez hídrica em diversas regiões. Da mesma forma, a cidade de Campo Grande foi impactada pelas baixas umidades no período seco de 2024, atingindo índice de quase 8% de umidade relativa do ar, índice comparado ao de desertos”, explica Thiago.
E já na primeira quinzena de fevereiro, MS registrou chuva abaixo da média histórica. Campo Grande registrou valor 5% abaixo do esperado.
Plantio
As mudanças climáticas também impactam o setor econômico, com exceção do mês de abril, todos os meses de 2024 registraram chuvas abaixo da média prevista. Dados da Aprosoja-MS (Associação dos Produtores de Soja de MS) indicam que houve piora nas condições das lavouras de 2024 para 2025.
De acordo com os dados, em janeiro de 2024, 90% das lavouras estava em boas condições, 7% em condições regulares e apenas 3% em condições ruins. Porém, a porcentagem de lavouras em condições regulares e ruins mais que dobrou no mesmo período de 2025, seno 20% e 18%, respectivamente.
Com base na avaliação semanal feita pela Aprosoja, cerca de 1,750 milhão de hectares estão afetados pelo estresse hídrico, representando 40% da área total. Além disso, 31 municípios do Estado estão com a produção abaixo da média estadual estimada.
A região de plantio mais afetada é a do sul (sudoeste e sul-fronteira) do Estado. Foram 30 dias de seca moderada, com poucas chuvas variando entre 1,4 mm e 66,6 mm, e 10 dias de seca severa, sem precipitações.
Desigualdades também aumentam
Com o avanço do aquecimento global as desigualdades ficam em evidência. As populações mais vulneráveis, especialmente as de baixa renda, são as mais impactadas.
“No Brasil, comunidades que vivem em áreas sujeitas a enchentes, secas ou incêndios florestais enfrentam maiores dificuldades para se adaptar e recuperar. Por exemplo, as chuvas históricas que causaram enchentes no Rio Grande do Sul em 2024 ilustram como eventos extremos podem desestruturar famílias e economias locais, agravando desigualdades sociais já existentes”, explica o doutor em física ambiental.
Como apontado, as mudanças climáticas impactam o setor de produção alimentícia. Assim, o aquecimento global também gera problemas de fome.
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“Mudanças no regime de chuvas e no clima podem comprometer a segurança alimentar, especialmente em regiões que dependem da agricultura de subsistência. No Brasil, pequenos agricultores e comunidades indígenas enfrentam desafios crescentes para produzir alimentos em meio a um cenário de chuvas irregulares, longas secas e degradação do solo”, comenta Thiago.
Neste fevereiro, o ovo foi uma das proteínas que subiu de preço. Segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), o aumento nos custos tem relação com as altas temperaturas que afetam a produtividade das aves e geram consequências na oferta dos produtos
O calorão que as pessoas enfrentam mais forte a cada ano também gera riscos à saúde. Assim, torna-se necessário fazer uso de produtos diários, como protetor solar, que há alguns anos eram utilizados apenas em certas ocasiões, como ir a praia ou piscina. O que gera um impacto também no bolso.
E aquelas pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade e não possuem acesso a produtos que protegem a pele ficam, além de tudo, mais suscetíveis a doenças, entre elas o câncer de pele. Elas também são impactadas pelo aumento no preço do setor alimentício.
Caso antigo
Os efeitos do aquecimento global ficam mais evidentes a cada ano que passa, mas a elevação da temperatura é um caso antigo que começou com o uso dos combustíveis fósseis durante a revolução industrial no século XVIII.
“Quando a gente começou a queimar mais combustíveis fósseis, a aumentar a emissão de gás carbônico, fez com que o aumento da concentração desses gases contivesse mais o calor dentro do planeta. Esse calor contido faz com que a gente tenha um aumento da temperatura global e o Brasil não está livre disso. Então todas as emissões, não só do Brasil, mas como de todo o planeta, principalmente da queima de combustíveis fósseis, faz com que a gente tenha essa maior concentração de gases de efeito estufa e consequentemente o aquecimento do planeta”, explica Alexandre de Matos Martins Pereira, pesquisador da UFMS e analista ambiental do Ibama/Prevfogo.
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O desmatamento também é uma das grandes causas do aquecimento global, juntamente com as queimadas que contribuem para a emissão de gases de efeito estufa. Assim, para frear os avanços da mudança climática é preciso pensar em políticas governamentais e empresariais, como explica Alexandre.
“É preciso pensar as soluções a nível governamental e empresarial. As indústrias podem ajudar trocando-se a matriz energética baseada na queima do petróleo. É preciso fazer valer as políticas de redução, de contenção do desmatamento das florestas, porque elas são responsáveis pela absorção desse carbono, do gás carbônico da atmosfera. Transformando isso em biomassa, a gente consegue ter o que eles chamam de sumidouros de carbono, retirando esses gases da atmosfera e bloqueando, ou concentrando eles, transformando eles em biomassa”, comenta.
