Preço da carne está 8,62% mais caro em Campo Grande e não deve cair tão cedo; entenda
Conforme o Dieese, de setembro a outubro, a carne teve alta de 8,62%
Jennifer Ribeiro, Liana Feitosa –
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Comprar carne nos açougues brasileiros ficou mais caro neste fim de ano. Conforme os economistas, a tendência é que a alta permaneça nos próximos meses. Conforme o levantamento mais recente do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), de setembro a outubro, a alta do produto foi de 8,62% em Campo Grande.
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E essa alta, com certeza, já é sentida pelos consumidores. Em um açougue na Avenida das Bandeiras, encontramos o senhor Nilo, feirante na Feira Central. Ir ao açougue é uma tradição diária e todos os dias compra cerca de R$ 25kg. Quando perguntamos sobre o que ele acha do preço da carne, coloca as mãos na cabeça e dispara: “olha, nem me fala!”
A atendente da casa de carnes disse que ele compra muito ali, é realmente um cliente assíduo. Para o Midiamax, ele afirma que não tem como escapar dos ajustes, precisa da carne para servir para os clientes na barraca da feira.
Um dos atendentes do estabelecimento afirma que espera preços ainda mais caros no próximo mês. “É final de ano, o movimento aumenta e, com a baixa oferta de carne, os preços vão lá em cima. Eles aumentam justamente por isso, porque tem mais procura”.
Apesar da alta, comerciantes apostam nas festas de fim de ano para alavancar vendas
Com os reajustes semanais no preço, além dos consumidores finais, os comerciantes também sentem os impactos. Apesar disso, com a aproximação das festas de fim de ano e busca exponencial pelo produto, os empresários aguardam “uma melhora grande”.
“Como esse ponto existe há 46 anos, quem compra aqui é tradicional, geralmente. Temos muitos clientes antigos. E mesmo eles se surpreendem com a variação de preço”, explica Suellen Benites, proprietária da casa de carnes localizada na Rua 7 de Setembro.
Mas, segundo a comerciante, dá para driblar a variação de preço. “Por exemplo, você gosta de strogonoff. A gente pode te indicar o músculo, o patinho. Não precisa ser o filé mignon. ‘Ah, mas eu não gosto do músculo’, então vai patinho. Assim você vai driblando os ajustes de preço”, pontua.
Uma estratégia que a casa de carnes passou a usar foi o delivery pelo WhatsApp. Eles abriram um Instagram e também o atendimento pelo WhatsApp para facilitar as vendas, “maneira também de chamar cliente”.
O que motiva o aumento no preço da carne bovina?
O aumento tem um motivo, aliás, vários. Conforme Staney Barbosa Melo, economista do Sindicato Rural de Campo Grande, para entender o mercado atual, precisamos voltar para antes da pandemia, em 2019. Naquela época, a arroba do boi gordo, paga ao produtor, custava por volta de R$ 160/@. Porém, nos meses que se seguiram, o mercado deu um salto de preços, chegando a R$ 350/@, em 2022. Até então, este era considerado o melhor ano para a pecuária bovina no Brasil.
Este aumento, resultado da alta nos custos de produção da atividade e pelo contexto de maior demanda por alimentos durante a pandemia, causou um volume de retenção de fêmeas muito expressivo, tanto que muitos produtores acreditaram que aquele período de preços altos era a nova realidade do mercado de boi gordo no país.
Bom, não foi o que aconteceu. A partir de abril de 2023, o preço do boi gordo iniciou uma trajetória de queda que jogou os preços para os mesmos patamares do início da pandemia, com cotações abaixo de R$ 200/@. Assim, se 2022 foi o melhor ano do mercado para os produtores, 2023 foi o pior.
“Estes produtores compraram seus insumos na alta e tiveram que vender sua produção na baixa. Esse cenário de queda nos preços da arroba foi causado, portanto, por um excessivo descarte dessas fêmeas retidas anteriormente, assim como de seus bezerros nascidos”, explica o economista.
Escassez de oferta de carne
E é aí que chegamos em 2024. Com o preço da carne bovina operando abaixo do esperado, mas havendo uma oferta excessiva no mercado, em julho de 2024 o mercado do boi gordo passou a apresentar sinais de escassez de oferta. O resultado disso foi um recuo das escalas nos frigoríficos, de 10 dias de atividade, para 5 dias, patamares mantidos até hoje.
“Estamos agora em um momento do mercado cuja oferta não é suficiente para atender a demanda, e esse quadro deve perdurar pelo menos ao longo de 2025. Teremos um ano de preços altos para a carne bovina. Esse período de preços altos deve estimular um novo período de retenção de fêmeas, que lá na frente se traduzirá em preços mais baixos novamente. Essa é a natureza deste mercado, um mercado de ciclo longo, sujeito as intempéries e aos riscos do mercado”, pontua.
E tem outro agravante: as festas de fim de ano. Neste período, quando muitas famílias se reúnem para confraternizar, a demanda por carne bovina aumenta, o que sustenta as altas dos preços.
Câmbio, seca e exportação
Como já mencionado, são diversos os fatores que propiciam um cenário oscilante de preços neste mercado. Neste ano, um deles foi a estiagem que persistiu até outubro, como explica Andreia Ferreira, economista do Dieese.
Outro fator são as exportações. Segundo Staney, 2024 foi um ano de recordes de exportação de carne bovina. Com os preços baixos e pouca capacidade de absorção no mercado interno, muitos frigoríficos aproveitaram para exportar o produto a preços extremamente competitivos, dando vazão ao excesso de oferta que havia no mercado.
O câmbio também é um ponto a se considerar. Com a vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas e a possível materialização de práticas protecionistas – prometidas por ele durante sua campanha -, o mercado está antecipando um aumento generalizado de preços e custos em todas as áreas.
Conforme o economista, essas políticas protecionistas devem aumentar a inflação americana, que por sua vez deve produzir uma alta nos títulos públicos americanos. Como este é “o tesouro mais seguro do mundo”, essa alta de juros fará com que muitos capitais migrem para lá, aumentando a demanda por dólar e reduzindo a demanda por outras moedas.
“Isso fará com que outras economias também aumentem suas taxas de juros para tentar reequilibrar sua moeda, evitando importar a inflação gerada pelo dólar. Com isso, podemos esperar juros ainda maiores aqui no Brasil, com consequências no crédito e na capacidade de custeio e investimentos dos nossos setores econômicos, inclusive na produção pecuária”, explica.
Impactos em outros produtos
E é claro que a alta da carne impactará no preço de outras proteínas animais, afinal, o mercado baseia-se também na ‘oferta e procura’. Peixes, frangos e suínos, substitutos da carne bovina, em breve, terão impactos significativos.
“A demanda por essas outras proteínas aumenta e, consequentemente, seus preços também. Ademais, é preciso lembrar que toda essa conjuntura de dólar em alta, câmbio e outras variáveis também afeta esses outros mercados. Aliás, afeta praticamente todos os nossos mercados”, pontua.
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