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Cotidiano

‘Senti que minha cabeça ia explodir’: Período pré-vestibular em MS pode causar adoecimento em jovens

Psicóloga escolar revela que pressão excessiva desencadeia o desequilíbrio emocional
Karina Campos -
vestibular
Vestibular 2025 (Ilustrativa, Freepik)

“Eu senti que minha cabeça ia explodir. Ao mesmo tempo, que me esforçava para me sair bem nas provas do pré-vestibular, eu acreditava que falharia e seria uma vergonha para minha família, que tanto investiu em mim. Já dormi várias vezes com a cara no livro e precisava acordar cedo para a escola; era tempo integral e cursinho à noite. No fim de semana, já me senti culpada por estar me divertindo em vez de estar estudando.”

O relato de Giovana* é mais comum do que se pensa entre os jovens que estão no período de estresse pré-vestibular em Mato Grosso do Sul, com a rotina de estudos intensificada no segundo semestre do ano devido à proximidade das provas. Contudo, a pressão pessoal, familiar e até dos professores pode desencadear o desequilíbrio emocional.

Atualmente, Giovana cursa Arquitetura na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Ela prefere anonimato, pois relata que o período de estudos pré-vestibulares foi um dos mais conturbados da sua vida. Aos 20 anos, a estudante relembra que, além da saúde mental, seu corpo dava sinais de que estava negligenciando o autocuidado.

“Teve um tempo em que minha mãe escovava meu cabelo porque eu acordava às 5h, tomava banho, comia e saía para a aula, voltando só depois das 22h. Minha mãe também passou a comprar vitaminas porque meu cabelo caía muito, eu tinha muitas espinhas e emagreci com facilidade. Para alguns parentes, a minha rotina de estudos e isolamento para dedicação era ‘chatice de adolescente’. Eu também me lembro que tinha muitas olheiras e perdia a concentração em conversas com meus pais por estar pensando em algo mais sério, como se eu ia conseguir entregar os trabalhos da escola e do cursinho.”

‘Tinha medo e insegurança’

João* enfrentou algo semelhante e percebeu que a pressão pré-vestibular desencadeou crises de ansiedade e piora no transtorno depressivo. Entretanto, ele acredita que essas situações incentivaram seu fortalecimento emocional e maturidade.

Atualmente, ele cursa Odontologia em uma instituição particular. Após ingressar na faculdade, ele descreve: “Parece que saiu um peso das minhas costas depois que entrei.”

“Durante o período do pré-vestibular, enfrentei uma experiência intensa e desafiadora. Logo após o ensino médio, ingressei em um cursinho, mas já estava acostumado com a pressão, pois meu ensino médio funcionava como um pré-vestibular contínuo. Apesar dessa preparação, o medo e a insegurança sobre o futuro eram constantes. Com apoio e perseverança, transformei esses sentimentos em motivação. Essa fase foi crucial para meu crescimento pessoal e acadêmico, moldando minha capacidade de enfrentar desafios e persistir, independentemente das adversidades”, conta.

João revela que a autocobrança era diária, principalmente por parte dos pais. Ele tinha acompanhamento psicológico do colégio durante o processo de estudos.

“Acredito que, ao mesmo tempo que me fortaleceu, desencadeou crises de ansiedade e piora no meu transtorno depressivo. Afastei-me de vários ciclos sociais, incluindo amizades, o que potencializou essa problemática.”

Pressão desencadeia problemas sérios

Natália Silveira, psicóloga escolar e orientadora vocacional, explica que a pressão excessiva dos vestibulares pode desencadear sérios problemas psicológicos e físicos nos estudantes, como ansiedade, crise de pânico, medo e sintomas depressivos.

O cenário de desequilíbrio emocional está ligado à cobrança excessiva de si mesmo devido a diversas questões externas, como a expectativa e cobrança da família e da sociedade pelo bom desempenho, futuro profissional, aprovação na prova, entre outros.

“Durante os atendimentos psicológicos, percebo que a maioria dos estudantes tem muito medo de decepcionar a família e medo da derrota. É comum apresentarem sentimentos de ‘insuficiência’ e ‘fracasso’. Então, essa pressão pode desenvolver patologias e consequências severas, como ansiedade, TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade), transtornos alimentares e depressão.”

A profissional aconselha que é injusto colocar essa pressão excessiva sobre si mesmo, pois a nota não define competência e o tempo é relativo para cada um. Existem estratégias para enfrentar esses desafios, como:

  • Planejamento de rotina e de estudos.
  • Rotina de sono ideal.
  • Boa alimentação.
  • Tempo de lazer, se possível.
  • Procurar atendimento psicológico e/ou psiquiátrico, caso haja necessidade.

“É importante também cuidar do estresse. Se você está em um ambiente estressante, a probabilidade de desenvolver ansiedade é muito maior. Ansiedade e estresse estão relacionados. Estresse é uma resposta emocional de perigo diante de uma situação. Se você deixa seu cérebro em estado de alerta e perigo, automaticamente fica preocupado com o que pode acontecer, ou seja, ansioso. Então, cuide do ambiente.”

Descanse a mente no período pré-vestibular

“Sempre gosto de dizer que o sono é primordial e o principal. Se você não dorme bem, seu córtex pré-frontal, responsável pela racionalidade, não funciona adequadamente. Então, você tende a ficar mais indisposto, estressado, com prejuízo na memória e aprendizado, além do fato de ter autoestima baixa devido à distorção de determinadas situações, porque sua racionalidade está reduzida. Isso pode levar a dores de cabeça, sonolência, entre outras questões.”

Portanto, focar em dormir durante oito horas completas é essencial. Reduzir as atividades noturnas evita deixar o cérebro em estado de alerta e perigo, o que, consequentemente, deixaria o estudante mais ansioso e dificultaria seu sono.

“Se a pessoa começar a apresentar sinais de um possível transtorno e sofrimento, é importante buscar um psicólogo e/ou psiquiatra para orientar sobre o que está acontecendo. As doenças mentais geralmente aparecem no início da adolescência, mas se na infância já começarem a apresentar alguns sinais, é importante ficar atento e buscar ajuda. Quanto mais cedo for o tratamento, melhor, pois assim se evita o agravamento do transtorno e o desenvolvimento de consequências mais sérias.”

*Giovana e João são nomes fictícios, pois os personagens preferiram anonimato.

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