A solução parte de você
Mas existem atitudes individuais também que repercutem coletivamente. A substituição dos carros com motores à combustão por veículos elétricos ajuda na redução da emissão de gases. Além disso, o uso de transporte coletivo ou bicicletas também é uma decisão que ajuda a diminuir o aquecimento global.
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Reduzir o consumo também é um ponto importante nessa trajetória. “A gente não precisa de tudo aquilo que a gente quer e que a gente adquire. Essas coisas todas em uma escala individual podem transformar essa consciência individual em algo maior, onde haja uma redução geral do consumo pelas pessoas”, afirma Alexandre.
Outras atitudes que podem ser tomadas envolvem o uso dos três Rs, reduzir, reutilizar e reciclar. Aumento do uso de produtos biodegradáveis, como embalagem de plástico, são decisões individuais que em conjunto geram um impacto mais positivo para o planeta.
A moda circular e a adesão aos brechós também ajudam na causa, afinal o Atacama, no Chile, possui um lixão de roupas que pode ser visto do espaço.
E se não mudar?
Se uma mudança não acontecer as coisas tendem a piorar cada vez mais. O analista ambiental do Ibama conta que os prognósticos feitos por cientistas há algum tempo estão se concretizando e de maneira mais rápida do que o esperado.
“A gente já tem observado os prognósticos, e já temos uma estabilidade climática muito grande, com chuvas intensas num período muito curto, provocando alagamento, deslizamento, grandes catástrofes ambientais, como a gente viu aí no Rio Grande do Sul”, explica Alexandre.
Em contraponto das inundações, algumas partes do país sofrem com a seca extrema. Um exemplo disso é o Pantanal. Em períodos de seca, as matas ficam mais suscetíveis a incêndio e seus alastramentos, o que atinge fortemente a fauna e a flora do ambiente.
Pantanal
Dados do Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), indicam que reduziu em 20,81% a quantidade de hectares do Pantanal de Mato Grosso do Sul destruídos por incêndios florestais em 2024.
As queimadas fizeram muitos animais de vítimas, alguns foram resgatados e depois de meses de tratamento voltaram para a natureza. Como a onça Miranda. Ela foi resgatada em agosto de 2024 com as patas queimadas devido aos incêndios. Em setembro, voltou ao habitat natural e dados comprovam que ela tem tido uma boa adaptação.
Consequências
As ondas de calor têm se tornado mais longas, o que acarreta problemas de saúde. Pessoas que já possuem alguma comorbidade ou são mais sensíveis acabam sofrendo com o clima seco e quente.
“O Cerrado e a Amazônia enfrentam um futuro ainda mais árido, com a extensão das estações secas e uma maior vulnerabilidade aos incêndios e à degradação ambiental. Essas mudanças colocam em risco ecossistemas inteiros e a subsistência de populações locais que dependem desses biomas”, alerta Thiago.
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Em concordância com Thiago, Alexandre confirma que as projeções indicam que os períodos de seca sejam cada vez mais duradouros. Isso junto com o calor faz com que os incêndios se propaguem com facilidade e destruam biomas.
“Com os incêndios existe mais emissão de carbono para a atmosfera e esse processo se retroalimenta, então a gente entra num ciclo vicioso bastante perigoso. Quanto mais incêndio, mais carbono é lançado para a atmosfera, mais carbono lançado para a atmosfera, maior o efeito estufa, maior o aquecimento global, maiores as mudanças climáticas que acabam provocando mais incêndios”, comenta Alexandre.
Saúde
A temperatura normal do corpo humano é entre 36,5°C e 37°C. Ela se torna crítica a partir de 42°C. Acima desse valor, a pessoa pode apresentar falências em diversos órgãos. Sofrendo risco iminente de morte.
No entanto, o ser humano possui mecanismos que ajudam a refrescar o corpo. Entre eles, o suor. Por isso, mesmo com altas temperaturas, a pessoa consegue sobreviver, ao menos no tempo mais seco. Pois em locais com alta umidade relativa do ar a transpiração é ineficiente, o que aumenta o risco de hipertemia (quando o corpo está em temperatura muito elevada) fatal.
Além disso, quanto mais altas as temperaturas, maior a chance de outros problemas aparecerem. Entre eles estão: confusão mental, edema cerebral e maior risco de AVC.
Sem chance de volta
O aquecimento global é causador do derretimento das calotas polares. Com isso, o nível do mar aumenta e os países litorâneos ou que são ilhas ficam expostos a esse aumento, o que deixa toda a população vulnerável. Além disso, o derretimento afeta até a rotação da terra, que está desacelerando a velocidade de rotação. A consequência disso é que, nos próximos anos, a população deve perder um segundo de seu tempo.
Para evitar que uma catastrófe sem precedentes tome conta do planeta é preciso agir. “A emergência climática não é apenas um desafio ambiental, mas também um problema social e econômico. É responsabilidade coletiva de governos, cientistas e da sociedade como um todo trabalhar para frear o avanço do aquecimento global e proteger o futuro das próximas gerações”, afirma Thiago.
E para que as próximas gerações tenham um futuro de fato, é necessário que medidas sejam tomadas com urgência, enquanto ainda dá tempo de mudar.
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