Há dois dias do início da aplicação do ‘tarifaço’ imposto pelo presidente estadunidense Donald Trump sobre os produtos importados do Brasil, setores da economia calculam as possíveis perdas decorrentes da decisão, que inicialmente aumentaria para 50% a taxa imposta sobre todos os produtos advindos do território brasileiro. No entanto, a expectativa inicial de um impacto severo na economia brasileira foi amenizada após a divulgação de uma lista de isenções que abrange centenas de produtos.
Os Estados Unidos são destino de cerca de 12% das exportações brasileiras e, neste sentido, a decisão alarmou todos os setores da cadeira produtiva, das mais variadas categorias, que viriam a ser impactados, com risco calculado inclusive de recessão e perda de postos de trabalho.
No ínterim entre o comunicado e a assinatura do decreto, Trump voltou atrás e decidiu deixar de fora de sua ordem executiva um total de 694 produtos, que mantiveram tarifa de 10%, já aplicada atualmente de forma recíproca entre os países.
Desta forma, ficaram de fora do tarifaço o suco e a polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis, incluindo seus motores, peças e componentes. Também ficaram de fora do tarifaço produtos como polpa de madeira, celulose, metais preciosos, energia e produtos energéticos e fertilizantes.
No entanto, café, frutas e carnes, que possuem grande volume de exportação para os EUA, não estão entre as exceções aplicadas e serão taxados em 50%, sendo 10% pré-existentes, com 40% de aumento.
Segundo Caio Megale, economista-chefe da XP, durante live que repercutiu os impactos da tarifa, a estimativa é de que 42% das exportações brasileiras para os norte-americanos estejam na lista de exceção. Com isso, o efeito negativo inicialmente estimado em 0,30 ponto percentual do PIB foi reduzido para cerca de 0,15 ponto percentual.
Além disso, Megale destacou que há possibilidade de os EUA anunciarem uma atualização na lista de exceção, incluindo novos produtos e diminuindo ainda mais o impacto do ‘tarifaço’ na economia brasileira.
Qual o impacto nas ‘onças’?
Mato Grosso do Sul é um estado considerado uma ‘onça’ no cenário econômico. O termo foi cunhado em alusão aos tigres asiáticos, que lideraram o crescimento daquele continente na segunda metade do século XX.
No caso brasileiro, é o grupo de estados que apresentam um conjunto de fatores como desenvolvimento econômico consistentemente acima da média nacional, elevado IDH, eficiência governamental e estabilidade institucional. Além de MS, são consideradas ‘onças’ os estados: Mato Grosso, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul.
Neste sentido, a aplicação de uma taxação de 50% sobre a importação dos EUA de produtos brasileiros impactaria ainda mais a economia destas localidades. Isso porque as ‘onças brasileiras’ exportaram, em 2024, cerca de US$ 159,6 bilhões, dos quais 9%, ou US$ 14,4 bilhões, tiveram como destino o mercado norte-americano, o que representa 36% das exportações totais realizadas pelo Brasil para aquele país, que somaram US$ 40,36 bilhões no ano de 2024.
Com a isenção de 694 produtos, as preocupações dos setores político e econômico arrefeceram em parte. Em Mato Grosso do Sul, uma das indústrias que não sofrerão impacto pela nova tarifa será a da celulose, que cada vez possui maior participação no PIB estadual. Atualmente, MS responde por 31,9% da exportação brasileira de celulose para os EUA, totalizando U$ 213 milhões em 2024.
Outros produtos de destaque para a exportação de MS que foram taxados foram açúcar (exportou U$ 20 milhões em 2024) e couro (U$ 10 milhões em 2024).
Já no caso do ferro manufaturado e do aço, que exportaram U$ 124 milhões em 2024, os produtos ficaram na lista de isenções, mas já possuíam, anteriormente, taxa de 50%, e, desta forma, nada muda para esta categoria de produto.
Por outro lado, a carne bovina segue na lista dos produtos ‘taxados’ e pode sentir impactos. Neste ano, MS já exportou U$ 282 milhões para os EUA, respondendo por 42,1% do total anual. Neste sentido, produtores e entidades representativas buscam alternativas para manter a estabilidade da cadeia produtiva.
Mercado da carne busca adaptação
O estado de MS já completa quase três semanas de suspensão da exportação de carne bovina aos Estados Unidos em decorrência da taxação. Frigoríficos do Estado, entretanto, não registram redução na produção e seguem vendendo para o mercado interno e externo.
A afirmação é do vice-presidente do Sincadems (Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul), Alberto Sérgio Capucci. Segundo o especialista, não há expectativa de retorno dos compradores norte-americanos diante do tarifaço; entretanto, o mercado segue estável.
A produção deve ter como destino novos mercados ou crescimento de mercados já existentes, como China, Chile e países do Oriente Médio. Dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) indicam que a China concentra 49% do total embarcado de carne bovina pelo Brasil.
Segundo o presidente da associação dos frigoríficos de MS, Regis Comarella, novos mercados podem ser abertos. “A gente está procurando os mercados, na expectativa do Japão, também, que está para abrir. Acho que é um pouquinho mais demorado, porque vai ter que ter auditoria nas plantas, mas é um mercado que está sentindo bastante”, disse.
Mesmo diante das dificuldades impostas pelo tarifaço, Comarella garantiu que os frigoríficos de MS não falam sobre demissões ou paralisação dos abates.
Em caso de a alternativa ser procurar novos mercados, o total deve ser de quase 50 mil toneladas de carne que terão novo destino. Isso porque Mato Grosso do Sul exportou 49,6 mil toneladas do produto para os Estados Unidos, o que totalizou R$ 1,3 bilhão (ou US$ 235 milhões) de carne bovina no período. Os dados estão disponíveis no sistema Agrostat, do Governo Federal.
Senadores de MS nos EUA
Na última quarta-feira (30), encerrou-se a missão oficial de comitiva de senadores brasileiros, incluindo o presidente da missão, Nelsinho Trad (PSD-MS), e Tereza Cristina (PP-MS).
O grupo esteve nos EUA para abrir caminhos diplomáticos e tentar adiar o início do tarifaço. O tarifaço deve se iniciar na quarta-feira (6).
Em relação aos resultados obtidos na viagem, confira nota oficial do grupo sobre o tarifaço:
“A missão oficial do Senado Federal brasileiro aos Estados Unidos exerce uma função institucional e suprapartidária, com foco na reaproximação parlamentar com o Congresso americano e na busca de alternativas para barrar os impactos econômicos da tarifa de 50% anunciada ao Brasil.
Todas as agendas da delegação foram voltadas à reconstrução do diálogo político entre os dois Parlamentos e à defesa dos interesses estratégicos do país em meio ao agravamento das tensões comerciais. A programação foi inteiramente voltada ao campo da diplomacia parlamentar”.
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