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Cotidiano

15ª vítima de feminicídio: morte de Eliana expõe vulnerabilidade de mulheres no interior de MS

Lourenço Xavier confessou o crime e está preso preventivamente; Eliana é a 11ª vítima no interior de MS
Lethycia Anjos, Thatiana Melo -
Resgate ocorrido no Pantanal. (Divulgação, CBMMS)

A morte de Eliana Guanes, 15ª vítima de feminicídio neste ano em Mato Grosso do Sul, ganhou novos desdobramentos com o depoimento de Lourenço Xavier, de 54 anos, feminicida confesso. A mulher, de 59 anos, teve o corpo incendiado na sexta-feira (6), na região pantaneira da Nhecolândia, em Corumbá. O caso expõe a urgência do combate à violência contra a mulher, especialmente em regiões isoladas, onde há limitações no acesso à Justiça e a redes de apoio. Neste ano, 11 vítimas residiam em cidades do interior de MS.

Eliana foi socorrida em estado gravíssimo por uma equipe do Corpo de Bombeiros, que precisou do auxílio de uma aeronave devido à dificuldade de acesso à fazenda, agravada pelos alagamentos na região. A vítima chegou à Santa Casa de Campo Grande sem sinais vitais e teve morte confirmada às 23h30 de sexta-feira. Conforme o laudo médico, ela teve queimaduras de 2º e 3º graus em 90% do corpo.

Lourenço foi preso no mesmo dia por equipes do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) enquanto se escondia em uma fazenda vizinha, após fugir da cena do crime, ocorrido na Fazenda São Paulino, onde ambos trabalhavam. Conforme o boletim de ocorrência, o autor estava dormindo em um alojamento usado por trabalhadores rurais, mas não ofereceu resistência à prisão.

15° feminicídio em MS

feminicídio corumbá
Capataz foi preso por equipe do Bope. (Diário Corumbaense)

No depoimento prestado à polícia, Lourenço confirmou ter jogado gasolina sobre Eliana e ateado fogo utilizando um cigarro aceso. Ele negou qualquer tipo de relação amorosa com a vítima. No entanto, investigações apontam que o crime teria como motivação a rejeição a uma proposta de relacionamento. Segundo ele, o ataque ocorreu depois de uma discussão no momento do crime, reflexo de desentendimentos anteriores com a vítima.

“Disse que foi ele que jogou a gasolina e o cigarro que fumava para que acendesse o fogo na Eliana”, narra o boletim. O autor relatou ainda que ficou ‘desorientado’ após o ato e fugiu para a fazenda vizinha, onde contou aos responsáveis o que havia feito e declarou que queria se entregar à polícia.

O caso está classificado como feminicídio, uma vez que a motivação envolve o menosprezo à condição de mulher da vítima. É importante destacar que esse tipo de crime não exige, necessariamente, a existência de uma relação amorosa ou familiar entre autor e vítima. O delegado Filipe Araújo Izidio Pereira, responsável pela investigação, ressaltou os elementos que caracterizam o crime.

“Mesmo sem relação íntima ou familiar, o crime motivou-se pelo menosprezo à condição de mulher da vítima. Isso que caracteriza o feminicídio”, destacou o delegado em entrevista ao Diário Corumbaense.

A Polícia Civil confirmou que Lourenço possui antecedentes por ameaça, furto e violência doméstica. Ele foi preso em flagrante, e o pedido de prisão preventiva deve ocorrer após audiência de custódia.

Testemunha tentou evitar o crime

Delegado Jean Castro, da 1ª Delegacia de Polícia de Corumbá, esclareceu que o crime teve como motivação as desavenças entre a vítima e o autor.

“Fomos até o local para realizar o exame pericial e ouvir algumas testemunhas. Interrogado, o autor afirmou que mantinha conflitos com a vítima, que ela falava mal dele, e alegou que não ter premeditado o crime. Ele informou ainda que utilizou combustível destinado às roçadeiras da fazenda para cometer o crime”, relatou o delegado.

Uma testemunha descreveu que Eliana estava sentada quando Lourenço se aproximou por trás e despejou o combustível sobre ela. Assustada, a vítima tentou fugir, mas o autor a perseguiu. A testemunha ainda tentou impedir a ação segurando Lourenço pelo cinto, mas ele se desvencilhou, alcançou Eliana e ateou fogo em seu corpo.

Feminicídios registrados em MS em 2025

  • Karina Corim (Caarapó) – 4 de fevereiro
  • Vanessa Ricarte (Campo Grande) – 12 de fevereiro
  • Juliana Domingues (Dourados) – 18 de fevereiro
  • Mirielle dos Santos (Água Clara) – 22 de fevereiro
  • Emiliana Mendes (Juti) – 24 de fevereiro
  • Gisele Cristina Oliskowiski (Campo Grande) – 1º de março
  • Alessandra da Silva Arruda (Nioaque) – 29 de março
  • Ivone Barbosa (Sidrolândia) – 17 abril
  • Thácia Paula (Cassilândia) – 11 de maio
  • Simone da Silva (Itaquiraí) – 14 de maio
  • Olizandra Vera Cano (Coronel Sapucaí) – 23 de maio
  • Graciane de Sousa Silva (Angélica) – 25 de maio
  • Vanessa Eugênio Medeiros e a filha dela, Sophie Eugenia Borges (Campo Grande) – 28 de maio
  • Eliana Guanes (Corumbá) – 6 de junho

📍 Onde buscar ajuda em MS

Em Campo Grande, a Casa da Mulher Brasileira está localizada na Rua Brasília, s/n, no Jardim Imá, 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana.

Além da DEAM, funcionam na Casa da Mulher Brasileira a Defensoria Pública; o Ministério Público; a Vara Judicial de Medidas Protetivas; atendimento social e psicológico; alojamento; espaço de cuidado das crianças – brinquedoteca; Patrulha Maria da Penha; e Guarda Municipal. É possível ligar para 153.

☎️ Existem ainda dois números para contato: 180, que garante o anonimato de quem liga, e o 190. Importante lembrar que a Central de Atendimento à Mulher – 180 é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres em todo o Brasil, mas não serve para emergências.

As ligações para o número 180 podem ser feitas por telefone móvel ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive durante os finais de semana e feriados, já que a violência contra a mulher é um problema sério no Brasil.

Já no Promuse, o número de telefone para ligações e mensagens via WhatsApp é o (67) 99180-0542.

📍 Confira a localização das DAMs, no interior, clicando aqui. Elas estão localizadas nos municípios de Aquidauana, Bataguassu, Corumbá, Coxim, Dourados, Fátima do Sul, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.

⚠️ Quando a Polícia Civil atua com deszelo, má vontade ou comete erros, é possível denunciar diretamente na Corregedoria da Polícia Civil de MS pelo telefone: (67) 3314-1896 ou no GACEP (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), do MPMS, pelos telefones (67) 3316-2836, (67) 3316-2837 e (67) 9321-3931.

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