Sindicato mantém decisão e ônibus devem parar na segunda-feira, em Campo Grande

Motoristas do Consórcio Guaicurus pedem reajuste salarial de 8%, mas empresa ofereceu 4%

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Passageira enviou imagem do ônibus lotado no final da noite desta quarta (Fala Povo)

Em meio a impasses, motoristas do Consórcio Guaicurus confirmaram nesta sexta-feira (22) a paralisação no transporte público prevista para a próxima segunda-feira (25). A categoria reivindica 8% de reajuste e melhorias nas condições de trabalho.

O impasse se deu após quatro reuniões, que resultaram em uma recomposição salarial máxima de 4%. Conforme Demétrio Ferreira, presidente do STTCU (Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano), neste ano, a situação tem se arrastado sem diálogo entre as partes.

“Nosso objetivo é forçar o Consórcio Guaicurus a voltar a conversar com a gente com proposta, com aumento de proposta. Já fizemos quatro reuniões com eles e as quatro reuniões ficaram nos 4%”, explica.

‘Existem ônibus com mais de 20 anos’

Embora o novo Relatório de Monitoramento dos Índices de Desempenho, com referência de agosto a outubro de 2024, tenha classificado o transporte coletivo da Capital como ‘excelente’, profissionais que lidam diariamente com o transporte público denunciam inúmeras irregularidades e o sucateamento das frotas

No documento que analisou o serviço de transporte público realizado pelo Consórcio Guaicurus, 6 de 11 índices receberam classificação máxima, enquanto os demais ficam entre ótimo e bom.

Contudo, um ex-funcionário que preferiu não se identificar afirma que pediu demissão após sofrer ameaça e coação por parte do Consórcio Guaicurus. Ele ressalta que convivia diariamente com a precariedade do transporte, tendo que dirigir veículos com mais de 20 anos.

“Há muita gambiarra, muitos ônibus com faróis estragados, bancos quebrados, luz de freio e elevadores com gambiarra. Existem ônibus com mais de 20 anos, idade do meu filho. A empresa ainda culpa os motoristas, qualquer coisa já nos ameaçam”.

Segundo ele, na última semana diversos motoristas pediram demissão devido às más condições de trabalho e a falta de diálogo com a empresa.

“Somos humilhados. Você pega um atestado por causa de dores na coluna, aí eles colocam em uma escala onde não tem jeito de fazer extras, prejudicando e condicionando a receber um salário muito baixo”, diz.

Sucateamento fez ‘Príncipe do Consórcio Guaicurus’ abandonar sonho

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Weslei deixou de trabalhar no Consórcio Guaicurus após o desgaste (Arquivo pessoal, Fala Povo Midiamax)

No início deste mês, Weslei Conrado Moreli, mais conhecido como “Príncipe do Consórcio Guaicurus”, viralizou após postar desabafos sobre o sucateamento do transporte público e as más condições de trabalho.

O vídeo ganhou repercussão e até o apelo de passageiros que lamentavam a premissa da demissão do trabalhador ao falar sobre o quarto veículo que apresentava problemas no dia 23 de outubro, em uma subida da Rua 13 de Junho, na linha 061.

Weslei conta que chegou ao limite da exaustão ao notar as reclamações e cansaço dos passageiros. Ele se explicava dizendo que o veículo não tinha forças para subir o trecho íngreme. “Ele não vai, é um carro novo. Estou ‘esguelhando’ esse carro para vocês conseguirem chegar em casa”, dizia aos passageiros.

“Naquele dia, o primeiro carro que peguei quebrou a correia do motor. Orientei os passageiros sobre o ocorrido, dei todo o suporte, liguei na garagem e pedi a troca. O carro seguinte não tinha forças suficiente; pedi a troca. No outro e no outro a mesma coisa. No último era uma subida, o carro quase voltou. Temos horários para cumprir. O estresse foi muito grande”, relembra.

No mesmo dia, Weslei decidiu pedir demissão e abandonar a profissão na cidade. Agora, deve mudar-se do Estado para outro em que acredita na maior valorização do trabalhador na categoria.

Tarifa de ônibus subiu 10 centavos em 2024

Em março de 2024, a Prefeitura de Campo Grande, por meio da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos), publicou no Diário Oficial o aumento do passe de ônibus. O valor que era de R$ 4,65 foi para R$ 4,75, um aumento real de 10 centavos para os usuários do transporte público.

A publicação homologa o reajuste tarifário do serviço de transporte coletivo, em meio a disputa judicial entre a Agereg e o Consórcio Guaicurus. O diretor-presidente da Agência, Odilon de Oliveira Júnior, publicou nesta quinta-feira o reajuste.

Assim, conforme a publicação, a Agereg apurou o reajuste para 2024 após consulta ao Conselho Municipal de Regulação e Controle Social no percentual de 2,94%.

Por isso, fica homologado o percentual para reajuste tarifário, ficando o valor para os usuários de transporte coletivo a R$ 4,75. Já para órgãos públicos da administração direta e indireta o valor é de R$ 5,95.

Sobrecarga e baixos salários

A ‘debandada’ dos motoristas do Consórcio Guaicurus se intensificou após a demissão do diretor da Viação Cidade Morena, Leonardo Constantino Meneghin, após 16 anos no cargo. Na época, o Jornal Midiamax mostrou que motoristas homenagearam o colega em letreiros dos ônibus.

Os motoristas do Consórcio Guaicurus recebem salário de R$ 2.749, mais vale-gás a cada dois meses e R$ 250 de ticket alimentação por mês. Com a demissão do diretor e oferta de vagas no setor de celulose com condições melhores, muitos motoristas decidiram deixar a empresa.

Com a saída de funcionários, quase que diariamente, os motoristas que ficam foram autorizados pelo Consórcio Guaicurus a fazer diárias e estão sendo consumidos pela sobrecarga. Há relatos de motoristas saindo do trabalho a meia-noite e iniciando novamente a jornada antes das 5h.

Lucro milionário

Em meio a uma série de ações na Justiça alegando dificuldades econômicas, o Consórcio Guaicurus faturou R$ 195.645.188,20 no período de um ano, entre março de 2023 e abril de 2024. As informações constam em documento da Agetran (Agência Municipal de Trânsito) a que o Jornal Midiamax teve acesso.

Dessa forma, uma das maiores brigas dos empresários detentores de contrato de R$ 3.441.716.248,00 para explorar o transporte público de Campo Grande é o aumento da tarifa técnica, que está, atualmente, em R$ 5,95 para R$ 7,79. Esse é o valor que a concessionária quer que o município pague por usuário – feito por meio de subsídios.

Então, tabela da Agetran, de monitoramento da demanda transportada, aponta que são cerca de 2,3 milhões de bilhetes vendidos ao mês. Portanto, esse quantitativo rende uma média de R$ 163 milhões mensais ao Consórcio.

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