Tendência polêmica, paredes pretas predominam em igrejas evangélicas como atrativo para novas gerações

Entenda como tendência chegou ao Brasil, mudando o cenário gospel de Campo Grande

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Igrejas de paredes pretas são tendência polêmica no Brasil (Reprodução, Sara Nossa Terra)

Foi-se o tempo em que as igrejas evangélicas no Brasil estampavam em seus púlpitos paisagens com montes, cachoeiras e versículos bíblicos – pelo menos nessas que se declaram neopentecostais. Há mais de 6 anos, a tendência das paredes pretas tomou conta dos templos, dividindo a opinião entre aqueles que vêm a adaptação como uma atualização atraente às novas gerações, daqueles que encaram a tendência como heresia. “É a igreja imitando o mundo”, dizem.

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Mas, de onde surgiu essa tendência e como ela chegou ao Brasil? Bom, existe uma igreja australiana denominada Hillsong Church, que desde 1983 influencia igrejas do mundo todo. Inclusive, muitas músicas gospeis famosíssimas dos anos 2000, cantados por bandas como Diante do Trono – fundada pelo patriarca da família Valadão -, são versões dos louvores cantados por Hillsong United, banda originada no templo australiano.

Acontece que essa igreja sempre teve os jovens como público-alvo, e muito antes de virar moda no Brasil, ela, e igrejas dos EUA, já eram adeptas das paredes pretas, criando aquela atmosfera de show. Bebericando mais uma vez das “águas gringas”, André Valadão, pastor de uma das igrejas mais influentes – e polêmicas – do país, a Igreja Batista da Lagoinha, trouxe a tendência para o Brasil. Não demorou para que outras denominações aderissem também.

Considerando a variedade de cores existentes, por que o preto?

Jodri Aquino, membro da igreja Sara Nossa Terra São Conrado, defende que as paredes pretas ultrapassam o mérito estético e dentro da atmosfera do culto, faz um sentido. Elas compõem um cenário versátil, que, somadas aos jogos de luzes, propiciam um ambiente alegre para os cultos de celebração, ou mais intimista, para que as pessoas possam cultuar da maneira que se sentem mais confortáveis.

“Pensando dentro dessa lógica, por exemplo, tem pessoas que gostam muito de ir lá na frente, tem pessoas que gostam muito de orar com os amigos, tem pessoas que gostam muito de ficar no seu lugar, mais quietinho, de um ponto de vista mais intimista. Então, para haver essa liberdade nos momentos do culto, essa é uma estrutura que facilita muito mais”, pontua.

“Isso vem acompanhado também de uma forma de comportamento. É uma atualização para que a gente consiga falar com as novas gerações. A gente não consegue usar a mesma comunicação que nós usávamos há 20, 30 anos, onde o contexto do Brasil era completamente diferente, onde o contexto de Campo Grande também era completamente diferente”, acrescenta.

A tendência que atrai as novas gerações

Contra-argumentando quem acredita que a cor preta faz analogias ao ocultismo, ou não passa de uma imitação daquilo “que o mundo oferece”, Jodri pontua que atualizar o formato em que as celebrações são apresentadas é necessário para atrair novos membros, principalmente das gerações mais novas.

“É um ponto muito delicado, porque muitas pessoas podem entender que nós estamos mudando o formato de apresentar Jesus para ser mais tragável para o jovem de hoje em dia. E essa não é a realidade. O tempo vai passando e a gente vai adequando a linguagem de acordo com as gerações que vão surgindo”, explica.

Jodri explica que quando se converteu, há 14 anos, as igrejas não tinham as paredes pretas e nem os modelos de lideranças que existem hoje em dia. Porém, conforme os jovens foram integrando a igreja, passaram a perceber que o modelo ministerial precisava se atualizar à medida que novas gerações iam surgindo.

“Não é só uma questão estrutural, é uma questão de como nós organizamos as nossas equipes, de como nós organizamos o nosso culto, de como nós precisamos ter dinâmica na hora da palavra para aquele jovem não ficar disperso. Vale salientar que essas mudanças não são para agradar os jovens. Elas são um ponto de contato para que a gente consiga alcançá-los, até porque, a palavra de Deus é imutável. Se a gente se mantém em um linguajar mais culto, se a gente se mantém em uma abordagem mais antiga como era, a gente não consegue alcançar esses jovens”, exemplifica.

Pilares principais devem ser mantidos

Conforme o pastor da Igreja Evangélica Avivamento Bíblico, Jocemiro A. Silva, embora prefira as cores mais tradicionais que preservam o ambiente mais claro, as paredes pretas colaboram para fotos de qualidade – já que hoje as redes sociais são ferramentas usadas para atrair novos membros – para a acústica do ambiente e garante menos distração dos fiéis.

Independentemente da cor, o mais importante é preservar os pilares principais, como a fé e a conduta, tradições de leitura da palavra, oração de confissão, louvores cristocêntricos e a palavra ministrada pelo pastor.

“Você pode usar esses elementos de forma criativa, fazer uma liturgia que torne o culto inspirador. Antes tínhamos umas liturgias muito frias, onde as pessoas tinham algumas dificuldades de se adaptar a ela. As questões de liturgias foram sendo alteradas com o tempo, tornando o ambiente de culto muito mais agradável. As estruturas dos templos também mudaram e tudo isso se tornou mais atrativo para que as pessoas entrassem, ouvissem a palavra de Deus e permanecessem. Então eu acho que nesse sentido a gente evoluiu a parte estrutural, a parte intelectual de nossos pastores. Isso tem que ser considerado”, pontua.

“Você pode hoje visitar uma igreja que é mais tradicional, você pode hoje visitar uma igreja que é dita neopentecostal, você pode hoje visitar um templo que tem uma parede branca, um templo que tem vitral, um templo que tem a parede preta, mas o conteúdo do Evangelho, a palavra que está sendo ministrada ali, ela precisa ser uníssona, ela precisa ser preservada conforme as escrituras”, finaliza Jodri.

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