Entre 2012 e 2022, a população de Campo Grande ganhou 92,7 mil habitantes, porém, a estruturação física do Samu não evoluiu para atender às demandas dos moradores da Capital. A realização de manutenções inadequadas ao longo dos anos, consequência de falta de gestão, contribui para o sucateamento da frota e desassistência à população. É o que revela auditoria do Ministério da Saúde divulgada nesta semana.

Relatórios de auditorias federais de 2012 e 2023 mostram problemas que se repetem, principalmente em relação à gestão do serviço de transporte e assistência de saúde a pacientes. Com o passar dos anos, fica evidente que o Samu de Campo Grande está cada vez mais longe de prestar assistência em até 10 minutos após a chamada, conforme preconiza o Ministério da Saúde.

A partir de 2012, o Samu de Campo Grande realizou o processo de regionalização, que passou a atender sete regiões de Mato Grosso do Sul. Mas em 8 anos, de 2014 a 2022, o número de ambulâncias permaneceu praticamente o mesmo, sendo 10 unidades de suporte básico e aumentou em apenas uma unidade móvel avançada e duas motolâncias.

Outro problema que se repete há dois anos, é a falta de recursos suficientes para o custeio da estrutura do Samu de Campo Grande. Auditoria de 2012 a 2014 mostra prejuízo de R$ 356 mil, cenário que piorou com o tempo, já que auditoria de 2022 e 2023 aponta que faltou R$ 1,8 milhão para cobrir as despesas de custeio que incluem folha de pagamento, material hospitalar, manutenção e conservação e outros.

Em Campo Grande, o Ministério da Saúde está custeando as ambulâncias, mas a prefeitura alega que fica sobrecarregada devido ao alto custo das manutenções necessárias. A Prefeitura solicitou à pasta federal mais ambulâncias ou o repasse para aquisição por conta própria, mas não teve retorno. Além disso, o Município está em processo licitatório para alugar esse tipo de veículo.

“[…] os repasses para custeio das viaturas não são suficientes para realizar também essas manutenções que são onerosas, e essa é uma realidade que não atinge somente Campo Grande, mas sim todos os municípios que possuem o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU)”, diz nota da Sesau.

Falta de gestão e sucateamento

Superintendente do Ministério da Saúde em Mato Grosso do Sul, Ronaldo Costa, afirma que comparando as duas auditorias, tendo 8 anos para correção de anormalidade, se constata pela repetição da iatrogenia que não existe gestão adequada para fazer com que o Samu atinja o seu objetivo.

“Chegar com a equipe adequada, com todo o suporte material e medicamentoso, em no máximo 8 minutos, para possibilitar para o paciente todo suporte básico ou avançado, capaz de lhe garantir chance de vida. São 8 anos entre uma e outra auditoria, e erros se repetem”, afirma o superintendente de saúde.

Conforme relatórios, das 10 ambulâncias USB, cinco doadas pelo Ministério da Saúde e cinco adquiridas pelo município, 4 ambulâncias USA existentes foram doadas pelo Ministério da saúde e das 4 motolâncias, duas foram doadas pelo ministério e duas adquiridas pelo município.

O Ministério da Saúde fixa o número de ambulâncias do Samu conforme a população e, para Campo Grande, o ideal são 4 Unidades de Suporte Avançado (UTI com médico e enfermeiro); 20 Unidades de Suporte Básico; mais os carros reserva que são utilizados quando os outros estão em revisão que devem ter prioridade na oficina (inclusive em contrato) porque atendem às necessidades emergenciais.

“O Município que não fez o cuidado adequado não comprou novas ambulâncias. Se não manter sua frota funcionando adequadamente, as pessoas vão perder sua chance de vida. Isso é uma irresponsabilidade sanitária”, alertou o superintendente Ronaldo Costa.

Ambulância do Samu (Marcos Ermínio, Jornal Midiamax)

Com menos ambulâncias, moradores padecem

A auditoria federal no Samu de Campo Grande mostrou que falta manutenção adequada nas ambulâncias e 8 delas estão ‘baixadas’, ou seja, sem condições de atendimento. Com esse envelhecimento da frota, tem aumentado anualmente o tempo de espera da população por atendimento do Samu.

Entre setembro de 2021 e fevereiro de 2022, o tempo-resposta médio era de 23 minutos e 15 segundos, chegando a espera de 23 horas e 44 minutos. O tempo piorou com o passar dos meses e, entre março e agosto de 2022, relatório aponta tempo-resposta médio de 25 minutos e 47 segundos.

Entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023, o tempo de resposta médio aumentou ainda mais, chegando a 29 minutos e 5 segundos. A auditoria explica que a média pactuada no Programa Anual de Saúde de 2022, foi de reduzir de 22 para 19 minutos o tempo de espera médio por atendimento, 10 minutos a menos do que o encontrado em Campo Grande.

Atualmente, o suporte do Samu conta com uma central Samu Atendimento Móvel de Urgência, 4 unidades de suporte avançado, 10 unidades de suporte básico e duas unidades de motolâncias. Porém, são 8 ambulâncias e duas motolâncias ‘baixadas’.

A auditoria afirma que apesar de contrato de manutenção vigente, as manutenções nos veículos não têm ocorrido em tempo hábil, gerando danos ao atendimento. Além disso, há ambulâncias sem manutenção adequada e sem seguro patrimonial, indo contra o que estabelece o Ministério da Saúde.

Em um dos casos, a auditoria cita um veículo que permaneceu em manutenção, sem ter o problema resolvido por 176 dias. Há ainda muitos danos estruturais nos veículos, como defeitos em sirenes, giroflex, assoalho, pneus, macas, pedal de freio e outros. Conforme a auditoria, todas as ambulâncias estão com ar-condicionado danificado.

Faltam profissionais, remédios e equipamentos

Dos 26 medicamentos obrigatórios para as ambulâncias de suporte avançado do Samu, a auditoria encontrou falta de 6 medicamentos e de materiais e equipamentos obrigatórios como estetoscópio infantil, bandagens e protetores para queimados.

A auditoria encontrou ainda deficit de profissionais atuando no Samu de Campo Grande, sendo que falta um médico assistencial em ambulância e um técnico auxiliar de regulação médica na central de regulação médica durante o dia. Há ainda divergência nos dados dos profissionais informados.

A auditoria federal encontrou outros problemas, como a falta de plano para atendimento a catástrofes, desastres e atendimentos a múltiplas vítimas, conforme regulamentação. E falta de adequações estruturais físicas das unidades do Samu de Campo Grande.

É possível concluir, segundo o relatório, que o Samu de Campo Grande tem limitações importantes para o atendimento dos usuários, principalmente no que se refere à quantidade de ambulâncias e à quantidade de manutenções corretivas nos veículos.